O desaparecimento da jovem Nicolle Brito Castilho da Silva no Rio Grande do Sul completa 50 dias nesta sexta-feira (21), sem pistas de seu paradeiro. “É uma investigação muito difícil”, afirma o delegado Leonel Baldasso, responsável pelo caso em Cachoeirinha, onde ela vivia.
Durante a investigação, a polícia lançou mão da análise de mais de 200 conversas em uma rede social, pediu a perícia de imagens de um veículo flagrado pegando a jovem em casa e até ouviu um funkeiro que gravou um clipe do qual Nicolle participou um dia antes de sumir.
Sem alternativas, a polícia não vê novos desdobramentos. “A polícia está esgotando todas as formas [de investigação]”, afirma o delegado.
Inicialmente, a polícia trabalhava com três hipóteses para o desaparecimento: ela ter se escondido para não ser morta; estar sendo mantida em cárcere privado ou ter sido morta e o corpo, ocultado.
Agora, após quase dois meses, o delegado se limita a uma linha. “A polícia trabalha com a pior hipótese, de ela ter sido morta e o corpo, ocultado. É muito pouco provável que ela esteja desaparecida, até pelo tempo. Na verdade, há 1% de chance de ter desaparecido. Os motivos ainda estão obscuros”, diz Baldasso.
A investigação também encontrou uma série de entraves. Nicolle estava há pouco tempo no estado e tinha poucos amigos no Rio Grande do Sul, que poderiam saber do seu paradeiro. Além disso, não tinha conta bancária nem usava cartão de crédito, que poderiam indicar alguma movimentação suspeita.
Além disso, a comunicação do desaparecimento dela só foi feita 10 dias depois. “O pai disse que ela viajava bastante e, por isso, não fez o registro antes”, relata o delegado.
A perícia em um vídeo no qual a jovem aparece entrando em um carro não apresentou elementos novos para a investigação. Apenas se conseguiu descobrir o modelo do veículo: um Peugeot 307. Não foi possível desvendar a placa do carro ou fazer a identificação do motorista.
O documento, de 12 páginas, foi concluído pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) no começo de julho e recebido por Leonel Baldasso no dia 10. O laudo descarta que a jovem tenha saído de casa de pantufas, por exemplo. Essa situação, segundo o delegado, indicaria que ela voltaria logo.
O pai de Nicolle, no entanto, disse à polícia que deu falta da pantufa de cor rosa da filha em casa.
“É possível, apenas, inferir que o indivíduo apontado veste peça superior de mangas longas, calças e calçados de cor clara”, diz um trecho do laudo.
Os peritos também não relacionaram um clarão dentro do carro com um disparo de arma de fogo. “É possível visualizar, no interior do veículo, uma fonte ou reflexo de luz, não sendo compatível em forma, duração e intensidade, com imagem resultante de disparo (os) de arma de fogo”, pontua o relatório.
Um dia antes de desaparecer, Nicolle participou de um clipe de funk. O delegado chegou a ouvir o músico e três pessoas que participaram da gravação para tentar descobrir se a jovem aparentava estar incomodada com alguma coisa. Entretanto, os depoimentos pouco ajudaram a polícia a esclarecer o caso.
A única coisa que se descobriu é que Nicolle não recebeu pagamento para participar da gravação. Outras jovens confirmaram que não havia cachê. Agora, o músico foi intimado a entregar uma relação com o nome de todos os participantes, que também serão ouvidos.
Questionado pelo G1 da participação da jovem na gravação, o delegado observa que já era algo marcado há mais tempo. Um dia antes do clipe ser filmado, uma amiga de Nicolle morreu.
Pai tenta acessar Facebook da filha
A polícia também descobriu que os dois acessos à conta pessoal da jovem no Facebook foram feitas pelo próprio pai dela. “Ele nos contou que, em desespero, tentou entrar na conta”, diz o delegado.
Antes, o último acesso ocorreu na madrugada do dia 3 de julho.
A polícia tentou obter as mensagens de WhatsApp do celular de Nicolle. Entretanto, a empresa informou que não armazenava as informações e, por isso, só poderia disponibilizar mensagens que tenham sido trocadas após o pedido na Justiça, não antes.
Outro caso que intriga a polícia é a morte a tiros de uma amiga de Nicolle, junto ao namorado em Gravataí, cidade vizinha de Cachoeirinha. O caso ocorreu dois dias antes do desaparecimento da modelo.
Baldasso não acredita em ligação com os casos. Já o delegado Felipe Borba, responsável por essa outra investigação, não foi encontrado pela reportagem do G1.