A comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB-AL) deve investigar a denúncia feita, na tarde de hoje, pela família de um dos suspeitos mortos na troca de tiros na Feirinha do Tabuleiro noticiada por este site na manhã desta quarta-feira, 16, a respeito da conduta dos policiais envolvidos no caso.
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A representante da família, a advogada Thacylane Oscar, falou com a reportagem do Alagoas24Horas e explicou que a família teria recebido na manhã de hoje dois áudios enviados por whatsapp, supostamente após a ação policial, quando os suspeitos já estariam presos em uma viatura. No primeiro áudio o suspeito diz que ele e os comparsas, sem especificar quantos, teriam sido capturados, estariam feridos e seriam socorridos até o Hospital Geral do Estado (HGE). Logo em seguida, no segundo áudio, ele relata que está sendo conduzido por um caminho “estranho”, deserto, sem casas, que não seria o caminho até o hospital… E que teme estarem sendo levados para serem “executados pelos policiais”.
A advogada disse ainda que a família teria pedido para que ele enviasse a localização pelo aplicativo, o que teria apontado um local no bairro de Fernão Velho, onde as forças policiais haviam dito que ação teria começado.
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Denúncias Serão Apuradas
O presidente e a vice-presidente da comissão, os advogados, Ricardo Moraes e Sandra Gomes, que receberam pessoalmente a família, disseram que apesar de já terem ouvido os áudios, e considerarem a denúncia muito grave, irão ainda decidir, junto à presidência do órgão, como agirão e em que prazo, mas que certamente irão acionar o Estado e apresentar os elementos, que deverão ser previamente periciados, para compor o inquérito.
“A família questiona algo muito sério, a conduta policial em relação ao socorro dado, ou não, aos envolvidos neste fato. O que a comissão quer é justamente deixar claro de que maneira toda a ação aconteceu para, inclusive, resguardar as nossas polícias”, explicou Sandra Gomes.
Conteúdo dos Áudios
O Alagoas24Horas teve acesso aos áudios, mas a pedido da comissão não irá divulgá-los. Nos arquivos é possível ouvir o suspeito falando frases como: “Eles vão nos matar!”; “Venham para cá, venham para cá!”; “Eu não sei para onde eles estão levando a gente”.
Umas das dúvidas levantadas pela representante da família é o horário em que o áudio foi recebido, às 7h10 da manhã, hora posterior ao que os policiais e testemunhas dizem ter havido a troca de tiros. “Se ele conseguiu enviar o áudio, se ele aparentava estar bem, mesmo que ferido, não aparentava correr risco de morte, como ele e os outros chegaram ao HGE já mortos? Que caminho ermo é esse que ele relata no áudio? Onde está o celular usado por ele? Tudo isso são respostas que a família precisa ter”, explicou a advogada.
Questionados por nossa reportagem a respeito da possibilidade do horário de recebimento dos áudios e localização terem sido alterados devido à disponibilidade de serviço telefônico e internet, ou ainda, a respeito do trajeto que poderia ter sido feito por uma via secundária do bairro de Fernão Velho, a advogada e os representantes da OAB não souberam responder e disseram que é justamente questionamentos como esses que a perícia pela qual os arquivos vão passar devem responder.
Contudo, Ricardo Moraes salientou que a Comissão de Direitos Humanos está aberta para receber as famílias dos outros envolvidos e/ou testemunhas que possam contribuir para o caso, e pede para que essas pessoas procurem a OAB, com a certeza de que o sigilo de suas identidades será garantido.
“Só em 2017, em Alagoas, foram registradas 95 mortes por confronto policial. Esse é um número que chama a atenção e é direito das famílias e de toda a população questionar como essas mortes se deram, se houver dúvidas. Nosso papel é acolher e investigar. E isso será feito”, concluiu.
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O Alagoas24Horas tentou entrar em contato com a assessoria de comunicação e a corregedoria da Polícia Militar, para saber o posicionamento oficial da Instituição a respeito da denúncia, mas não obteve resposta até o momento da publicação desta matéria.