G20 começa com choques entre manifestantes e polícia em Hamburgo

Polícia tenta dispersar com gás lacrimogêneo e canhões de água milhares de manifestantes.

PAWEL KOPCZYNSKI REUTERSPolícia tenta dispersar manifestação contra reunião do G20 em Hamburgo.

Polícia tenta dispersar manifestação contra reunião do G20 em Hamburgo.

“Bem-vindo ao inferno.” Este é o lema da manifestação com que os grupos antissistema recebem nesta quinta-feira o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os demais líderes do G20, os países mais industrializados do planeta, que estavam aterrissando durante o dia em Hamburgo. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi um dos que desembarcaram nesta quinta-feira no país. O presidente Michel Temer também está a caminho de Hamburgo para participar da reunião. A cidade natal da chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, anfitriã da cúpula, está hoje fortificada, envolta em arame farpado e repleta de barricadas.

Milhares de manifestantes antissistema procedentes de toda a Europa se reuniram nesta quinta-feira no centro da cidade para protagonizar a passeata mais temida, batizada como “bem-vindo ao inferno”. Muitos manifestantes vestidos de preto e de capuz levaram um cubo de plástico gigante, também preto, em alusão aos famosos black blocks dos protestos antiglobalização. A polícia lhes pediu reiteradamente que retirassem as máscaras.

Em torno das oito da noite (horário local) irromperam os confrontos e começou a correria. Alguns manifestantes lançaram garrafas e outros objetos contra a polícia, que tratou de dispersar a multidão com cassetetes, canhões de água e gás lacrimogêneo. Milhares de manifestantes correram apavorados e fugiram saltando um muro. Alguns encapuzados montaram depois barricadas com mobiliário urbano. Por volta das 20h30 a polícia decretou o fim da passeata e os organizadores deram por encerrado um protesto que reuniu cerca de 12.000 pessoas.

Cerca de 20.000 policiais a pé, a cavalo, em motos e helicóptero tomaram esta bela cidade e bloquearam o tráfego em torno do centro de convenções da cúpula e nos arredores dos hotéis em que os mandatários se hospedam. Só é possível circular de bicicleta por uma cidade cercada por cordões de isolamento e cujas ruas ficaram meio desérticas. Os habitantes que puderam saíram de férias e fugiram de uma cúpula que se antecipa como histórica.

No total estão previstas cerca de 30 manifestações contra os líderes que representam 80% da riqueza do planeta e três quartos do comércio mundial. A passeata desta quinta-feira, na qual está prevista a participação de cerca de 8.000 manifestantes antissistema vindos de toda a Europa, é a mais temida. Merkel se propôs demonstrar a alguns de seus convidados, líderes de países em que a dissidência é reprimida e punida –Turquia, China, Rússia, Arábia Saudita–, que na Alemanha o protesto é possível, mas ao mesmo tempo terá de evitar a todo custo que a violência transborde, como ocorreu nos protestos antiglobalização em Gênova em 2001 ou Seattle, dois anos antes.

Hamburgo é um símbolo. É o coração da esquerda radical alemã e uma das grandes referências do movimento alternativo em toda a Europa. Além do mais, é a sede do mítico Rote Flora, um teatro ocupado há mais de 30 anos e sede indiscutível dos antissistema alemães. “A ideia é ressuscitar os protestos anticapitalistas e antiglobalização que triunfaram há anos”, explica um membro do movimento, morador em uma comunidade nos arredores de Berlim, que prefere ocultar sua identidade. Ele conta que estão há mais de um ano preparando estas manifestações.

Na sexta-feira, planejam bloquear os acessos à cúpula e interromper o tráfego portuário de um dos centros comerciais marítimos mais importantes da Europa. Não está, porém, nada claro que consigam seus objetivos, levando-se em conta o impressionante contingente policial e a reputação das forças de segurança de Hamburgo, conhecidas no resto do país por sua dureza. Durante esta semana reprimiram manifestações com canhões de água e desmantelaram os acampamentos em que os manifestantes pretendiam dormir.

Cúpula alternativa

Os mais violentos e ruidosos monopolizam a atenção de protestos que são, contudo, muito mais amplos. Milhares de ativistas de toda a Europa vêm realizando desde quarta-feira uma cúpula alternativa na qual debatem os problemas mundiais, como o comércio e as mudanças climáticas, dos quais também se ocuparão os líderes do G20. No sábado haverá a grande manifestação que reunirá, segundo as previsões dos ativistas, 100.000 pessoas.

Ao norte de Hamburgo, no centro cultural Kampnage, mais de mil jovens e não tão jovens participavam de um dos painéis da contracúpula. Escrevem também em um enorme rolo de papel sua mensagem para os líderes. “Parem com as guerras”, “Pense globalmente, atue localmente”, “Fronteiras abertas”, lê-se. “Defendemos a justiça ambiental. Nós estamos arruinando o planeta com nossa industrialização e agora os que sofrem as mudanças climáticas são os mais pobres”, argumenta um dos organizadores da contracúpula e membro da Attac. “Reivindicamos direitos sociais globais. Pedimos direito à saúde e à educação para todos.”

Fonte: El País

Veja Mais

Deixe um comentário