Judô substitui vôlei e concentra poder no esporte nacional

Modalidade é a que mais deu medalhas olímpicas ao Brasil (22). Desde a edição de Los Angeles-1984 brasileiros não deixam de ir ao pódio

REUTERS/Kai Pfaffenbach Rafaela Silva, judoca brasileira, durante olimpíadas do Rio

Rafaela Silva, judoca brasileira, durante olimpíadas do Rio

Foi no ano de 1985, na Cidade do México, que os caminhos de Paulo Wanderley Teixeira e Rogério Sampaio se cruzaram pela primeira vez.

Ambos representavam o Brasil, respectivamente, como treinador e atleta em torneio de categoria de base.

O judô, e de maneira mais específica o esporte, mantiveram os dois ligados ao longo dos anos subsequentes.

Em 1992, chegaram ao apogeu esportivo com a medalha de ouro conquistada pelo judoca nos Jogos de Barcelona. Wanderley era, então, o técnico da seleção masculina.

Três décadas depois do primeiro encontro, Sampaio, 49, e Wanderley, 67, são os nomes mais vistosos do que se constituiu na onda de dirigentes egressos do judô que comandam o esporte brasileiro.

A ascensão do grupo às cúpulas das entidades se assemelha ao que ocorreu nas últimas décadas com o vôlei.

Impulsionado pelos resultados, ex-atletas provenientes da modalidade galgaram postos dentro da hierarquia esportiva do país e impuseram situação de domínio.

Por exemplo, Carlos Arthur Nuzman presidiu o COB (Comitê Olímpico do Brasil), que teve como executivos e dirigentes Marcus Vinícius Freire e Bernard Rajzman -estes foram vice-campeões nos Jogos de Los Angeles-1984.

Rajzman também foi ministro do Esporte no governo de Fernando Collor e secretário do governo do Estado do Rio de Janeiro para os Jogos Pan-Americanos de 2007.

Sampaio é, atualmente, secretário de alto rendimento do Ministério do Esporte. Antes, foi secretário da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem).

Wanderley é, desde o último dia 11, presidente do COB, em substituição a Nuzman, que renunciou após ter sido preso pela Polícia Federal -ele foi libertado por liminar.

No comitê gerenciado por Wanderley, que por 16 anos dirigiu a CBJ (Confederação Brasileira de Judô), Sebastian Pereira é gerente de desenvolvimento de talentos.

Ex-judoca, medalhista de bronze no Mundial de 1999, Pereira coordena uma área de detecção de talentos com vistas às Olimpíadas de Paris-2024 e Los Angeles-2028. Ele está no COB desde antes da chegada de Wanderley.

Tiago Camilo, pódio nos Jogos de Sydney (prata) e Pequim (bronze), preside a comissão de atletas da entidade.Na pasta, Sampaio tem um dos cargos do topo da hierarquia, mas não para por aí.

Sandro Teixeira, filho de Wanderley, tornou-se diretor de educação da ABCD, que funciona como um braço da pasta poucos dias antes da ascensão pai. Ele era assessor da autoridade antidoping.

Ao seu lado também trabalham para a agência nacional antidoping o ex-judoca e árbitro Vinícius Loyola e Leonardo Mataruna, estrategista da CBJ, que trabalha como consultor da ABCD por meio de convênio com a Unesco.

Na opinião de Paulo Wanderley, a profusão de dirigentes ligados ao judô reflete os resultados conquistados.

A modalidade é a que mais deu medalhas olímpicas ao Brasil (22). Desde a edição de Los Angeles-1984 brasileiros não deixam de ir ao pódio.

“Creio que exista essa correlação. Mas não há uma conexão direta entre eu estar na presidência do COB e ter outras pessoas no esporte”, disse o mandatário à reportagem.

“Quem está vinculado hoje é por mérito ou competência. Trata-se de uma feliz coincidência que tantas pessoas oriundas do judô estejam em cargos-chave”, afirmou.

Indagado se não há conflito de interesses, Wanderley disse que teria de ser “visionário” para prever que tantos cargos se abririam juntos.

Para Sampaio, a quantidade de dirigentes judocas tem mais a ver com uma “coincidência” do que outra coisa.

“Nós viemos de uma geração que ajudou a construir o judô nacional. E, de fato, o esporte avançou muito”, disse.”Mas eu faço parte de um governo que tem mandato até 2018, ou seja, é uma coisa momentânea”, observou o campeão olímpico em 1992.

Ele afirmou que sua incursão na gestão pública não é de hoje. Antes, ocupou posições em São Paulo e Santos.

Fonte: Notícias ao Minuto

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