Após tentar suicídio, brasileira xará da protagonista da série “Os 13 porquês” deu a volta por cima

Reprodução13 Reasons Why

Ela também se chama Hannah e sofreu violências parecidas com as vividas pela jovem de “13 Reasons Why” (“Os 13 porquês”), série que conquistou as redes sociais. A versão brasileira da personagem da trama do Netflix não chegou a listar 13 razões para cometer suicídio, mas tinha 13 anos quando tentou se matar pela primeira vez. Ela é homossexual, e não tem olhos azuis nem é o centro de um romance adolescente como a estrela da ficção, mas sofreu os mesmos estupro, assédio e bullying.

Essa violência está no centro de uma estatística que não para de crescer no Brasil: a do suicídio entre crianças e adolescentes. Dados do Mapa da Violência, elaborado pelo Ministério da Saúde, mostram que, entre 2002 e 2012, o número de suicídios na faixa etária de 10 a 14 anos aumentou 40%. Entre 15 e 19 anos, a incidência cresceu 33%.

A Hannah real, hoje com 21 anos, tentaria se matar em outras situações, movida por um sentimento profundo de “falta de esperança”, como ela própria define. Mas, diferentemente do enredo da série, conseguiu se reerguer. Encontrou acolhimento, fez faculdade e procura se manter longe dos pensamentos negativos.

No ano passado, a jovem decidiu que, dali para frente, agarraria-se ao que mais amava para sobreviver ao turbilhão de sentimentos que lhe tirava o ar. Focou na faculdade de Psicologia e no sonho de conhecer o mundo. Hannah também deixou para trás os ambientes em que não se sentia aceita, como o antigo emprego e a casa da mãe:

— Não eram só os colegas da escola que riam de mim, minha família também. Hoje eu medito, faço terapia e trabalho num bom ambiente, porque o sentimento de suicídio vem de repente, então fico longe do que me faz mal.

A psicóloga Mônica El Bayeh diz que a psicoterapia oferece ferramentas para a superação de problemas que, durante uma crise, parecem não ter solução:

— Sempre teremos 13 razões para sofrer, mas teremos muito mais bons motivos para viver. É importante aprender a escolher lutar pela vida, pelo que há de bom.

Hannah, a estudante brasileira de 21 anos conta sua história:

“Sempre fui uma desajeitada social, e sinto que nunca fui aceita em minha família. Quando tinha 7 anos, contei para minha mãe que sofri abuso sexual. Ela afastou a pessoa de mim, mas também brigou comigo. A vontade de morrer começou aos 13 anos, quando meus pais se separaram. Senti um peso enorme de responsabilidade, porque cuidava da casa, das tarefas do meu irmão mais novo e de mim mesma. Minha mãe saía de casa no domingo logo cedo e nos deixava trancados. Eu só pensava que, se alguma coisa acontecesse, não teria como pedir socorro. Na escola, sofria bullying, era chamada de “cara da morte” ou “Dementador”, um personagem do filme “Harry Potter”, porque não era uma menina bonita. Na época, a psicóloga disse para eu não ligar (para os insultos), que ela não ligaria se fosse eu. Não tinha com quem falar, e aquilo passou a me matar.”

A série “13 reasons why” tomou conta da internet de um jeito avassalador, provocando discussões nas redes sociais sobre suicídio e como preveni-lo. Quando alguém decide tirar a própria vida, de quem é a culpa? A história, baseada no livro homônimo de Jay Asher, se passa duas semanas após a morte de Hannah Baker: a adolescente deixa, gravadas em 13 fitas cassete, as razões que a levaram a se matar. À medida em que Clay, amigo da jovem e um dos destinatários da fita, escuta o material, os espectadores têm acesso a uma dura realidade do universo adolescente, que envolve bullying, depressão, sexualidade, estupro, abuso de drogas, solidão e problemas familiares, entre outras situações.

Desde a estreia da série, os pedidos de ajuda ou conversa enviados por e-mail ao Centro de Valorização da Vida (www.cvv.org.br) aumentaram em mais de 100%. O telefone para pedir ajuda ou conversar é 141.

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