No topo, Usain Bolt encerra a carreira no Mundial de Londres

A partir desta sexta, ele dá as últimas passadas antes da aposentadoria

AFP / Ricardo MakynBolt é dono do recorde mundial dos 100m rasos desde 2008

Bolt é dono do recorde mundial dos 100m rasos desde 2008

Pelé no futebol. Michael Phelps na natação. Muhammad Ali no boxe. Michael Jordan no basquete. Alguns nomes do universo esportivo extrapolam a nomenclatura de atletas para serem alçados ao status de lendas em suas modalidades. No atletismo, esse título pertence a Usain Bolt. O jamaicano — dono de oito títulos olímpicos, três recordes mundiais e uma irreverência jamais vista nas pistas espalhadas pelo planeta — começa a se despedir hoje do habitat que dominou por quase uma década. No Campeonato Mundial de Londres, o Raio fará suas últimas aparições, nos 100m e no 4x100m — cada uma, espera-se, de menos de 10 segundos. Como sempre foi.

Aos 30 anos, Bolt se recusou a assistir o próprio fracasso. Como um rei orgulhoso, preferiu renunciar ao mandato do que presenciar outro tomar seu lugar. Ele pendura as sapatilhas quase um ano depois de, definitivamente, se tornar o maior da história no Rio de Janeiro. Ninguém foi tão coroado no maior dos eventos esportivos quanto ele. A pista é de Bolt desde 2008. Agora, o mundo, inquieto, aguarda um novo imperador das raias.

O jamaicano disputou a prova mais nobre do atletismo — os 100m rasos —, pela primeira vez, aos 21 anos. Ele precisou de pouco tempo para fazer jus ao apelido que virou coreografia. Disparou com o tempo abaixo dos 10s logo na terceira tentativa oficial. Na quinta, tornou-se o mais rápido do mundo — no Grand Prix de Nova York, em maio de 2008. Dois meses depois, já era campeão olímpico, em Pequim.

Os números

Na carreira, o Raio disputou 82 corridas e venceu 91% delas. O também jamaicano Asafa Powell, antigo detentor do recorde, ganhou 64%. O norte-americano Maurice Greene, o homem mais rápido do mundo entre 1999 e 2005, bateu os 51%. O antigo rei e grande nome do esporte na década de 1990, Carl Lewis, venceu 62% dos 165 tiros de 100m que disputou. Mas há um número que nenhum deles chegou perto: o de ser 100% midiático.

“Todo esporte precisa de um artista para atrair a massa. O atletismo sempre teve alguém que era um atrativo. Já tivemos Carl Lewis, Tyson Gay. Bolt representou esse papel durante 10 anos, talvez melhor do que ninguém. É um fenômeno, é um espetáculo. Talvez em 2020 conheçamos outro nome desse porte”, arrisca Fernando Franco, professor de educação física aposentado e pesquisador de atletismo há mais de 20 anos.

Mas não só com medalhas, estatísticas e mídia que se constrói uma lenda. É o público quem dá essa nomenclatura a um atleta — e Usain Bolt é amado pelo público. Com carisma e irreverência incomuns, ele é um dos esportistas mais queridos e assediados do mundo. Quase 20 milhões de pessoas curtem a página do jamaicano no Facebook. No Instagram, 7,1 milhões acompanham as fotos sempre recentes, além de outros 4,1 milhões no Twitter.

Genética

Bolt é dono do recorde mundial dos 100m rasos desde 2008. A marca atual, de 9s58s, conquistada no Mundial de Berlim, em 2009, supera em mais de um décimo de segundo o melhor tempo de qualquer outro corredor — Tyson Gay já fez 9s69. O tempo médio de suas 10 melhores provas na vida é de 9s73. Só Gay e os jamaicanos Asafa Powell e Yohan Blake conseguiram alcançar essa marca alguma vez na vida.

Mas o que faz Bolt ter um desempenho tão sobrenatural? Por algum tempo, essa foi a resposta que a ciência tentou dar. A altura de 1,96m permite ao atleta percorrer os 100 metros com apenas 41 passadas. Justin Gatlin, principal adversário do último ciclo, precisa de 44. Na metade final da prova, enquanto os rivais caem, ele consegue correr a 44,7 km por hora, e é o momento em que se torna dominante. Como o próprio jamaicano costuma se gabar, seu corpo é o mais abençoado de todos os tempos no esporte. Mas ele mesmo, em entrevista à rede BBC, confirmou que é o físico a razão da aposentadoria. “O que me disse que era o bastante, o cérebro ou o corpo? Definitivamente, o corpo. Acima de tudo, eu envelheci, meu corpo envelheceu. É hora de dizer ‘fim’”.

O lado brasileiro da competição

A quilômetros de distância do brilhantismo do raio Usain Bolt, o Brasil chega ao Mundial de Londres de forma tímida. Dos mais de 2 mil atletas de 205 países na competição, apenas 36 pertencem à delegação brasileira — 20 homens e 16 mulheres. Pior que isso, nenhum deles chega à Terra da Rainha em condições de brigar por medalha. Pelo menos é o que aponta o relatório produzido pelo professor Fernando Franco, que levou em conta os resultados recentes dos competidores do país para projetar o desempenho no evento.

O atual campeão olímpico do salto com vara, Thiago Braz, era o único considerado pelo relatório como candidato a subir ao pódio. O atleta, porém, pediu dispensa da competição em decorrência de uma lesão na panturrilha e dores nas costas. Do restante da delegação, apenas oito — além do revezamento 4×100 — viajam com chances de chegar a uma final ou semi — ou ficar entre 12 melhores, no caso da marcha atlética.

Os outros 24, segundo o relatório do especialista, fazem apenas participação na competição. “Não tem jeito, é estatística. Um atleta que não está entre os 20 melhores do mundo, faltando 30 dias para o evento, não vai fazer milagre. Dificilmente vai chegar a uma final. Vai fazer o que lá, então? O atletismo brasileiro só vai melhorar quando o objetivo principal deixar de ser só participar e começar a competir de verdade”, critica Franco.

Pressão

A delegação brasileira chega pressionada para o Mundial após o resultado abaixo do esperado nos Jogos Olímpicos da Rio-2016, quando, com 66 atletas, disputou 11 finais e conquistou apenas uma medalha, exatamente com Thiago Braz. Para Londres, a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) nem chegou a traçar uma meta de resultados. O desempenho histórico é ruim, já que, em 15 edições da competição, o país subiu ao pódio apenas 11 vezes.

Fonte: Super Esportes

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