O camisa número 28 da Chapecoense será o destaque do jogo entre Barcelona e Chape, na tarde de segunda-feira, às 15h30min, no Camp Nou. Ele não é o melhor jogador do mundo, como Messi já foi quatro vezes. Não é um artilheiro, como Suárez. Mas tem motivo para se considerar o mais vitorioso em campo, com um prêmio que o futebol não dá: a vida. Um dos seis sobreviventes do acidente aéreo que vitimou 71 pessoas na Colômbia, Alan Ruschel retorna ao gramado para a primeira partida oficial na renovada carreira.
Ele foi resgatado em meio aos destroços da aeronave, numa noite chuvosa, na clareira que o avião abriu no monte Cerro Gordo, batizado posteriormente de Cerro Chapecoense. Tinha ferimentos no rosto e uma lesão grave na coluna, que poderia deixá-lo sem alguns movimentos. Na sua cidade Natal, Nova Hartz (RS), cerca de 200 pessoas se reuniam em frente a casa de seu pai, Flávio Ruschel, para rezar.
Nove dias depois, ele deixou a UTI e deu os primeiros passos, ainda com dificuldade, auxiliado pelo médico Marcos André Sonagli. Ele foi o primeiro dos sobreviventes brasileiros a deixar a UTI. Será o primeiro também a voltar a campo, já que Neto só tem previsão de retornar no ano que vem e Jacson Follmann teve parte da perna direita amputada.
Vencer batalhas não é algo novo para o atleta, que sempre teve o sonho de ser jogador de futebol. O garoto que começou aos 10 anos, no Zé Carioca, time de futsal da cidade natal, agora será protagonista, tanto quanto o argentino do Barça.
– É um jogo único, histórico, não vou estar jogando só por mim, mas pelos meus irmãos que não estão mais aqui, pelo Follmann, pelo Neto, pela minha família e pelos amigos que oraram por mim – disse.
Ele lamentou o fato de que uma tragédia aconteceu para que a Chape jogasse em Barcelona. Ao mesmo tempo, sente a alegria de voltar a fazer o que mais gosta. No uniforme que o Verdão vai utilizar, as 73 estrelas vão representar muito mais que uma referência ao ano de fundação do clube. É homenagem a um time que sempre será inesquecível. O jogador diz que tenta não pensar no acidente, mas é difícil. Justamente por estar vivo, ele encarou os trabalhos de academia e fisioterapia sem reclamar.
– Inevitável não pensar, não lembrar. Sempre peço a Deus que me dê forças – declarou.
Na semana passada, Ruschel atuou por alguns minutos no jogo-treino contr o Ypiranga-RS. Retornou como meia, e não lateral, sua posição de origem. Voltou a sentir o frio na barriga em uma simulação de jogo. Na sexta-feira pela manhã, no aeroporto Serafim Enoss Bertaso, em Chapecó, mais um novo sentimento. Estava ansioso feito um garoto para o embarque rumo à Espanha. Assim, com um sentimento novo a cada dia, ele se prepara para o novo turbilhão de emoções: atuar no palco em que se joga um futebol repleto de magia.
Os últimos oito meses de Alan Ruschel
29/11 – Acidente na Colômbia com o avião da LaMia que levava a delegação da Chapecoense, jornalistas e convidados para o jogo do final da Sul-Americana, contra o Atlético Nacional. Alan Ruschel é um dos seis sobreviventes.
7/12 – Deixa a UTI do hospital San Vicente de Rio Negro, na Colômbia, onde passou por cirurgia na coluna.
13/12 – Volta ao Brasil.
16/12 – Deixa o Hospital da Unimed, em Chapecó.
17/12 – Concede entrevista coletiva na Arena Condá.
28/1 – Começa a correr na esteira da academia do clube.
27/2 – Primeiro trabalho leve com bola, no vestiário.
15/3 – Começa a correr em volta do gramado da Arena Condá.
29/7 – Atua durante 40 minutos no jogo-treino contra o Ypiranga, no Centro de Treinamento da Água Amarela.
7/8 – Volta ao campo contra o Barcelona.