A jovem que teve o corpo incendiado durante a apresentação de um barman em uma casa noturna de Peruíbe, no litoral de São Paulo, afirma que viveu momentos de terror e que ainda não conseguiu se recuperar completamente do susto. Em entrevista ao G1, a enfermeira de 24 anos, que prefere não ser identificada, diz que continua com dificuldades para dormir e que ainda sente muita dor por conta das feridas espalhadas pelo corpo.
Um vídeo obtido pelo G1 mostra o momento exato do acidente. Um colaborador do ‘Totem Beach Bar’ aparece preparando um drink ‘incendiário’ para uma mulher que comemorava o aniversário. Por conta de um vazamento no equipamento, ocorre a explosão. O fogo atingiu diretamente o rosto da enfermeira, que ficou com o cabelo em chamas, correndo de um lado para o outro, durante pouco mais de um minuto.
“Eu estava sentada e, do nada, a chama veio na minha direção. Quando senti começar a queimar, corri sem direção e fui parar dentro da cozinha, com o cabelo pegando fogo. Fiquei em estado de choque. Ouvia as pessoas gritando demais, pedindo para eu tirar a jaqueta. Quando achei uma torneira, comecei a jogar água no meu corpo, até que o fogo apagou. Além dos vários ferimentos, acabei perdendo metade do meu cabelo, que ficou totalmente queimado”, lembra.
A enfermeira, que é moradora de Brasília (DF), chegou ao litoral de São Paulo para aproveitar o Réveillon. De acordo com ela, que estava há apenas dez minutos no bar antes do acidente acontecer, os proprietários do estabelecimento trataram a situação com descaso e, em momento algum, ofereceram qualquer tipo de ajuda. Ao contrário do que afirmou a dona da casa noturna, em entrevista ao G1, a vítima afirma que nenhum contato foi feito diretamente com ela.
“Ninguém me ajudou. Uma responsável pelo local ficou em pé, me olhando. Eu falei que estava toda queimada, e ela me disse que não poderia fazer nada. A proprietária nem sabe quem eu sou. A única coisa que fez foi me dar um cartão, mas nunca recebi nada dela. Acredito que, na hora, alguém do bar deveria ter me acompanhado até o hospital. É muita sorte não ter acontecido algo pior. O problema é eles tratarem como se nada tivesse acontecido”, reclama.
Ainda se recuperando dos ferimentos, a enfermeira afirma que vai ser difícil esquecer os momentos de terror pelos quais passou dentro do local. “Meu colo e meu rosto ficaram totalmente queimados. A dor só passou quando eu entrei no soro. Para mim, foi desesperador. Todo mundo estava em pânico. Não pretendo voltar nunca mais nesse local. Nem o barman foi até mim pedir desculpas. Pior do que o medo que senti é o descaso”, afirma.
Acompanhada do namorado, o dentista Ricardo Santos, de 32 anos, a enfermeira registrou um boletim de ocorrência e fez um exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) de Praia Grande. A polícia está investigando o caso e deve ouvir a proprietária do bar em breve. “A preocupação de todos era com o fato do bar ser rústico. Tem muita madeira e, em alguns lugares, uma espécie de palha para cobrir. As pessoas ficaram chocadas e assustadas”, disse Santos.
Outro lado
O G1 conversou com a proprietária do bar, Lizandra Medaglia. De acordo com ela, o acidente realmente ocorreu, mas o local possui toda a documentação legal necessária para o funcionamento e o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). A prática de exibições com drinks utilizando fogo, segundo ela, não é frequente no bar, mas foi executada no dia a pedido de um cliente. “Foi um acidente que ocorreu quando a quantidade de bebida que saiu da garrafa foi maior do que o habitual. Isso por uma falha no bico dosador”, conta.
Segundo Lizandra, todos os primeiros socorros foram prestados ainda na casa. A proprietária alega que se ofereceu, diversas vezes, para ir com a vítima até o posto de atendimento médico da cidade, o que foi negado por ela e pelas pessoas que a acompanhavam. Em seguida, a proprietária passou o contato pessoal para os acompanhantes. “Foi oferecida por nós toda a assistência que fosse necessária, mas a única resposta que tivemos foi que as providências legais já haviam sido tomadas”, afirma.
“Não vamos poder reparar o susto. Ficamos muito tristes com o ocorrido e nos colocamos à disposição para qualquer necessidade, mesmo sem retorno algum da vítima desde o momento do acidente até hoje. Faço contatos diários via WhatsApp para saber como ela está, mas, até agora, não tive retorno”, finaliza Lizandra.
O G1 também entrou em contato com a Prefeitura de Peruíbe para falar sobre o assunto. De acordo com a administração municipal, o bar está em situação regular, tendo apresentado todos os documentos necessários para seu funcionamento, inclusive junto à Secretaria da Fazenda. “No âmbito da Secretaria da Defesa Social, também não houve registro de nenhuma anormalidade”, finaliza a nota.