A agência federal encarregada de deportar imigrantes indocumentados nos Estados Unidos suspendeu uma varredura nacional que estava preparando por várias semanas, envolvendo agentes de outras agências federais e estaduais de fiscalização. De acordo com uma cópia de um memorando interno obtido pela Univision News, Shan Byers, diretor assistente do escritório de campo da ICE em Louisville, Ky., escreveu: “devido ao impacto do furacão Harvey e do furacão Irma a Operação Epic está sendo adiada até segunda ordem”.
A operação foi mencionada em outro memorando que a Univision também obteve e divulgou no qual o Departamento de Segurança Interna dos EUA pediu aos voluntários que colaborassem com a operação chamada ‘Cross Check VII – Operation Epic’, que estava programada para ocorrer de 17 a 21 de setembro deste ano em diversos estados americanos.
A operação “Cross Check VII – Epic” estava prevista para ocorrer em um grande acordo entre várias agências participantes, para incluir ICE-HSI (Inquérito à Imigração e Alfândega – Investigações de Segurança do País) e US Marshalls. Quando ocorrer, esta operação incidirá na localização e detenção de estrangeiros criminosos, fugitivos com uma ordem de deportação final, pessoas com vistos de permanência expirados e imigrantes indocumentados “, descreve o documento.
A mega-operação foi cancelada devido às inundações históricas causadas pelo furacão Harvey no Texas e à então iminente passagem do furacão Irma na Flórida. “Obrigado a todos os que trabalharam arduamente para organizar e se ofereceram para realizar esta operação”, escreveu Byers ponderando ainda: “Uma vez que tivermos uma nova data para a operação, nós novamente solicitaremos voluntários”.
REPERCUSSÃO DA OPERAÇÃO NA COMUNIDADE
A divulgação dos planos da ICE imediatamente inflamou a preocupação na comunidade imigrante. A Rede de Observação de Detenção (DWN), bem como o Centro Nacional de Imigração (NIJC), United We Dream (UWD) e o National Immigration Law Center, condenaram publicamente a operação, observando que o “Cross Check VII” visava de 6.000 a 10.000 imigrantes.
Para a brasileira e advogada de imigração, Renata Castro, há uma clara intenção do Departamento de endurecer a fiscalização contra imigrantes ilegais e que tenham praticado algum ato de infração legal nos Estados Unidos. “A comunidade brasileira está completamente alarmada com as ações concretas que o Governo tem implementado no dia-a-dia para deportação de imigrantes ilegais. Detectamos um aumento de mais de 40% no número de procura por atendimento em nosso escritório”, pondera a advogada que atua na Flórida, um dos estados americanos de maior comunidade imigrante.
Na semana passada, a polêmica declaração de um Xerife do estado da Flórida de que a polícia estaria em abrigos do estado durante a passagem do Furacão Irma pedindo documentos de identificação deixou a comunidade imigrante tensa e bastante nervosa nas redes sociais. “Declarei em entrevistas a diversos veículos a minha preocupação de pessoas deixarem de ir aos abrigos por medo da deportação. Foi uma declaração lamentável num momento inoportuno”, afirma Castro.
ARRASTÃO DE DEPORTAÇÃO
O Departamento de Segurança Interna dos EUA anunciou, ainda na semana passada, que as autoridades que lidam com o esforço de recuperação de furacões não pediriam documentos de imigração às vítimas das tempestades. A Univision News perguntou ao Departamento, na última sexta-feira, 08, sobre os ataques planejados. Em resposta, o Departamento afirmou que geralmente “não faz comentários sobre possíveis ações policiais futuras” e que os planos operacionais “estão sujeitos a mudanças com base em uma variedade de fatores”.
O DHS acrescentou os furacões impuseram a necessidade de focar na reconstrução das áreas afetadas no Texas e na proteção das vidas na Flórida. Porém, advertiu que os agentes continuarão a “procurar e prender estrangeiros criminosos e outros que estão violando as leis de imigração americanas”, em áreas do país que não foram afetadas por furacões.
PROMESSAS CUMPRIDAS
A operação do ICE apareceu três dias depois que a administração do Presidente Donald Trump rescindiu o programa de Apostas Diferidas para Invasões Infantis (DACA), que beneficiou cerca de 800 mil imigrantes indocumentados. “Esta mega operação é uma das muitas promessas que o presidente fez como candidato durante sua campanha”, disse Juan Escalante ao canal Univision, um beneficiário que faz parte do grupo America’s Voice.
“O ruím é que, enquanto o Presidente quer mostrar que tem um bom coração para com a gente, vemos que o Departamento de Segurança Interna está seguindo ordens para parar centenas de imigrantes e destruir famílias, implementando uma política que confirma a existência de uma deportação nacional, uma força nacional que o presidente prometeu aos seus eleitores”, acrescentou Juan.
