Não é de hoje que o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) se posiciona contra a demarcação de terras indígenas. Sempre que tem chance, apresenta um mapa feito pelos militares, nos idos de 1970, que mostra os principais recursos naturais sob o solo brasileiro. “Dentro de Roraima vocês acham tudo o que existe na tabela periódica. De A a Z.”
Apesar de falar de ouro, bauxita e diamante, o maior interesse do deputado, que tem crescido nas pesquisa de intenção de votos para as próximas eleições presidenciais, parece ser mesmo o nióbio, produto retirado de minerais e que, se misturado ao ferro, cria uma espécie de superliga, mais leve e resistente que o aço comum. É utilizado em gasodutos, turbinas, chassis de carros e até em foguetes espaciais e reatores nucleares.
De acordo com o deputado, o país deveria ter maior controle sobre as reservas do produto, cujas jazidas gigantes, segundo ele, não podem ser exploradas por estarem sob terras demarcadas em Roraima.
Na ânsia de defender a exploração do mineral, o ex-deputado chega a equivocar-se. “O nióbio vale mais do que o ouro”, disse em uma palestra no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, no início de abril.
Uma tonelada de nióbio, já transformado em liga, custa atualmente cerca de US$ 15 mil, enquanto a do ouro vale cerca de US$ 4,13 milhões.
Embora alegue que o país está deixando de ganhar dinheiro por causa da impossibilidade de exploração e culpe a existência de reservas indígenas por isso, o deputado desconhece um estudo do Serviço Geológico Brasileiro que aponta que, embora a reserva de Seis Lagos, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, seja a maior jazida inexplorada de nióbio do país, com 2,8 bilhões de toneladas do produto, questões logísticas e de exploração no meio da selva amazônica inviabilizam comercialmente o ativo.
Ao propor o fim das demarcações, o deputado também ignora a possibilidade de regulamentação como opção ao fim das reservas. “PT, PC do B, PSOL e até a Rede não iriam deixar”, afirma.
Bolsonaro também disse desconhecer o exemplo da mina de estanho Pitinga, em Presidente Figueiredo (AM), onde índios da reserva Waimiri-Atroari controlam a passagem dos caminhões da mineradora.
Segundo informações da Folha de S. Paulo, o Brasil tem a maior reserva conhecida e domina o mercado mundial. É o quarto produto mais exportado da balança comercial mineral brasileira. O país tem 98% das reservas comercializáveis do nióbio. No mercado mundial, tem 90% das vendas. O Canadá, os 10% restantes.