Antes mesmo de entrar em campo para sua despedida, amanhã, contra o América-MG, o goleiro Julio Cesar fez boas defesas. A mais difícil foi relativizar a má fase do Flamengo, sobretudo do meia Diego. O camisa 10 se tornou o símbolo de uma equipe que não consegue evoluir e apresenta dados individuais preocupantes. Em seus três jogos na Libertadores, nenhum gol, e atuações predominantemente fora da área. É o que mostram os mapas de calor do meia contra Santa Fé, Emelec e River Plate, no Footstats.
– A cobrança em cima dele vai ser enorme. Sei o quanto ele quer dar para a torcida e para esse clube. Quer a bola o tempo todo no jogo. Ele não conseguiu criar o que gostaria. Fazer os gol que ele mesmo criou as chances. Mas quando o time estiver confiante, vai dar muitas alegrias – pontuou Julio Cesar, citando uma característica do jogo de Diego contra o Santa Fé, que vale para os demais – recuar para buscar a bola.
Com o esquema de apenas um volante, é dele a função de fazer a transição ao ataque. Por isso Diego concentra sua atuação á frente do grande círculo do meio-campo, com ênfase pelo lado esquerdo. Praticamente não entra na área. No caso de Everton Ribeiro a movimentação é muito menor, pela ala direita. Na última partida, Diego teve uma finalização errada no primeiro tempo e uma no gol no fim do jogo. Ambas desperdiçadas. Além da falha no gol colombiano.
O empate deixou o Flamengo com cinco pontos no grupo 4 da Libertadores e precisando da vitória contra o mesmo adversário na quarta-feira, fora de casa. Embora logo depois do jogo os muros da Gávea tenham sido pichados, o goleiro Julio Cesar, que simboliza a tentativa de virar a chave por enquanto, vê críticas exageradas.
– Acho que fazem uma tempestade em copo d’água. Não vi o Flamengo fazer um péssimo jogo. A bola não entrou. Tenho certeza que o Flamengo vai se classificar – afirmou.
Pela primeira vez, Diego apareceu no muro da Gávea como um dos jogadores que a torcida do Flamengo quer ver fora do clube. Protagonista desde que chegou, o meia brilhou em 2016, teve um 2017 marcado por uma lesão que o tirou da primeira fase da Libertadores, e nesta temporada tenta dar a volta por cima em uma nova posição. Nos esquemas anteriores, Arão, que teve o nome citado no muro, vivia boa fase para fazer a transição ao ataque. E dava mais proteção ao lado de um primeiro volante, Cuéllar ou Marcio Araújo. Desta vez, Diego une as funções de transição e criação e não faz nenhuma das duas bem feitas. Mesmo assim, é intocável no time.
As possíveis vaias que devem se confundir com o aplauso a Julio Cesar na sua despedida dificilmente não chegarão ao camisa 10 amanhã. O goleiro lembra que não quer aplausos para ele e críticas ao time.
– O torcedor vai apoiar o Flamengo. Não o Julio Cesar. Me sinto honrado por ter já 40 mil ingressos vendidos. Mas para prestigiar o Flamengo. A gente vem de um empate, em que o torcedor não ficou feliz, mas nós também não. Temos que caminhar todos juntos – destacou o goleiro, que ontem confirmou a informação da reportagem de que o clube o procurou para uma renovação de contrato, mas ele não quis.
– Estou bastante consciente da minha escolha. Com os três meses de convivência, conversamos, o clube deu ideia de extensão de contrato, mas eu tinha a ideia fixa. Por problemas físicos eu escolhi não continuar – revelou Julio Cesar.
Esquecidos se destacam em treino
A dificuldade de o Flamengo encaixar novamente seu esquema levantou novas duvidas sobre a melhor escalação, e o interino Maurício Barbieri teve a chance de observar opções em um jogo-treino ontem, contra o Tigres. Além da certeza da falta que Guerrero faz, o técnico viu peças como Ederson, Trauco, Marlos e até o jovem Jean Lucas darem boa mobilidade ao meio-campo/ataque. O placar de 4 a 0 foi o de menos – gols de Guerrero, Ederson, Marlos e Rômulo.
Com uma zaga titular lenta, é cada vez mais importante que volantes e laterais se desdobrem na marcação e na transição do time, justamente para não sobrecarregar Diego. O lado esquerdo, que perdeu Everton, negociado ao São Paulo, funcionou bem na atividade, com Trauco no apoio a Marlos, e Jean Lucas por dentro.
O trio não tem sido nem relacionado. O lateral peruano participou das principais jogadas mesmo com outras peças testadas, entre elas Guerrero, que ainda não pode jogar. No momento, Renê é o titular, mas tem falhado junto com a zaga central. Diante do América-MG, não estão descartadas algumas mexidas na equipe. Geuvânio, que tem dado força na ponta direita, também ganha força. Apesar da boa atuação, Ederson, que se recuperou de um câncer, ainda não tem data para voltar.