Chega ao fim o mistério sobre o assassinato do advogado José Fernando Cabral de Lima, de 51 anos, morto com dois tiros na cabeça no início de abril, em uma casa de câmbio instalada na Galeria Ivone Mendes, no bairro da Ponta Verde. A Polícia Civil de Alagoas afirmou em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, 02, que o crime foi motivado por dívidas e executado a mando do sócio da vítima, o também advogado José Sinval Alves.
Lembre o Caso: Advogado foi assassinado com dois tiros à queima-roupa, diz perícia
A delegada responsável pelo caso, Simone Marques, ao lado dos delegados Eduardo Mero – coordenador da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) – e Paula Francinete – delegada plantonista que atendeu o caso no dia do crime – explicou como tudo aconteceu.
“José Sinval tinha uma dívida de mais de R$ 600 mil com o então sócio Fernando Cabral. No dia do crime, ele tinha agendado uma reunião na casa de câmbio – que ainda não estava em atividade – para discutir a dissolução da sociedade entre os dois. Tudo desculpa para forjar um latrocínio – versão inicial estudada pela polícia e que logo foi descartada – que na verdade era um plano de execução encomendada por ele”, explicou o coordenador da DHC.
José Sinval teria a intenção de matar o sócio há a algum tempo, chegando a procurar um primeiro grupo para executar o plano. Os criminosos em questão, ainda não identificados, teriam cobrado o valor de R$ 50 mil, quantia considerada alta por ele, fazendo com que ele desistisse momentaneamente da ação.
Um segundo grupo foi contratado e cometeu o crime, segundo combinado, em troca de um valor de R$ 15 mil a R$ 30 mil, pagos a Denisvaldo Bezerra da Silva Filho, preso em Maceió, e Irlan Almeida de Jesus, preso na última sexta-feira (27) em Salvador (BA), seu estado natal. Eles seriam os dois homens que aparecem chegando e fugindo em uma motocicleta do local do crime em imagens gravadas por câmeras da região.
Veja Ainda: Câmeras flagram assassinos de advogado em galeria na Ponta Verde; Vídeo
Antes da prisão da dupla, o próprio José Sinval já havia sido preso suspeito de envolvimento no crime, após um homem ligado ao primeiro grupo procurado por ele, identificado como Raimundo Pereira de Souza, conhecido como “Carrasco Gesseiro”, ter ido à polícia e revelado informações sobre as motivações do caso. O sócio ainda nega a participação no crime.
O Bilhete
Carrasco Gesseiro tomou conhecimento das intenções do sócio e tentou alertar Fernando Cabral com a intenção de extorqui-lo em troca da informação. Ele teria tentado falar pessoalmente com o advogado, mas sem sucesso, deixou um bilhete na portaria do escritório da vítima informando que uma pessoa de sua confiança iria traí-lo e que ele deveria tomar cuidado. O bilhete foi encontrado na carteira da vítima pela perícia.
O informante explicou ainda que após o crime ganhar repercussão, procurou José Sinval, e em um encontro num café de um prédio comercial do bairro da Jatiúca perguntou “o que ele poderia ganhar para ficar quieto”, mas que o homem não teria se intimidado.
“O bilhete em questão foi escrito no verso de um pedaço de folha de um Boletim de Ocorrência, com papel timbrado da PC. O restante do papel foi achado posteriormente nas coisas de Sinval, confirmando sua ligação com o crime”, explicou a delegada Simone Marques.
Os três homens – autor intelectual e autores materiais – estão no sistema prisional. Será pedido a prorrogação das prisões preventivas dos suspeitos que devem ser novamente ouvidos.
Os delegados revelaram ainda que a motocicleta utilizada no crime foi alugada e que o o proprietário do veículo não tem ligação com o crime, bem como foi descartada qualquer participação do funcionário da casa de câmbio que estava no local no dia do homicídio.
OAB
O representante da Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB), o advogado Ronald Pinheiro acompanhou a entrevista coletiva e informou ao Alagoas24Horas que está satisfeito com o trabalho desenvolvido pela Polícia Civil e que irá instaurar um processo administrativo disciplinar para suspender cautelarmente O exercício de advocacia do também advogado José Sinval Alves.
“Inicialmente a OAB vem parabenizar a Polícia Civil do estado de Alagoas, que executou um trabalho hérculio, dentro do prazo, apresentando os autores intelectuais e materiais, o que é de grande importância, por não deixar esse crime impune”, explicou.
E continua: “É bem verdade que nunca conseguiremos restituir a vida do Fernando. Mas o primeiro passo foi feito hoje, em sentido de fazermos justiça”, concluiu o representante.
A entidade se pronunciou também por meio de nota oficial. Confira:
Após a conclusão, pela Polícia Civil de Alagoas, do inquérito sobre o assassinato do advogado José Fernando Cabral de Lima, a Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB/AL), através do Tribunal de Ética e Disciplina (TED), irá avaliar quais as medidas cabíveis em relação ao advogado e sócio da vítima, Sinval José Alves, apontado nas investigações como possível autor intelectual do crime.
Segundo o presidente do TED, Telmo Calheiros, o tribunal irá analisar toda a documentação referente ao caso. “Vamos analisar toda a documentação com a conclusão do inquérito e, partir daí, saberemos que procedimento será adotado”, colocou.
A presidente da Seccional Alagoana, Fernanda Marinela, ressaltou o papel da instituição desde o início do caso. “Nosso papel, enquanto instituição, era buscar junto à Polícia Civil de Alagoas a conclusão do inquérito e a elucidação do caso, com a punição dos culpados no rigor da lei, independente de quem estivesse envolvido neste brutal assassinato. A partir de agora iremos adotar as medidas cabíveis através do Tribunal de Ética e Disciplina”, acrescentou a presidente.
A atuação da Polícia Civil de Alagoas foi ressaltada pelo advogado Ronald Pinheiro. “A Polícia agiu de forma responsável e desde o início, com muita cautela, demonstrou total empenho às investigações, para chegar à conclusão do inquérito policial. Tivemos em constante diálogo, encontramos as portas abertas. Agora, nossa instituição irá adotar os procedimentos necessários, sempre respeitando o direito a defesa e ao contraditório”, finalizou Ronald Pinheiro.