Taís Araújo foi uma das palestrantes do evento TEDXSão Paulo, realizado em agosto, na capital paulista. O vídeo da conferência foi divulgado nesta semana pela organização e chamou a atenção pelo discurso de Taís durante os 10 minutos de palestra.
A atriz abordou o tema “Como criar crianças doces num país ácido” e levantou assuntos como racismo e misoginia. Ela também destacou a preocupação na criação de seus filhos, João Vicente, de 6 anos, e Maria Antônia, de 2 anos e 7 meses.
“A pergunta que mais me fazem é qual a diferença entre criar um menino e criar uma menina. E minha resposta é sempre muito imediata e a mesma: não vejo diferenças entre criar meninos e meninas. Estou criando dois indivíduos. Essa minha resposta, apesar de ser sempre a mesma, é uma mentira”, disse Taís.
“Eu vejo diferença entre criar meninos e meninas. Gênero é uma questão. Porque, quando engravidei do meu filho, fiquei muito aliviada de saber que no meu ventre tinha um homem. Porque eu tinha a certeza de que ele estaria livre de passar por situações vivenciadas por nós, mulheres. Teoricamente, ele está livre. Certo? Errado”, continuou a atriz.
“Errado porque meu filho é um menino negro. E liberdade não é um direito que ele vai poder usufruir se ele andar pelas ruas descalço, sem camisa, sujo, saindo da aula de futebol. Ele corre o risco de ser apontado como um infrator. Mesmo com 6 anos de idade.”
“Quando ele se tornar adolescente, ele não vai ter a liberdade de ir para sua escola, pegar uma condução, um ônibus, com sua mochila, com seu boné, seu capuz, com seu andar adolescente, sem correr o risco de levar uma investida violenta da polícia. Ao ser confundido com um bandido. No Brasil, a cor do meu filho é a cor que faz com que as pessoas mudem de calçada, escondam suas bolsas e blindem seus carros. A vida dele só não vai ser mais difícil que a da minha filha”, destacou Taís.
“Com a Maria Antônia eu me pego pensando o tempo inteiro em como nós mulheres somos criadas para agradar. O quanto nos silenciam e o quanto nos desqualificam o tempo inteiro. Quando penso o risco que ela corre simplesmente por ter nascida mulher e negra, eu fico completamente apavorada.”
Taís citou ainda números de feminicídio no Brasil e disse que, apesar de seus medos, não perde a esperança de poder criar os filhos no país.
“Fico elaborando o tempo inteiro uma maneira de criar meus filhos aqui, no meu país. Como criar crianças doces em um país tão ácido. Como criar crianças que acreditem que pluralidade e diversidade são riquezas em um país que é tão plural, tão diverso e tão desigual. Como não jogar sobre elas uma vivência, experiência e até uma mágoa, que é minha? Mas também, como não permitir que elas enfrentem o mundo de maneira ingênua para que não sejam atropeladas pelo racismo que existe na estrutura do nosso país.”
Taís Araújo finalizou a palestra com um convite. “Para a gente se ajudar mutuamente, para que todos possam ter de fato as mesmas possibilidades. Porque, perante a lei, somos todos iguais, mas na prática, não somos. E isso não é um problema. As diferenças não causam problemas desde que elas não causem desigualdade. Para isso acontecer, tenho a sensação de que a gente tem que começar a olhar para o outro com humanidade, afeto. É um exercício. E entender que o outro é, sim, é uma extensão da gente”.