“Aqui todo mundo vai morrer”, teria dito um dos delegados mortos na troca de tiros em uma casa de prostituição em Florianópolis, conforme o depoimento de uma testemunha que estava no local. Adriano Antonio Soares, de 47 anos, e Elias Escobar, de 60, eram delegados da Polícia Federal do estado do Rio de Janeiro e morreram na madrugada de quarta-feira (31). O dono de um cachorro-quente envolvido na confusão foi baleado.
Conforme o depoimento de um dos funcionários do homem ferido, em nenhum momento Soares e Escobar falaram que eram delegados. Ele também relatou que um dos delegados que iniciou tiroteio.
A testemunha disse que o chefe praticava tiro em uma escola, mas não sabia que ele andava armado nem que tinha uma pistola.
Início do tiroteio
Segundo o funcionário, ele e o dono do cachorro-quente levaram lanches para as mulheres que moram no local. Depois de 20 minutos chegaram os dois delegados e um taxista, que era conhecido das garotas. Eles estavam embriagados e teriam pedido para garotas de programa acompanhá-los ao hotel onde estavam hospedados, mas elas recusaram.
“O mais velho estava com a mão na arma pedindo bebida e cigarro”, mas no local não é vendido cigarro nem álcool, conforme a testemunha.
O taxista “estava na dele, sem participar das conversas. A gerente da casa foi falar com o taxista e ao voltar pediu que todos saíssem da casa”, inclusive o dono e o funcionário do cachorro-quente.
Em seguida, todos foram em direção a porta de saída. Na frente estava o dono do cachorro-quente, o taxista e o ‘delegado mais novo’, disse a testemunha. Os três saíram da sala e entraram em um corredor.
O funcionário do cachorro-quente contou que ficou para trás e se recusava a sair da sala, mas foi empurrado pelo ‘delegado mais velho’.
No corredor, a testemunha disse que olhou para a rua e viu o delegado mais novo apontando uma arma para as costas do dono do cachorro-quente. O taxista saiu correndo para rua.
O homem também relatou que o delegado disse “aqui todo mundo vai morrer”. Nisto, o delegado mais velho, que estava atrás da testemunha, o puxou pelo braço e atirou próximo a sua orelha.
Naquele momento, o funcionário empurrou o delegado no chão e foi para perto da porta. Em seguida, o dono do cachorro-quente se aproximou do delegado caído, com o intuito de proteger o funcionário, acredita a testemunha.
Enquanto isso, o delegado mais novo, que estava próximo a porta de saída, continuava atirando para dentro do corredor, conforme a testemunha. O homem disse que ficou encolhido em um canto do corredor e não viu se o delegado que estava caído chegou a atirar, até porque ele estava “‘embolado” com o seu patrão. Também afirmou que em nenhum momento viu o dono do cachorro-quente atirar.
Foi tudo muito rápido e aconteceram muitos disparos.
Logo que os tiros cessaram, ele disse que não viu mais o delegado que estava atirando na porta.
Tiros no hospital
O seu patrão pediu para que ele pegasse a sua arma e o levasse para o hospital. O funcionário relatou que pegou uma das duas pistolas que estavam no chão. Conforme o depoimento, ele pegou “uma qualquer, até porque não conhecia a arma do chefe e as duas eram parecidas”.
Ao chegar no hospital e deixar o patrão na unidade de saúde, viu que o delegado ferido estava chegando com outro taxista. Quando se aproximou da caminhonete em que levou o chefe, viu o taxista que estava na casa de prostituição em frente ao hospital.
Então pegou a arma que estava no veículo e pediu para o taxista sair dali. Como o homem continuou se aproximando, ele mostrou a arma e atirou duas vezes para cima para assustá-lo. Com isso, o taxista foi embora.
Em seguida, foi até a casa do patrão contar para a mulher dele o que tinha acontecido, deixou a arma no veículo e depois foi embora de Uber.
Outros depoimentos
Outras testemunhas, entre taxistas e garotas de programa que trabalham no local, já haviam prestado depoimento à polícia. Uma das mulheres afirmou que os dois policiais federais chegaram de táxi, embriagados, e que houve uma confusão no local. Esses depoimentos anteriores não afirmavam de onde teria partido o primeiro disparo.
Dois homens, funcionários do dono do trailer, foram ouvidos nesta sexta-feira (2) na condição de testemunhas e liberados. O dono do trailer, suspeito de ter feito os disparos que mataram os dois delegados, segue internado e ainda não deu sua versão sobre o crime.
Delegados
O delegado Elias Escobar, de 60 anos, era chefe da Polícia Federal em NiteróI (RJ) e foi atingido por tiros na cabeça e no peito. Ele morreu no local.
O delegado Adriano Soares, de 47 anos, chegou a ir para o hospital, mas morreu em seguida. Ele era chefe da Polícia Federal em Angra dos Reis (RJ).
Dono de cachorro-quente
Marcos Paulo, advogado do dono do trailer de cachorro-quente, de 36 anos, afirma que seu cliente possui registro da arma, que está apreendida, mas não tinha autorização para portá-la. O advogado levantou a hipótese de que ele reagiu para se defender.
“Infelizmente, neste momento, houve uma troca de tiros. Houve toda essa situação, a gente tem que esclarecer como foram os fatos”, disse o advogado.