Um recém-nascido, de 20 dias, morreu na sala de emergência do Pronto Socorro de Bertioga, no litoral de São Paulo, após contrair uma pneumonia e não conseguir uma vaga em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. Daniel esperou a transferência por cinco dias, mas não respondeu aos medicamentos.
Daniel nasceu no dia 11 de abril, com 39 semanas, sem complicações. No dia 23 de abril, com 11 dias, o recém-nascido começou a apresentar sinais de gripe e foi levado ao Pronto Socorro da cidade. “Nos disseram que era uma gripe leve e que com soro resolveríamos o problema. No dia 25, retornamos com ele, que já estava com uma falta de ar grave, aí ele foi internado”, explica a tia de Daniel, Thamirys Marques, de 26 anos.
De acordo com a família, imediatamente foi solicitado um raio-x que constatou bronquiolite. “Para um recém-nascido, que ainda não tem um sistema imunológico formado para se defender, isso é muito grave”, conta. Daniel começou a receber medicamentos e foi solicitada, por meio da Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross), a transferência para uma UTI Neonatal.
No último domingo (30), o estado de saúde do recém-nascido se agravou e um novo raio-x apresentou comprometimento de todo o pulmão direito de Daniel, que já estava com pneumonia aguda, de acordo com os médicos. “Eles trocaram a medicação e começaram a procurar vagas não só no litoral, mas em todo o Estado. Infelizmente, não tinha vaga em lugar nenhum. Tentamos todas as alternativas.”
O recém-nascido foi transferido da sala de emergência para um local de estabilização, onde seria acompanhado mais de perto pelas equipes da unidade de saúde mas, mesmo com o esforço de todos, Daniel não respondeu à medicação e morreu na madrugada desta terça-feira (2), com apenas 20 dias.
“Não culpo o Pronto Socorro. Os médicos fizeram de tudo para tentar salvá-lo. A direção colocou duas enfermeiras por plantão à disposição para ficarem com ele, então nós não temos do que reclamar. Mas a cidade tem um hospital inativado, ao lado do Pronto Socorro, que tinha previsão de ter uma UTI Neo. Só que a obra está parada”, declara a tia.
Em nota, a Secretaria de Saúde de Bertioga disse que o bebê estava sendo mantido no Hospital Municipal de Bertioga com todos os cuidados possíveis de média complexidade ao alcance do município, aguardando transferência para vaga de UTI por meio do sistema CROSS, órgão da Secretaria do Estado da Saúde.
Ainda em nota, a administração informa que a vaga não saiu, mesmo após diversas tentativas feitas pelos diretores do Hospital, que explicaram detalhadamente o caso para as unidades da Região que contam com UTI. “Segundo as respectivas administrações dos Hospitais da Baixada Santista, o recém-nascido não poderia ser transferido, já que todos os leitos de UTI estavam ocupados e com pacientes na fila de espera por vaga”.
A Secretaria informa ainda que o Estado não repassa para Bertioga nenhum financiamento para o serviço médico. Mais de 90% do custeio da saúde é feita pelo município, já o restante é transferência do Ministério da Saúde. No projeto de ampliação do Hospital Municipal há previsão de 10 leitos de UTI adulto. As obras estão paralisadas em função da não renovação do convênio por parte do Estado.
Por nota, a Central de Regulação de Vagas da Baixada Santista esclareceu que após receber a solicitação da unidade de origem do bebê, imediatamente acionou todas as unidades de referência para o caso, sendo elas estaduais ou municipais.
A Central de Regulação da Baixada Santista acionou inclusive a Cross (Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde), que apoia o serviço regional quando é necessário buscar recurso em outra região do Estado, e também contou com apoio do Departamento Regional de Saúde (DRS) da Baixada Santista, reunindo esforços para viabilizar a transferência.
Destacou também que, com relação as vagas sob gestão do município, cabe às prefeituras a responsabilidade e controle destes leitos, sendo fundamental para a Cross a correta informação sobre a disponibilidade das vagas. ‘Apenas a disponibilidade de vagas não é suficiente para realizar a transferência de pacientes. É necessário que haja condições clínicas adequadas, com quadro estável e livre de infecções, por exemplo’, diz a nota.