Desde o início da tarde deste domingo (15), trabalhadores e trabalhadoras rurais Sem Terra montam acampamento em Maceió, na Praça Sinimbu, no centro da cidade. Vindos de todas as regiões de Alagoas, os camponeses e camponesas marcam o início da Jornada de Lutas pela Reforma Agrária que mobiliza trabalhadores rurais em todo o país, pela passagem da data que marca o Massacre de Eldorado dos Carajás, onde 21 militantes do MST foram assassinados pela Brigada Militar no estado do Pará há 22 anos atrás.
Os barracos de lona já tomam toda a Praça Sinimbu, que deve receber cerca de cinco mil Sem Terra organizados no MST, na Comissão Pastoral da Terra (CPT), no Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), Movimento Via do Trabalho (MVT) e no Movimento de Luta Pela Terra (MLT).
Os camponeses realizam uma intensa agenda de lutas na capital durante toda a semana, incluindo ações de solidariedade com a sociedade maceioense, como a doação de sangue prevista para acontecer na manhã de segunda-feira (16). De acordo com Josival Oliveira, da coordenação do MLST, a Jornada de Lutas cumpre o caráter de denunciar a violência e a impunidade no campo e o paralisia na Reforma Agrária.
“Esses dias de luta na capital são importantes para dialogar com a sociedade e instituições, mas sobretudo cobrar dos governos estadual e federal de que é preciso dar uma guinada diferente no que diz respeito à Reforma Agrária, fazendo com que, de fato, a gente diminua a concentração de terra que existe em nosso país e em nosso estado”.
“Nossa luta denuncia mais uma vez a violência no campo, o atraso e a paralisia da Reforma Agrária e reafirma para a sociedade que a Reforma Agrária é um instrumento capaz de mudar e de acabar com a miserabilidade do país, fazendo com que centenas de trabalhadores possam com sua terra, ter a sua vida garantida em seu aspecto político, social e econômico construído a partir de sua relação com a terra”, disse Josival.
Reforma Agrária já!
Marcado como o ano zero da Reforma Agrária no Brasil, o ano de 2017 não foi criado nenhum assentamento no país, demarcando a paralisia da Reforma Agrária e o descaso do atual governo com as políticas para o campo brasileiro.
Josival Oliveira, da coordenação do MST ressaltou a necessidade da organização, da unidade e da luta para avançar na resolução dos problemas das diversas famílias que hoje ainda vivem sob a lona preta, nos acampamentos e também das condições de vida digna às famílias que vivem nos assentamentos da Reforma Agrária, com condições para produção, comercialização, educação, saúde e etc.
“A unidade campesina em Alagoas significa resistência, trazendo mesmo em sua diversidade, a convergência na unidade capaz de lutar para transformar a vida de diversos trabalhadores e trabalhadoras que vivem acampados, lutando pelas terras da massa falida do Grupo João Lyra e cobrando políticas públicas para o campo alagoano. Em unidade, voltamos à capital com a disposição de resistência e luta em defesa da Reforma Agrária e do povo alagoano”, comentou Oliveira
Carajás: 22 anos de impunidade
“Na passagem do dia 17 de abril, que marca o massacre que ocorreu no Pará há 22 anos, temos a responsabilidade de denunciar a violência e a impunidade que vive o campo brasileiro”, destacou Débora Nunes, da coordenação do MST.
“A impunidade dos casos de violência contra os camponeses, camponesas e defensores dos direitos humanos estimula o aumento do número de mortes, ameaças e perseguição”, explicou Nunes.
Segundo a coordenadora do MST, as ações em todo o país também demarcam a posição contra a criminalização dos movimentos populares. “Temos visto de maneira recorrente o uso de forças policiais para reprimir as lutas políticas por direitos do povo que cada vez mais é afetado pelas medidas neoliberais do golpe que estamos vivendo. Nas ruas e em movimento, reafirmaremos que lutar não é crime, seja no campo ou na cidade”.
Dados divulgados pela CPT, afirmam que somente nesses dois anos do período golpista, foram assassinados mais de 100 trabalhadores do campo, lideranças camponesas e indígenas, no Brasil. “São esses dados que colocam todos os lutadores e lutadoras a lembrarem e resistirem em memória aos que tombaram em Eldorado e em luta contra a violência e a impunidade, ainda presentes nos dias de hoje”.
Na ocasião do massacre, 21 Sem Terras foram assassinados durante uma marcha em Eldorados dos Carajás (PA). O coronel Mario Colares Pantoja e o major José Maria Pereira, que comandaram o massacre, foram presos apenas 16 anos após o massacre, em maio de 2012. Os 155 policiais militares executores diretos do massacre foram absolvidos. O então governador do estado do Pará, Almir Gabriel (que morreu em fevereiro de 2013) e o secretário de Segurança Pública, Paulo Sette Câmara, não foram indiciados.
“Nestes 22 anos, vimos passar impune este crime que chocou a humanidade, como também testemunhamos cada dia a posição classista da justiça brasileira: cega quando se trata dos pobres, dos que lutam, mas muito ágil quando se trata de defender os negócios, as empresas e dos empresários”, finalizou Débora.