Gene Simmons não está interessado em ganhar menos de um centavo para tocarem suas músicas na internet. Ele quer bem mais: R$ 6,3 mil é o preço que o linguarudo do Kiss vai cobrar para entregar em mãos uma caixa de 10 CDs com 150 músicas do seu arquivo nunca antes divulgadas. Streaming é “estúpido” e o formato físico é mais “sexy”, ele explica ao G1.
O baixista e vocalista de 68 anos raspou sua gaveta de músicas, mas não quer deixar a vazia a gaveta de dinheiro. Gene foi fundo em demos do Kiss e parcerias antigas com gente como Bob Dylan. E não vai nada para a internet: quem quiser ouvir vai ter mesmo que pagar quase sete salários mínimos e pegar o box com ele nos dias 19 e 20 de maio em SP.
E disco de inéditas do Kiss, vai rolar? “Não, eu não quero fazer discos assim. As pessoas baixam e todo mundo rouba a música”, ele reclama. Era de se esperar: Gene, famoso por explorar as chances de lucro com o Kiss com todo tipo de merchandising, está furioso com o atual mercado digital, difícil para os músicos. Leia a entrevista:
G1 – Como foi a pesquisa para encontrar tanto material?
Gene Simmons – Trabalho nisso por três anos. São 150 faixas de arquivo que nunca foram lançadas, de 1966 a 2016. Três músicas que escrevi com Bob Dylan, três com o Van Halen. Tem com Joe Perry, do Aerosmith, com todo mundo do Kiss. Ace Frehley canta duas músicas.
Tenho demos originais do Kiss, como “Christine sixteen”, “Calling Dr. Love”, “Rock and Roll all nite”. A caixa tem 90 cm de altura e pesa 17kg, com muitas surpresas dentro.
G1- Houve alguma coisa que te surpreendeu, que você tinha esquecido e hoje pensa que deveria ter lançado na época?
Gene Simmons – Boa pergunta. Tinha esquecido de várias, sim. Há uma música chamada “You drive me wild” que foi a demo que virou “Rock and roll all nite” e eu não lembrava. Há outra chamada “I know who you are”, que se tornou “Rock and roll all nite” e “Living in sin”. Duas músicas diferentes já foram uma só.
As músicas com o Van Halen são ótimas. As duas músicas com Ace Frehley, em que ele faz os vocais principais, também. Tem outras em que ele toca solos, do início dos anos 70. É um pacote muito empolgante. E a coisa mais importante é que se alguém comprar, eu vou voar para sua cidade entregar.
G1 – E as com o Bob Dylan, por que não foram lançadas?
Gene Simmons – As músicas não se parecem com músicas do Kiss, então não poderiam estar num disco nosso. Elas pareciam mais com Travelling Willburys. Algumas influências de Beatles, de Dylan. Como foi? Eu liguei para o Bob Dylan e perguntei: você quer escrever algumas músicas? E ele falou: Claro. Ele foi para minha casa, em 1989.
G1 – A maior reclamação dos músicos hoje é com o retorno do mercado digital. Esse projeto é uma forma de tentar ganhar o valor que você acha que sua música tem?
Isso não vai ser lançado nas redes sociais, não vai estar nas lojas. Só vou fazer alguns milhares delas pelo mundo. Sai em janeiro e depois disso não vai estar disponível. Não vai ter uma versão mais barata. É só um tamanho, um preço. É como um Rolls-Royce, que nunca está em promoção.
G1 – E o livro? Tem um número atualizado de mulheres com quem você já fez sexo? [Gene já disse que o número é maior que 4 mil]
Gene Simmons – (Risos) O livro tem milhares de fotos da minha coleção particular. E fala de cada uma das músicas. Onde eu estava, o que eu estava fazendo. Mas não tem esse número, não.
G1 – Para os fãs que não puderem pagar 2 mil dólares, haverá mais chances de te ver em uma futura turnê mundial do Kiss em breve?
Gene Simmons – Nós vamos fazer uma nova turnê mundial sim, mas o que eu vou fazer a partir de janeiro é viajar pelo mundo e entregar as caixas.
G1 – E um novo disco do Kiss?
Gene Simmons – Não, eu não quero fazer discos assim. As pessoas baixam e todo mundo rouba a música. Não estou animado com isso.
G1 – Então você não vai fazer mais novas músicas por causa disso?
Gene Simmons – Vamos ver. Só se puder ser como minha caixa nova, com algo especial… Porque o streaming não é animador para mim, é estúpido. Não é sexy.
G1 – De 0 a 100, qual a chance de uma turnê do Kiss rolar um dia com Ace Frehley e Peter Criss de volta?
Gene Simmons – Chance zero de uma turnê. Talvez alguns últimos shows juntos com todo mundo que já passou pelo Kiss. Mas uma turnê, não. Eles entraram e saíram da banda três vezes. Já chega. E os novos fãs não se importam com a formação antiga.
G1 – Desde os anos 90, com o auge do rock alternativo, fica feio para as bandas de rock se importarem muito com negócios. Um rapper pode ter essa imagem, mas bandas de rock desde então não querem ver como ‘vendidas’.
Gene Simmons – Mas as pessoas que criticam são zés-ninguéns, pessoas que não sabem nada.
G1 – Você acha que o rock pode voltar a ser forte se não houver vergonha em falar de negócios?
Gene Simmons – Não é isso. Há muito talento por aí. Há vários artistas e compositores talentosos. Um problema são as gravadoras. Mas o maior problema são os fãs.
G1 – Vê um jeito de resolver isso?
Gene Simmons – Sim, tem que haver novas leis. Se você rouba uma coisa, você vai para a cadeia, ou confiscam sua casa. A não ser que haja novas leias, isso vai continuar.
E quando um artista lança uma música, se ela é baixada, você ganha uma fração de centavo por download. E eu não quero fazer isso.
G1 – No meio desse ano você desistiu de uma tentativa de patentear em seu nome o sinal de mãos do heavy metal, do chifre [a tentativa de patente gerou críticas]. O que aconteceu?
Gene Simmons – Não são chifres. Quando você coloca o dedão junto, significa “eu te amo”. Eu só fiquei muito atarefado, estavam acontecendo muitas coisas para me preocupar se alguém gostou disso [a tentativa de registro] ou não.
Comecei a fazer isso em 1974. Até hoje, em jogos de futebol ou qualquer lugar do mundo quando as pessoas fazem esse gesto, ou quando colocam a língua para fora, mesmo que não saibam quem é Gene Simmons, isso começou comigo.