Mais de 7,8 mil casos de violência contra a mulher foram registrados pela Polícia Civil de Alagoas em 2016. E apesar do número exclusivo para denúncias desse tipo, o 180, muitas mulheres ainda recorrem ao 190 da Polícia Militar quando estão em situação de desespero. Por isso, quem está do outro lado da linha precisa estar preparado para oferecer o suporte necessário às vítimas.
Soprobem capacita jovens atendentes do 190 sobre violência contra a mulher
Jovens atendentes do 190 fazem parte de uma das turmas do Programa de Aprendizagem desenvolvido pela ONG Soprobem (Serviço de Promoção e Bem-estar Comunitário), em Maceió. Durante dois dias de atividades, todas as turmas participaram de debates sobre relacionamentos abusivos e se preparam agora para lançar na internet o projeto “Um tapinha não dói… será?”. A ideia é alimentar uma página no Facebook com músicas, memes, filmes e livros que alertem os seguidores sobre a banalização desse tipo de comportamento.
“Isso é algo que está disfarçado, a gente só se impressiona com os casos de violência extremos. Mas a violência contra a mulher envolve muita coisa. Esse debate abre os olhos da gente, até para quem está um relacionamento passar a estranhar certas coisas que poderiam ser encaradas como normais”, analisa a jovem Aline Araújo, de 20 anos, que trabalha no teleatendimento da Polícia Militar.
Rayana de Lima tem 18 anos e é colega de trabalho da Aline. Durante os debates, ela contou que já ajudou duas mulheres da família a saírem de relacionamentos abusivos. “Eu também já passei por um relacionamento abusivo e sei como é. A melhor forma de ajudar é não julgar a vítima e conscientizá-la. A partir disso, ela começa a pensar duas vezes se aquele relacionamento está fazendo bem. Esses debates foram importantes também para abrir a cabeça dos homens”.
Foi o que aconteceu com o Iranildo. Funcionário da Usina Sinimbu, o jovem de 19 anos começou a perceber que algumas músicas mascaram o machismo e romantizam relacionamentos abusivos. “Eu acredito que o conhecimento sobre o feminismo e o machismo acaba desmascarando romantismo e libertando as pessoas dessa ilusão de que a mulher é sempre a culpada por ter aceitado um relacionamento abusivo”, disse Iranildo Balbino.
Para a coordenadora de relacionamentos do Soprobem, Kyvia Pereira, os jovens se identificam muito com o tema, pois muitos percebem que estão em situações desse tipo. “Começamos com a campanha do Agosto Lilás e acabamos percebendo a necessidade de trabalhar isso de forma contínua. Incentivamos os participantes a buscarem na rotina deles coisas que naturalizam a violência contra a mulher e propagarem o que aprenderam”, explica Kyvia.
O Soprobem
O Soprobem é uma ONG alagoana com 38 anos de história viabilizando direitos sociais para a população. A ONG se destaca na missão de inserir jovens no mercado de trabalho, tendo atendido a mais de 9 mil jovens. Um de seus projetos mais importantes é o Programa de Aprendizagem Soprobem, que, desde 2004, retira jovens de 14 a 22 anos de situações de vulnerabilidade social, inserindo-os em projetos que possibilitam sua evolução educacional e social.