Maria (nome fictício) tem 11 anos frequenta há sete meses as aulas de ginástica rítmica, três vezes por semana, no Centro de Desporto e Recreação do Cepa. As tardes das segundas, terças e quintas, no período de duas horas e meia, são dedicadas ao treinamento. Ela é atendida pelo Serviço de Acolhimento Institucional, uma unidade da Secretaria de Assistência Social de Maceió (Semas) que acolhe meninas que estão separadas de suas famílias.
A menina tímida se revela um talento da ginástica. É o que diz a professora de educação física e treinadora, Janete Martins Marques. O talento de Maria foi reconhecido numa competição para iniciantes. Ela ficou em primeiro lugar na Copa de Ginástica Rítmica Contato, categoria individual infantil estreante.
Estar matriculada na Escola Estadual Professor Sebastião da Hora foi o pontapé para Maria participar dos treinamentos. Em busca de novas participantes, a professora de educação física visita as escolas públicas para divulgar o trabalho que é realizado no CDR do Cepa. Foi na escola que ocorreu o encontro entre Maria e a ginástica rítmica, o que mudou a vida da estudante.
Antes, Maria só admirava o esporte pela televisão e tentava reproduzir os movimentos, sem saber que por trás de tudo aquilo havia ainda muito o que aprender. “Ficava fazendo os exercícios. Para mim era fácil repetir os movimentos das meninas que via pela televisão”, conta.
Foi a primeira vez que Maria participou de um campeonato e já levou o primeiro lugar. Ela continua com os estudos no período da manhã e cursa o 4° ano do ensino fundamental. Maria resume o que os treinamentos representam para ela. “A ginástica para mim é o futuro”, diz a menina.
A professora Janete Martins Marques revela que o início do treinamento foi muito difícil. O comportamento recluso de Maria que não interagia nas conversas e ensinamentos para seguir as repetições dos movimentos e ainda não acreditava em sua capacidade teve que ser transformado aos poucos.
“Com muita cautela e uso de técnicas psicológicas e corporais tivemos que aprender juntas sobre a paciência, o exercício do diálogo e o aprendizado de que a determinação, tanto minha quanto a de Maria, em superar as dificuldades, quaisquer que fossem era o nosso objetivo para que o trabalho tivesse continuidade. Falava para ela que não saber é uma coisa e não tentar é outra. É uma descoberta e é uma aprendizagem para nós”, afirma Janete.
A professora leva as alunas para observar e participar de campeonatos e festivais de ginástica rítmica em Maceió. Ela revela que a vivência com a equipe de arbitragem e com os avaliadores é importante para as alunas vivenciarem esse universo das competições e adquirirem mais experiência.
Janete conta que no dia da competição em que Maria se consagrou com o primeiro lugar vivenciou uma situação especial. “Recebi um abraço fora do comum. Senti naquele gesto um profundo e sincero agradecimento. Por isso é muito gratificante trabalhar com a Maria, ver o crescimento dela a cada dia e em pouco tempo”, relata.
O que torna Maria diferente das outras alunas é o nível em que ela se encontra. “O que chama a atenção da gente que é treinador ao observar uma aluna com capacidade mais apurada do que as outras alunas, e é isso o que a Maria apresenta, é a flexibilidade, as rotações rápidas, os saltos elevados, a postura e elegância que são características já adquiridas por ela”, conta Janete.
A professora de ginástica diz ainda que agora o trabalho é aperfeiçoar os elementos, os movimentos corporais com a prática dos exercícios e introduzir o elemento bola nos treinamentos. “O próximo passo é o treinamento com o elemento bola. Nas férias, Maria deve participar de um curso para realizar um treinamento específico, já que ela está num nível diferente das outras alunas”, encerra.