O Uruguai dá mais um passo importante na revolução do consumo de maconha e na luta contra o tráfico de drogas ao iniciar, nesta quarta-feira (19), a venda de maconha em uma rede de farmácias do país. Na avaliação do jornal francês Le Monde, a iniciativa uruguaia é positiva e pioneira, sobretudo em uma região conhecida pelo conservadorismo e por atrasos nos direitos sociais.
A partir de hoje, 16 farmácias previamente cadastradas passarão a vender a erva, acolhendo os cerca de 5000 usuários inscritos no programa do governo, de acordo com dados do Instituto de Regulação e de Controle da Maconha (IRCM). O país de 3,4 milhões de habitantes já havia dado a largada em 2013, quando se tornou a primeira nação no mundo a legalizar a maconha, concentrando o mercado, a produção e a comercialização nas mãos do Estado.
O “pai” da lei que deu origem às transformações na sociedade uruguaia, o ex-presidente socialista José Mujica, pretendia dessa forma combater o narcotráfico, impedindo a circulação de mais de R$ 95 milhões movimentados pelo comércio ilegal da droga. O texto original da nova legislação prevê três formas de acesso à maconha: por meio do cultivo em casa para consumo pessoal, de participação em um clube de plantação e uso coletivo e, finalmente, da compra em farmácias.
Com o intuito de evitar que o Uruguai se transforme no paraíso dos consumidores de maconha do mundo, a legislação não dá brecha para os estrangeiros: somente cidadãos uruguaios podem fazer parte do programa. Haverá também um limite de 10 gramas por semana, vendidas por US$ 1,30 cada. Os consumidores poderão optar entre a compra da Alfa I, erva do tipo Indica, e a Beta I, do tipo Sativa. As licenças de produção foram concedidas à empresa Symbiosys, instalada em Montevidéu, e à multinacional Iccorp.
Exemplo para o mundo
A imprensa francesa também lembrou que o Uruguai representa uma vanguarda na América Latina, continente de muitos atrasos em direitos sociais, “de forma geral”. Foi o primeiro país latino-americano a abolir a escravidão e a pena de morte, em 1830 e em 1907, respectivamente, além de ter sido precoce na criação da lei do divórcio, em 1913, e na aquisição do voto feminino em 1927.
Nas últimas décadas, o Uruguai manteve o posto de nação moderna ao legalizar a prostituição em 2002 e o casamento homossexual em 2012, quase ao mesmo tempo que a França.