O relato de uma jovem sobre uma conversa com um morador de rua em Sorocaba (SP) viralizou nas últimas semanas nas redes sociais. Milena Gonçalves Francisco, de 19 anos, havia ido comprar um lanche quando se deparou com um homem pegando tomates do lixo para comer.
A cena, que poderia ter passado despercebida, sensibilizou a jovem e milhares de internautas. Até a manhã deste sábado (7), a postagem no Facebook tinha mais de 11 mil curtidas, quase 8 mil comentários e mais de 16 mil compartilhamentos.
O pernambucano Cícero Joel da Silva Filho, de 47 anos, é uma das cerca de 1 mil pessoas em situação de rua na cidade. Mas no dia 18 de março, o jantar dele foi diferente.
“Estava com meus amigos indo a uma lanchonete fast food no Campolim, quando me deparei com ele apanhando restos de alimento na rua. Imediatamente comprei um lanche e dei”, relatou a jovem.
“Não imaginava que teria tanta repercussão. Eu recebia uma média de 500 notificações por dia, não conseguia nem abrir minha conta na rede social”, afirma a jovem.
Em entrevista ao G1, Milena afirma não ter sido a primeira vez que conversa com um morador de rua para tentar ajudar. Ela afirma que sempre busca oferecer algo para pessoas em situação de rua comerem.
“Partiu meu coração quando vi que ele estava apanhando tomates do lixo para comer. Na hora precisei ir até ele, senti como uma necessidade e não consegui comer antes de entregar os lanches. Os olhos dele brilharam de felicidade”, relata a jovem.
No post que viralizou, Mile
na detalha que Cícero fica em um semáforo da cidade com uma placa, das 11h às 14, para conseguir R$ 12 e comprar uma marmitex.
Na conversa que durou mais de duas horas, a jovem descobriu o motivo do homem viver nas ruas. “Foi parar na rua em 2014 por causa de um amor que não deu certo. Ele é analfabeto e tem dois filhos.”
Por conta da publicação, Milena afirmou que um amigo conseguiu o contato dos filhos de Cícero e pediu para que o levassem a uma clínica de recuperação. “Eu adicionei a filha dele e ela viu o post”, afirma.
Sobre a experiência e conversa com Cícero, a jovem afirma: “São pessoas ocultadas pela sociedade, mas que não deixam de ser seres humanos como nós!”
Post na íntegra
“Vamos falar sobre esse homem, ele se chama Cícero Joel da Silva Filho.
Ontem junto com dois amigos, estávamos chegando no Mc Donalds, aqui em Sorocaba – SP (unidade do Campolim), quando me deparei com um senhor apanhando alguns restos de alimento, na rua… minha primeira reação, foi o susto. A segunda, foi imediatamente querer comprar um lanche para ele. Tinha certeza que ele estava com fome. Fomos até ele para procurar saber um pouco mais, resumidamente, ele disse que se chamava Cícero, que tinha 47 anos e que era de Pernambuco. Ok, já tinha algumas informações… perguntei se estava com fome, ele disse que sim (óbvio!), então eu junto com meus amigos, fomos até o restaurante onde compramos 1 combo + 1 lanche. Não consegui comer antes de entregar o lanche que havia prometido a ele. Voltamos até o lugar onde ele estava… lá estava ele, paradinho, esperando. O olho dele brilhou de felicidade, disse que gostava muito daquilo, mas que já fazia muitos anos que não comia.
De imediato, a primeira reação dele foi: “NOSSA! Que delícia! Vou levar um para o meu amigo!” Fiquei observando… e pensei “meu Deus! Alguém que não tem nada, mora na rua, ainda sim, pensou no amigo que também vive na mesma situação. E nós muitas vezes com muito mais do que precisamos, não dividimos.”
Ok… papo vai, papo vem. Ele me contou que ele estava na rua, por conta de um amor que não deu certo. Havia se casado aos 16, morava no interior de Pernambuco, nunca estudou na vida, não sabe ler, nem escrever. Se separou em 2001 e está na rua desde 2014, lutando para sobreviver.
Nessa conversa, descobri que ele tem 2 filhos. Uma menina e um menino, seus nomes são Renata Cordeiro da Silva e Renato Cordeiro da Silva. A filha mora em São Bernardo do Campo – SP e o filho em Santo André – SP.
Perguntei a ele por diversas vezes se ele gostaria que fosse gravado um vídeo no qual ele pudesse passar um recado, senti que ele estava envergonhado… não insisti mais, pois ele pediu para que deixássemos para uma próxima vez.
Ele me disse também, que fica no semáforo com uma plaquinha, das 11h às 14h, para juntar 12,00 e comprar uma marmitex para o almoço. Aquilo me doeu o coração… fora que, ele disse que quando não consegue almoçar, come alguns alimentos que encontra por ai.
Depois de muitas horas de conversa, eu percebi que ali, a única pessoa que foi ajudada, foi eu mesma. Até mesmo a refletir na vida que tenho, que às vezes somos ingratos e insatisfeitos, mas que moramos no CÉU! Temos comida, uma cama para dormir, um teto para morar, chuveiro para tomar banho quantas vezes quisermos… e o seu Cícero disse que, essa vida ele não deseja nem para o pior inimigo.
Às vezes, por preconceito ou proteção, não notamos o quanto essas pessoas precisam! O quanto uma ajuda muda realmente o dia daquela pessoa… são pessoas ocultadas pela sociedade, mas que não deixam de ser SERES HUMANOS como nós!
Por favor, quem puder me ajudar compartilhando, eu serei eternamente grata. Talvez, seja uma forma de encontrar seus filhos que estão tão perto daqui… estou arrecadando também roupas e coisas como cobertor, travesseiro, alimentos… qualquer tipo de ajuda será muito bem-vinda!
Ele me disse o lugar onde dorme e permitiu as postagens. E caso mais alguém se interesse em ajudar, podemos ir até ele!
Obrigada a todos e Deus abençoe! ❤️
Ps: esse é apenas um resumo de uma conversa que durou aproximadamente 2h30.”