Em 1969, a Argentina precisava de uma vitória em cima do Peru do técnico brasileiro Didi para ir à Copa do Mundo do ano seguinte. À época, resolveu levar o confronto para o mítico estádio de La Bombonera. Porém, um empate por 2 a 2 acabou com o sonho argentino em plena Buenos Aires. Desde então, os Hermanos nunca mais ficaram de fora de um Mundial.
A noite desta quinta-feira certamente trouxe lembranças ruins para os argentinos mais velhos. De novo a pressão da casa do Boca Juniors foi a aposta dos albicelestes diante da seleção que carrega um uniforme semelhante ao do River Plate. E, como em 69, a ideia não surtiu efeito. Messi e companhia não passaram de um empate por 0 a 0 na penúltima rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia e tornaram a situação dos atuais vice-campeões do mundo em um drama inimaginável há pouco tempo.
Já são quatro jogos seguidos sem um triunfo, e a última chance de ir à Copa será disputada dia 10, na altitude de 2.850 metros de Quito, contra o Equador. Em sexto lugar, com 25 pontos, a Argentina estaria fora do Mundial hoje.
E quis o destino que Ricardo Gareca fosse um dos responsáveis por jogar mais lenha na fogueira argentina. Autor do gol no Monumental de Nuñez que colocou a Argentina na Copa do Mundo de 1986, de novo depois de um empate por 2 a 2 com o Peru no ano anterior, nesta quinta o ex-treinador do Palmeiras levou os peruanos à quinta colocação, posição que leva a equipe à repescagem, com os mesmos 25 pontos, mas com um saldo de gols melhor.
Invicta há cinco rodadas, a seleção do Peru terá contra a Colômbia, em Lima, também dia 10, o jogo mais importante de sua história recente. Um resultado positivo e Paolo Guerrero e seus companheiros estarão na Copa do Mundo, o que não acontece desde 1982.
Bastou o primeiro apito do árbitro brasileiro Wilton Sampaio para o panorama do que viria pela frente ficar evidenciado. Sem qualquer constrangimento, o Peru, com quatro desfalques, um deles o meia são-paulino Christian Cueva, deixou claro que se concentraria na marcação atrás do meio de campo, apostando na eficiência defensiva e na perda de paciência dos argentinos, que por sua vez fizeram o que lhe cabia: foram para cima, muitas vezes com os dez homens de linha no campo de ataque.
Dominante, mas com dificuldade de encontrar os espaços tendo Messi tão bem marcado, a primeira oportunidade clara veio aos 13 minutos, justamente com o camisa 10, após jogada ensaiada em cobrança de escanteio. A zaga peruano afastou o perigo no susto.
Dez minutos depois, Di Maria ficou com sobra de bola na entrada da área e buscou o ângulo oposto, mas isolou, para desespero da Bombonera. Aos 33, o único ataque mais incisivo do Peru gerou alguns segundos de silêncio no estádio xeneize. O lateral flamenguista Trauco cruzou rasteiro e Farfán teve liberdade dentro da área para finalizar, mas errou o alvo.
Pouco antes do intervalo, Messi despertou. Primeiro executou sua típica jogada: recebeu na entrada da área, cortou para a esquerda e mandou a bomba, de “rosca”. A bola raspou a trave. Na sequência, o craque achou Benedetto nas costas da zaga adversária, mas o centroavante do Boca Juniors testou por cima do travessão.
Jorge Sampaoli, então, decidiu sacar Di Maria para apostar em Rigoni. Além da troca, a postura da equipe em campo mudou, com mais agressividade e Messi inspirado. Antes do primeiro minuto, o capitão argentino deixou Benedetto na cara do gol mais uma vez. Gallese defendeu com o peito e o próprio Messi pegou o rebote. De primeira, do jeito que deu, mandou a bola na trave.
Foi só uma amostra do que o goleiro peruano estaria por fazer. Aos 2 minutos, Biglia arriscou de longe e Gallese buscou a bola no ângulo. Antes da metade da etapa final, Lionel Messi usou toda sua inteligência para colocar Gómez, Benedetto e Rigoni em situações claras de acabar com o drama dos donos da casa. Em todas elas, Gallese foi melhor que os atacantes.
O enredo ganhou ainda mais cara de drama quando Sampaoli resolveu apostar em Gago, mesmo ciente de que o veterano jogador não tinha 100% das condições físicas. A torcida cantou o nome do volante ex-Boca Júniors, mas em apenas quatro minutos Gago sentiu uma lesão no joelho e precisou sair para a entrada de Pérez.
Já sem muita organização, apelando para jogadas individuais e bolas aéreas, a Argentina até tentou sufocar os peruanos. A torcida, que apoiou o jogo todo, não conseguiu esconder a apreensão e a impaciência nos minutos finais. No fim, o drama virou melancolia na Bombonera assim que Wilton Sampaio soou o apito pela última vez.
FICHA TÉCNICA
ARGENTINA 0 X 0 PERU
Local: La Bombonera, em Buenos Aires (Argentina)
Data: 5 de outubro de 2017 (Quinta-feira)
Horário: 20h30 (de Brasília)
Árbitro: Wilton Sampaio (Brasil)
Assistentes: Kleber Lúcio Gil (Brasil) e Bruno Boschilia (Brasil)
Cartões amarelos: ARGENTINA: Biglia, Mascherano. PERU: Farfán, Tapia, Guerrero
ARGENTINA: Romero, Otamendi, Mascherano e Mercado; Acuña, Lucas Biglia, Ever Banega (Gago) (Pérez), Lionel Messi e Angel Di María (Rigoni); Gómez e Benedetto
Técnico: Jorge Sampaoli
PERU: Gallese, Aldo Corzo, Miguel Araujo, Alberto Rodríguez e Miguel Trauco; Renato Tapia, Yoshimar Yotún, Peña (Cartagena), Farfán (Andy Polo) e Édison Flores; Paolo Guerrero
Técnico: Ricardo Gareca