No lugar dos galhos dos pinheiros, tiras de mariô, taliscas desfiadas a partir do olho do dendezeiro. No lugar das bolas de vidro, recortes de fotos de ancestrais. No lugar da estrela de Davi, uma casa, barracão de culto aos orixás. A árvore de Natal do Terreiro Casa Branca, no Engenho Velho da Federação, é uma exaltação à ancestralidade.
Ali estão elementos identitários do candomblé e da cultura afro-brasileira. Símbolos, esculturas, comidas, imagens. No alto, a foto de Mãe Tatá de Oxum, a atual ialorixá do terreiro. Logo abaixo, a de fundadoras da casa, como Tia Massi, Deolinda de Oxalá, Vovó Conceição de Nanã, Alabê Cipriano, Mãe Teté de Iansã, Tieta de Iemanjá e Aji Kutu de Ogum.
“Nosso Natal é dedicado aos ancestrais, às pessoas que acreditamos, que preservamos. Todo símbolo sagrado nos leva a pensar nos ancestrais”, afirma Gersonice Azevedo Brandão, a Mãe Sinha, equede do terreiro e idealizadora da árvore. A árvore é sustentada por beribas, madeira usada para fazer berimbaus.
Equede Sinha e jovens da Casa Branca no Natal dos orixás: ‘Tempo de renovação da fé nos ancestrais’ |
“Pensei em fazer uma árvore que utilizasse materiais de árvores sagradas do candomblé e elementos da capoeira. É uma grande árvore de resistência e de identidade cultural”, diz o fotógrafo e produtor cultural Dadá Jaques, que é mobá de Xangô de outro terreiro, o Aganju, mas ensina capoeira na Casa Branca. Foram os alunos de capoeira do Projeto Mandinga que ajudaram a montar a estrutura.
Detalhe das ‘bolas’ de Natal da árvore. Imagens de personagens ancestrais que fundaram a Casa Branca |
A árvore homenageia não só quem já se foi. As “bolas” mostram imagens de filhos de santo do presente e de crianças e jovens do projeto, representando o futuro. “É quase uma árvore genealógica. Aí estão os que fizeram e fazem parte da nossa história religiosa e também os que farão o futuro”, explica Sinha.
Com a árvore montada, a Casa Branca antecipou o Natal e reuniu doações para instituições de caridade. No final das contas, o sentimento de solidariedade em relação ao Natal cristão é bem parecido, já que a ideia de renovação também está presente no candomblé. “Para mim, o Natal é sempre uma chance de se renovar os votos de preservação da nossa ancestralidade, da nossa árvore ancestral”, diz a ialorixá.