O promotor Gladyson Ishioka, responsável pelo caso da youtuber Isabelly Cristine Santos, de 14 anos, morta com um tiro na cabeça no litoral do Paraná, disse nesta sexta-feira (16) que não há indícios para acreditar na alegação de legítima defesa feita pelos irmãos Everton e Cleverson Vargas, suspeitos de matar a jovem.
“Pelo que foi informado até o momento, a legítima defesa não ocorreu. Ainda não se comprovou uma ação que justificasse essa reação. E ainda que houvesse essa ação, seria muito desproporcional a reação”, afirmou o promotor.
Segundo ele, a versão de que ocorreu uma briga de trânsito precisa ser analisada com cautela, porque “essa é uma questão muito superficial”.
Fechada no trânsito
Inicialmente, a Polícia Militar (PM) chegou a dizer que o tiro foi dado após uma discussão de trânsito.
Depois, entretanto, a Polícia Civil afirmou que não houve briga. “A princípio, não houve briga, não houve discussão. Houve, sim, uma fechada de um veículo no outro. Daí saiu em pequena perseguição e acabou culminando no disparo”, afirmou a delegada Vanessa Alice.
Entenda o crime
Isa, como era conhecida, foi baleada por volta das 2h da quarta-feira (14), entre os balneários Ipanema e Praia de Leste, em Pontal do Paraná, no litoral do estado. Ela foi atingida um pouco acima do olho esquerdo.
A adolescente estava no banco de trás de um veículo branco, junto com a mãe. Na frente, segundo a Polícia Civil, estavam um amigo e o pai do amigo, Herbert Luiz de Félix, que dirigia o veículo.
Em depoimento à polícia, ele disse que foi fechado por um carro pouco antes do crime – o motirista contou que o carro dos irmãos estava na pista da esquerda e que deu sinal que viraria à direita. Segundo ele, os dois carros transitavam em baixa velocidade.
“Só que eu vi o pisca dele para virar para a direita e, para evitar que ele colidisse, eu joguei o carro para a direita. Perdi o controle do carro, o carro girou na frente dele. Só que ele virou à esquerda e continuou (…) Nesse girar do veículo, eu tive que retornar e girar de novo ele para voltar para Paranaguá”, contou Hebert Luiz de Felix.
Félix relatou ainda que, logo após a fechada, o carro parou a cerca de 60 metros e que um dos ocupantes do veículo, sem descer, efetuou três disparos contra o carro onde estava Isabelly.
A rodovia onde ocorreu o crime tem pista simples. Na região, é permitido parar na via para virar à esquerda. Por isso, os carros que vêm atrás ultrapassam pela direita.
Versão dos acusados
Segundo Everton, que confessou à Polícia Civil ter feito os disparos, ele e Cleverson tinham saído do balneário de Santa Terezinha e entraram à esquerda no sentido da casa deles, que fica no balneário Canoas.
“Quando a gente estava se deslocando pela BR, o veículo, em alta velocidade, passou pela direita e logo na frente fez uma manobra brusca, como se fosse um cavalo de pau. [Aí] a gente entrou pela direita no sentido da nossa casa. Quando nós entramos, aquele veículo retornou, de novo, e parou na esquina”, explicou o suspeito.
Everton disse que no veículo havia sete pessoas além dele, sendo que três são crianças. “O meu instinto foi de defesa. Simplesmente atirei pra cima, eu não mirei em algum lugar, nem nada.”
Cleverson contou a mesma versão do irmão. “Eu não tenho nem como pedir perdão porque não vão perdoar nunca a gente. Eu estou sentindo na pela isso. Eu tenho três filhos”, argumentou.
Os suspeitos foram presos em uma casa em Pontal. Na quinta-feira (15), eles tiveram a prisão em flagrante convertida para preventiva.
‘Não perdoo’
“Não perdoo. Posso perdoar muito mais para frente, mas sinto muito, mas eu não perdoo”, afirmou Rosania Domingos Santos, mãe da youtuber.
Rosania relatou que os tiros surgiram “do nada”. “Eu não entendo até agora por que foi feito isso. Eles dois acabaram com o sonho de uma menina de 14 anos”, afirmou.
http://g1.globo.com/pr/parana/videos/v/suspeitos-da-morte-de-youtuber-no-parana-falam-como-ocorreu-o-crime-assista-ao-video/6506047/