A Polícia Federal realiza um desdobramento da Operação Ponto Final, na manhã desta quarta-feira (5), no Rio de Janeiro. Os agentes saíram da sede da PF, no Centro, por volta das 5h30, com rumo a diferentes endereços. Eles visam cumprir três mandados de condução coercitiva, que é quando a pessoa é levada para prestar depoimento. Por volta das 6h20, os agentes saíram de um prédio da Rua Alberto de Campos, em Ipanema, na Zona Sul da cidade, conduzindo coercitivamente um homem. Ele foi levado a um prédio comercial na Rua Visconde Pirajá, no mesmo bairro.
Na segunda-feira (3), a ação foi desencadeada e resultou na prisão de 10 pessoas ligadas ao transporte público no estado. Além dessas, o empresário Jacob Barata Filho foi preso na noite de domingo (2) no aeroporto Internacional Galeão quando tentava embarcar para Portugal. Também foram cumpridos menos 30 mandados de busca e apreensão.
De acordo com a investigação da PF e do Ministério Público Federal, empresários são acusados de desviar até R$ 500 milhões sob o comando do ex-governador Sérgio Cabral. Esse esquema criminoso envolvia agentes públicos, políticos e também representantes de órgãos responsáveis por fiscalizar o transporte público e também empresários desse setor de transporte.
Nesta terça, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) informou que dez dos presos na operação já passaram a noite de segunda-feira (3), na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, região central do Rio.
Estão presos na unidade Jacob Barata Filho, Marcelo Traça Gonçalves, Lelis Marcos Teixeira, João Augusto Morais Monteiro, Marcelo Marques Pereira de Miranda, Carlos Roberto Alves, Otacílio de Almeida Monteiro, Eneas da Silva Bueno, Claudio Sa Garcia de Freitas e David Augusto da Câmara Sampaio.
Rogério Onofre, ex-presidente do Detro, foi preso em Florianópolis pela Polícia Federal e transferido para a unidade carioca, mas, segundo a Seap, ainda não deu entrada no presídio de Benfica.
O único foragido é José Carlos Reis, Lavoura. Conselheiro da Fetranspor suspeito de receber R$ 40 milhões, ele está em Portugal. A Interpol foi acionada.
Saiba como funcionava o esquema
A Operação Lava Jato interrompeu um esquema de corrupção antigo: foram 26 anos de propinas, segundo o colaborador Edimar Moreira Dantas. Ele era funcionário da empresa Hoya, a corretora de valores e câmbio do doleiro e delator Álvaro José Novis. Era ela quem controlava as planilhas e os pagamentos do caixa dois da Fetranspor. Dantas revelou que a federação, a mando de Lavouras, passou a utilizar os serviços dele para guardar dinheiro e fazer pagamentos de vantagens indevidas a políticos.
Dantas contou que, entre 1990 e 2016, as ordens para os pagamentos eram dadas unicamente por José Carlos Lavouras, presidente do conselho da Fetranspor, sempre em bilhetes.
Os procuradores descobriram que Lavouras foi um dos que mais receberam propina entre 2010 e 2016: R$ 40 milhões, em três contas.
O conselheiro da Fetranspor é o único que ainda não foi preso na operação Ponto Final entre os que tiveram prisão decretada. Ele está em Portugal, e os advogados disseram que ele volta ao Rio no próximo sábado.
Edimar Dantas também entregou aos procuradores uma tabela com a relação das empresas de ônibus que participavam do esquema ilegal. Só em janeiro do ano passado, elas arrecadaram cerca de R$ 6,5 milhões. Quase R$ 1,2 milhão foram descontados para pagar o que os investigadores chamam de “despesas operacionais”.
Essa era a verba mensal, necessária para manter a quadrilha funcionando, pagando seguranças, funcionários e taxas em geral. Os R$ 5,2 milhões que sobraram foram repassados para uma conta da quadrilha.