Ex-presidente do BB e Petrobras tinha passagem comprada para Portugal, diz MPF

Aldemir Bendine durante coletiva de imprensa em janeiro deste ano no Rio de Janeiro, quando ocupava a presidência da Petrobrás (Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo/Arquivo)
Aldemir Bendine durante coletiva de imprensa em janeiro deste ano no Rio de Janeiro, quando ocupava a presidência da Petrobrás (Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo/Arquivo)

Preso na 42ª fase da Lava Jatonesta quinta-feira (27) , o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine tinha uma passagem de ida para Portugal. A viagem estava marcada para esta sexta-feira (28), descobriu o Ministério Público Federal (MPF) após quebra do sigilo telefônico do suspeito.

“É importante destacar que o MPF encontrou apenas a passagem de ida, não significa que não havia a passagem de volta”, afirmou Athayde Ribeiro Costa, procurador da República, em entrevista à imprensa em Curitiba.

Ao detalhar a 42ª fase da operação, Costa afirmou que vários fatores justificaram a prisão temporária de Bendine, que ocorreu em Sorocaba (SP). Entre eles, está o fato de haver indícios de cometimento de crimes após a deflagração da Lava Jato e também o fato de Bendine ter nacionalidade italiana. “Todos esses fatos foram levados em conta. […] É concreto o risco à ordem pública”, disse Costa.

O delegado Igor Romário de Paula criticou a divulgação do conteúdo das delações. Ele disse que este pode ter sido um dos motivos da compra da passagem para Portugal.

O MPF afirma que, quando comandava o Banco do Brasil, Bendine pediu R$ 17 milhões à Odebrecht para rolar uma dívida da empresa com a instituição, mas não recebeu o valor. Na véspera de assumir a Petrobras, teria pedido mais R$ 3 milhões para não prejudicar os contratos da estatal com a empreiteira, segundo delação de ex-executivos. O valor foi pago em 2015.

O advogado do ex-presidente da Petrobras, Pierpaolo Bottini, afirmou, em nota, que desde o início das investigações Bendine se colocou à disposição para esclarecer os fatos e juntou seus dados fiscais e bancários ao inquérito, demonstrando a regularidade de suas atividades. “A [prisão] cautelar é desnecessária. É arbitrário prender para depoimento alguém que manifestou sua disposição de colaborar com a justiça desde o início”, declarou Bottini.

Obstrução de Justiça

Segundo o procurador, também há evidências de que os outros dois alvos dessa operação tentaram apagar provas e obstruir a Justiça. Um deles, André Gustavo Vieira da Silva, foi detido em um aeroporto no Recife. Ele viajaria para Brasília.

Foi preso ainda o irmão dele, Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior. Os dois são sócios em uma agência de publicidade, chamada Arcos, e são apontados como operadores da propina.

“André Gustavo e Antônio Carlos, ainda em conluio com Bendine, teriam praticado em 2017 atos que caracterizam lavagem de ativos e obstrução das investigações. O produto do crime até o momento não foi recuperado”, afirmou Athayde Ribeiro Costa ao justificar os pedidos de prisão.

O juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instãncia, decretou o bloqueio de até R$ 3 milhões mantidos em contas e investimentos bancários dos alvos desta operação.

A defesa dos irmãos André Gustavo e Antônio Carlos se disse surpresa com as prisões e afirmou que ainda não teve acesso ao processo.

Prisões

Os três suspeitos foram presos temporariamente. A prisão tem prazo de cinco dias e pode ser prorrogada pelo mesmo período ou convertida para preventiva, que é quando o investigado não tem prazo para deixar a cadeia.

A força-tarefa da Lava Jato chegou a pedir a prisão preventiva, entretanto, o juiz Sérgio Moro não a autorizou. “A imposição da prisão temporária viabilizará o melhor exame dos pressupostos e fundamentos da preventiva após a colheita do material probatório na busca e apreensão e após a oitiva dos investigados”, argumentou o juiz.

Bendine deve chegar à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba por volta das 14h desta quinta. Os irmãos Silva devem chegar à capital paranaense por volta das 19h.

O exame de corpo de delito dos três investigados no Instituto Médico-Legal (IML), que é procedimento padrão após a prisão, está marcado para a manhã desta sexta-feira (28), em Curitiba.

Braço direito de Dilma

Em 2015, Bendine era braço direito da então presidente Dilma Rousseff. E havia deixado o banco com a missão de acabar com a corrupção na petroleira, alvo da Lava Jato. Mas, segundo delatores da Odebrecht, ele já cobrava propina no Banco do Brasil e continuou cobrando na Petrobras.

Segundo as investigações, Bendine usava o nome de Dilma em negociações, mas a polícia não encontrou nenhum indício de envolvimento da ex-presidente nesse esquema.

 

“As provas de que o presidente da Petrobras, nomeado para acabar com a corrupção na companhia, estava praticando corrupção são realmente de assustar todos nós.” Athayde Ribeiro Costa, procurador da República

 

“É indignante que, durante o escândalo na Petrobras, pessoas utilizavam a companhia para praticar crimes e aferir recursos. Bendine veio do Banco do Brasil, foi para a Petrobras e, segundo as provas, havia pedido de propina”, disse o procurador.

 

Propina no Banco do Brasil

No despacho que autorizou a 42 ª fase da Operação lava Jato, o juiz Sergio Moro mencionou parte da colaboração de Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos, ex-presidente da Odebrecht Ambiental.

Santos afirmou que André Gustavo Vieira da Silva se apresentou como representante de Aldemir Bendine em uma conversa sobre o alongamento de dívida da Odebrecht Agroindustrial. Ele disse, conforme a delação, que o então presidente do Banco do Brasil exigia um “pedágio” para aprovação do crédito e do pagamento.

“Inicialmente, ainda naquele encontro, ele falava em percentuais na ordem de 2% a 3%, o que daria algo entre R$ 58 e R$ 87 milhões. Posteriormente, em negociação, foi solicitado por André Gustavo Vieira da Silva um valor somente de dezessete milhões de reais”, diz trecho do despacho.

O valor não foi pago porque Marcelo Odebrecht teria avaliado que o pagamento não influenciaria o alongamento da dívida da Odebrecht Agroindustrial, conforme o despacho.

Ainda conforme Fernando Luiz Ayres da Cunha, depois que Bendine assumiu a presidência da Petrobras, houve encontros entre ele, André Silva e o próprio Bendine. Além disso, a empresa começou a receber informações privilegiadas sobre a petrolífera.

“Afirma Fernando Luiz Ayres da Cunha que passou a receber informações privilegiadas e confidenciais da Petrobras por meio de André Gustavo Vieira da Silva”.

Conforme o despacho, já na posição de presidente da Petrobras, por meio de André Gustavo Vieira da Silva, Bendine voltou a pedir propina de 1% sobre o crédito da Odebrecht Industrial.

“Diante do poder do cargo de Presidente da Petrobrás, Marcelo Bahia Odebrecht e Fernando Luiz Ayres da Cunha resolveram desta feita ceder à solicitação, pelo menos parcialmente, tendo acertado um pagamento de três milhões”, diz trecho do despacho.

Na avaliação de Moro, o pagamento teria causa próxima o poder que Bendine tinha de favorecer ou prejudicar o Grupo Odebrecht nas relações com a Petrobras. Moro afirmou que os valores não foram completamente rastreados.

Conforme relatado pelo juiz, André Gustavo afirmou que recebeu o dinheiro, entretanto, alegou que o pagamento foi por uma consultoria dada ao Grupo Odebrecht. Ainda segundo o despacho, André Gustavo apresentou duas notas fiscais que foram canceladas, segundo ele mesmo, a pedido da Odebrecht, que insistiu no pagamento em espécie.

Nome da 42ª fase

Cobra, o nome desta fase da Lava Jato, é uma referência ao codinome dado pela Odebrecht ao principal investigado – Aldemir Bendine. O apelido apareceu nas tabelas de pagamentos de propinas apreendidas no Setor de Operações Estruturadas da Odrebrecht durante a 23ª fase da operação.

Fonte: G1

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