Uma quadrilha foi presa neste domingo, 7, suspeita de fraudar pelo menos 40 concursos públicos no Nordeste. O esquema foi descoberto pela Polícia Civil da Paraíba. Segundo a polícia, 19 pessoas foram presas, entre elas dois irmãos em um condomínio de luxo, apontados como líderes do grupo.
Segundo o delegado de defraudações e falsificações de João Pessoa, Lucas Sá, para o esquema ser executado o grupo precisava que pelo menos dez candidatos do concurso comprassem o gabarito. “É cobrado, em média, o valor correspondente a 10 vezes o salário inicial do cargo pleiteado, de maneira que cada candidato interessado repassa a quantia de R$ 30 mil a R$ 150 mil para a organização criminosa”, explica Lucas Sá.
O delegado afirma que as fraudes começaram em 2005 e pelo menos 400 pessoas já foram beneficiadas com o esquema em concursos na Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, Sergipe e Piauí. “Tomando como base o menor valor informado até o momento, podemos concluir que, no mínimo, a organização consegue obter a quantia de R$ 300 mil por concurso, acumulando ao menos R$ 12 milhões nos últimos 12 anos”, diz.
O esquema funcionava por meio de escutas e transmissões eletrônicas durante a aplicação das provas. Parte dos suspeitos ficavam na casa onde os líderes do grupo foram presos, em João Pessoa, e eram responsáveis por receber as informações das provas de outros integrantes do grupo que faziam as provas. “Eles repassavam as informações para os ‘professores’, que respondiam as questões e mandavam os gabaritos para os candidatos”, explica Lucas Sá.
Além dos suspeitos presos na capital paraibana, outros integrantes foram detidos no domingo no Rio Grande do Norte, durante a aplicação das provas do concurso público do Ministério Público do Rio Grande do Norte. De acordo com Lucas Sá, os suspeitos estavam com pontos eletrônicos no ouvido, que foram apreendidos durante a operação.
‘Kit completo’ de aprovação em concursos
De acordo com a polícia, há indícios de que a organização fraudava, além dos gabaritos, os documentos necessários para que os candidatos obtivessem empréstimos bancários para o pagamento da fraude e também os documentos exigidos para o ingresso nos cargos pleiteados, fornecendo uma espécie de “kit completo” de aprovação nos concursos.
Sobre os líderes da quadrilha
O delegado de defraudações e falsificações de João Pessoa, Lucas Sá, disso nesta segunda-feira, 8, que os irmãos acusados de liderar o esquema criminoso que teria fraudado pelo menos 40 concursos públicos em seis estados do Nordeste acumulam, juntos, 26 aprovações em concursos. De acordo com a polícia, o esquema fraudulento teria beneficiado 400 pessoas, através do pagamento de R$ 12 milhões à quadrilha desde 2005.
As fraudes aconteceram em concursos nos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, Sergipe e Piauí. A venda do “kit completo” de aprovação, que incluía facilitação de empréstimo para pagar ‘aprovação’, gabaritos e diplomas para ingresso no cargo, custava cerca de R$ 150 mil para cada concurseiro.
Segundo o delegado Lucas Sá, os irmãos Flávio Nascimento Borges, de 34 anos, e Vicente Fabrício Borges, de 32 anos, foram presos em uma casa localizada em um condomínio de luxo, em João Pessoa, e ocupada pela dupla há pelo menos dois meses.
A dupla ainda seria responsável por uma empresa de fachada situada na cidade de Santa Rita, na Região Metropolitana de João Pessoa. De acordo com o delegado, a empresa seria utilizada para possível lavagem de dinheiro dos valores obtidos com o esquema. “No endereço cadastrado como sendo da empresa, não existe nenhuma referência ao prédio, sendo que sequer existe o número do prédio apontado como sendo endereço”, explica.
Em Alagoas
Flávio Nascimento foi aprovado em 15 concursos, incluindo os da Prefeitura Municipal de Campina Grande, em 2015, e o da Polícia Militar de Alagoas, no qual ele acumula, respectivamente, os cargos de fiscal de obras e de cabo da PM. Em um dos concursos, para a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o suspeito chegou a ser classificado e aprovado em dois cargos.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, o irmão de Flávio Nascimento chegou a ser aprovado em 11 concursos e também acumula cargo de policial militar em Alagoas com o de servidor da Prefeitura Municipal de Santa Rita. A polícia vai investigar se a classificação dos dois nos 26 concursos teria sido feita de forma fraudulenta.
Lista de concursos possivelmente fraudados
- 2005 – Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU)
- 2006 – Câmara Municipal de João Pessoa – Funiversa
- 2008 – Polícia Militar da Paraíba – UEPC/Comvest
- 2008 – Fundac/PB – Cespe
- 2009 – Polícia Civil do Rio Grande do Norte – Cespe
- 2010 – Guarda Municipal de Cabedelo – IBFC
- 2010 – Detran/RN – Fundação Getúlio Vargas
- 2011 – Concurso da Coperve – IFPB
- 2012 – Guarda Municipal de Bayeux – Contemax Consultoria
- 2012 – Guarda Municipal de João Pessoa – IBFC
- 2012 – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas
- 2012 – Prefeitura Municipal de Santa Rita – Asperhs
- 2012 – Universidade Federal de Alagoas (UFAL) – Fundepes
- 2013 – Oficial do Corpo de Bombeiros da Paraíba – CPCON/UEPB
- 2013 – Assembleia Legislativa da Paraíba – Fundação Carlos Chagas
- 2013 – Detran/PB – Funcab
- 2013 – Departamento Penitenciário Nacional – Cespe
- 2013 – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB
- 2014 – Corpo de Bombeiros da Paraíba – IBFC
- 2014 – Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) – CPCon
- 2014 – CFO Polícia Militar da Paraíba – Funape
- 2014 – Concurso Conab1
- 2014 – Concurso de agente da Polícia Federal – Cespe
- 2014 – Polícia Rodoviária Federal – Cespe
- 2014 – Câmara Municipal de Cabo de Santo Agostinho
- 2014 – Tribunal Regional do Trabalho 13ª Região – Fundação Carlos Chagas
- 2015 – Ministério Público da Paraíba – Fundação Carlos Chagas
- 2015 – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB
- 2015 – Prefeitura Municipal de Campina Grande – CPCON/UEPB
- 2015 – Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe – Fundação Carlos Chagas
- 2016 – Prefeitura Municipal de João Pessoa – Quadrix
- 2016 – Prefeitura Municipal do Conde – Advise
- 2016 – Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba – Fundação Carlos Chagas
- 2016 – Prefeitura Municipal de Alhandra – Educa – Assessoria Educacional
- 2016 – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Fundação Getúlio Vargas
- 2016 – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Covest
- 2016 – Concurso Contemax
- 2016 – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) – Instituto AOCP
- 2016 – Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
- 2017 – Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) – Comperve/RN