Novidade no time titular do Brasil para o amistoso de terça-feira, contra a Alemanha, Fernandinho é um dos que mais sentiu o peso do 7 a 1 sobre os ombros. Desarmado infantilmente por Kroos no lance que originou o quarto gol dos alemães na semifinal da Copa de 2014, o volante chegou a afirmar meses depois da partida, em entrevista ao jornal britânico “The Guardian”, que pensava em nunca assistir a qualquer replay daquela partida.
No reencontro com os alemães, em pleno Estádio Olímpico de Berlim, Fernandinho será um dos 11 responsáveis diretos por garantir que este “replay” não aconteça – e seis deles são remanescentes do 7 a 1. O técnico Tite colocou o volante entre os titulares, no lugar de Douglas Costa, no fim do treino de domingo. Naquele momento, os jogadores recebiam orientações sobre o posicionamento defensivo em lances de bola parada. O zagueiro Miranda, que se alinhava quase ao lado de Fernandinho no exercício, deseja que o colega encare o amistoso como um recomeço.
– Sendo sincero, não conversamos sobre isso. Mas pensando como eu agiria na situação dele, encararia como uma nova oportunidade, uma maneira de começar a escrever uma nova história. Fazer um grande jogo contra uma grande seleção pode colocar uma dúvida boa na cabeça do professor. É uma oportunidade que ele seguramente vai aproveitar – opinou Miranda.
Apesar das críticas, a carreira de Fernandinho passou longe de afundar depois do 7 a 1. De volta ao Manchester City, manteve-se com status de titular para o então treinador Manuel Pellegrini e ficou ainda mais em alta após em chegada de Pep Guardiola, fã confesso de seu futebol. Guardiola já chegou a afirmar que bastava a um time ter “três Fernandinhos” para ser campeão.
Na seleção, Fernandinho também seguiu valorizado. Convocado de forma recorrente por Dunga, foi titular na Copa América de 2015, quando o Brasil foi eliminado nos pênaltis pelo Paraguai. Tite já havia usado Fernandinho na sua formação inicial em partidas consideradas duras, como a goleada sobre a Bolívia na altitude de La Paz, por 5 a 0, e a vitória por 3 a 0 sobre a Argentina de Messi em pleno Mineirão, palco do passeio alemão no Mundial de 2014.
Depois da vitória contra a Rússia, na sexta – e antes de mostrar o time titular com Fernandinho -, o técnico Tite havia reconhecido a presença de um “componente emocional” no amistoso com os alemães. Pediu, no entanto, que os jogadores brasileiros se preocupassem apenas em impor sua forma de jogo, sem dar demasiada atenção ao contexto da partida.
– Vamos enfrentar a Alemanha com naturalidade, sabendo que é uma seleção campeã mundial e que isso (7 a 1) é uma etapa que passou. Estamos em período de construção, e esse componente emocional trazido pelo jogo é importante, sim. Mas o que nós vamos querer é competir forte, com uma ideia de jogo – argumentou Tite.
Coincidência ou não, Tite decidiu usar no amistoso desta terça-feira todos os seus seis convocados que disputaram a Copa de 2014: Thiago Silva, Daniel Alves, Marcelo, Paulinho, Willian e o próprio Fernandinho – os cinco primeiros foram titulares contra a Rússia na sexta. A ausência de Neymar, machucado, é outro paralelo em relação à partida de quatro anos atrás, quando o camisa 10 da seleção perdeu o duelo contra a Alemanha por conta de uma lesão nas costas.
A expectativa da seleção, claro, é que as semelhanças parem por aí. Na defesa, por exemplo, Tite trabalha para reduzir o número de finalizações permitidas ao adversário. Chamou atenção do treinador, na última sexta, os 10 chutes dados pela seleção da Rússia – embora a maioria deles não tenham sido “limpos”, como ressaltou o goleiro Alisson, e sim com desvio parcial ou completo provocado por algum marcador. A título de comparação, os alemães chutaram 14 vezes na semifinal de 2014; metade entrou, e 12 não encontraram qualquer bloqueio até chegar ao gol.
– Nossa equipe vai trabalhar para que eles não criem oportunidades, se possível nenhuma. Sabemos que isso é muito difícil quando jogamos contra equipes qualificadas. O importante é sempre ter alguém no lance para não deixar o rival chutar sozinho – ensinou Alisson.