Em meio à ameaça de despejo de suas casas por parte da Usina Santa Clotilde, camponeses vão realizar um ato político na manhã de sexta-feira (23/02), por volta das 7h, no município de Murici/AL. A manifestação será em referência aos 16 anos do acampamento Sede e em defesa de que as terras onde está situado sejam destinadas para fins de reforma agrária.
CPT e MLST realizam ato político conjunto em Murici
Além do acampamento Sede, liderado pelo Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), também fazem parte da área os acampamentos Bota Velha e Santa Cruz, que têm suas famílias acompanhadas pela Comissão Pastoral da Terra de Alagoas (CPT/AL). Todos foram visitados no de janeiro do pelo Centro de Gerenciamento de Crise da Polícia Militar, devido ao pedido de reintegração de posse ajuizado pela usina. Desde então, as famílias sem-terra estão mobilizadas e unidas para resistir onde moram, trabalham e estudam.
As terras em questão (pertencem à massa falida da Usina São Simeão) e foram arrendadas a Usina Santa Clotilde em 2005 e, posteriormente, tomadas pela Fazenda Nacional devido à falência da proprietária, marcada pelas dívidas com INSS, companhia energética e débitos trabalhistas. Inclusive, muitos camponeses que hoje ali vivem, vieram do trabalho escravo nos canaviais.
Na mira da grilagem
Segundo a organização do ato, há documentos do Governo Federal, tanto no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) quanto no Ministério da Fazenda, que comprovam a situação das terras. Mas, a preocupação da CPT/AL e do MLST é que a área esteja na mira da grilagem, isto é, a falsificação de documentos para, ilegalmente, tomar posse daquelas terras antes consideradas devolutas.
Existem rumores de que por trás da ação promovida pela Usina Santa Clotilde (que não tem a posse da terra) está o deputado estadual Olavo Calheiros (PMDB/AL), cujo sobrenome é conhecido como a oligarquia dominante em Murici. Não é à toa que Olavinho – como é conhecido – vem sendo mencionado pela comunidade como suposto interessado na região. “O contexto se assemelha ao caso da Fazenda Boa Vista, em que o processo de desapropriação foi realizado, arquivado e, em seguida, apareceu como mais uma propriedade dos Calheiros”, contou o coordenador da CPT/AL, Carlos Lima.
De acordo com matéria publicada pela Folha de S. Paulo em fevereiro de 2005, só nos limites de Murici, o parlamentar citado e sua esposa detêm dez propriedades. Além disso, trata-se de um dos deputados com maior aumento patrimonial no exercício do mandato (de R$ 38 mil, em 1996, para R$ 3,95 milhões, em 2006), com base na revista Isto é, publicada em abril de 2008.
Resistência
Para o coordenador do MLST, Josival Oliveira, é importante destacar que aquelas terras antes improdutivas, sem uso, atualmente conseguem subsidiar um impacto social positivo provavelmente maior do que a usina, ser fonte do sustento de aproximadamente 220 famílias que ali vivem e produzir alimentos para a população.
Ainda na perspectiva do movimento, como o proprietário da fazenda é o Estado, nada mais justo que a mesma seja destinada para a reforma agrária. “Essa mobilização vai no sentido de mostrar que não será fácil tirar os trabalhadores dos acampamentos”, explicou o coordenador do MLST, Josival Oliveira.