Uma das coisas boas que a idade me presenteou foi com a idéia de que tenho o direito de ter opinião sobre quase tudo e igualmente de saber que posso estar errada no que penso e sendo redundante, que tenho o direito de errar em quase tudo.
Isso me deixa mais tranqüila para pensar livremente, não tendo compromisso com o acerto basta apenas fazer um pacto com a verdade do que sinto ou do que sei, mesmo que compreenda que sinto sempre muito e que sei muito pouco.
Assim me permito discordar da grande maioria das pessoas que menciona orgulhosa a valorização do fato que apenas no nosso idioma existe a palavra “saudade”. Para mim resumir tanto assim é exagero.
Sempre que a saudade vem ou que tento expressar esse sentimento fico buscando definições para completar o que sinto, já que quase nunca julgo que seja bastante dizer ou pensar -Saudade.
Uma das definições que gosto é que “saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar”, (Rubem Alves) ou ainda que “saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já…” (Neruda).
Assim, atolada nessas e em mais outras definições, vou tentado seguir em frente, apesar do eterno sentimento de saudades diversas que me ocupa o peito e as lembranças.
Tenho tantas saudades que não seria possível relacionar e é surpreendente a sensação que nem sempre é um sentimento ruim, como também nem sempre é um sentimento bom.
Quando lembro do tempo que passou, da infância, juventude, colégio, de uma coleção de doces recordações, sinto saudade.
Do nascimento do Pedro, dele pequenino, curioso, desbravador, sinto saudade.
Dos infinitos momentos que passei com minha mãe, das verdades apreendidas, do carinho de todas as formas, sinto saudade.
Dos sonhos que se desfizeram, do que não fui, dos objetivos que não alcancei e que só hoje enxergando com olhos mais experientes compreendo melhor os porquês, sinto saudade.
Saudade do tempo que passou, do canto do bem-ti-vi, dos amigos, daquele abraço. Saudade as vezes é um excesso.
Mas é diante de uma outra onda de comportamento coletivo, a de atribuir para um dia do ano o dever de sentir saudade, que fica tudo mais confuso.
Como sou de personalidade ordeira fui levar flores aos meus mortos mesmo sabendo que não estão mais lá, mas se tenho a saudade como companheira de jornada por que na leitura do nome gravado na lápide tudo fica mais difícil?
Lembro de minha mãe sempre e sempre, mas lá senti mais forte minha alma com vontade de voltar no tempo, ainda que só um pouquinho, para ouvir suas histórias, para pedir um conselho que ajudasse nas dúvidas.
Minha mãe se foi, mas o amor ficou e confesso envergonhada que se tivesse que dizer alguma coisa pra ela agora só saberia dizer “saudade”, ainda que ache insuficiente. Hoje não recitaria as definições que existem já que nenhuma delas diria por si só o que guardo no coração desde quando precisei me despedir de alguém que amo tanto.
Para hoje fica somente o seguinte: “Saudade é melhor do que caminhar vazio”. (Peninha)