Samuel Umtiti foi o grande herói da França na classificação para a final da Copa do Mundo. Mas ele é mais um da série de jogadores que poderia estar defendendo as cores de um país completamente diferente. O zagueiro é nascido em Iaundé, a capital de Camarões. E o país africano tentou de tudo para convencê-lo a jogar por lá. Até o ídolo Roger Milla entrou nessa missão, mas não conseguiu sucesso.
“Eu ainda tenho família em Camarões, mas fui só duas vezes para lá. É parte das minhas raízes, mas não me lembro de como era morar lá. Minha escolha já foi feita, bem pensada. Eu quero defender a França desde o começo. Foi uma decisão lógica e natural. Eu cresci na França, tive toda a minha formação na França e usei a camisa azul em todas as categorias de base”, disse à época em que se decidiu pelos Bleus.
Umtiti trocou Camarões pela cidade de Lyon logo aos dois anos de idade. Aos cinco, começou a jogar futebol. Mas não podia nem pensar ainda em só se dedicar a isso. “Eu não podia treinar se não terminasse a lição de casa”, lembra o jogador sobre as regras impostas por sua mãe.
Mas ele parecia mesmo ter o futebol em suas veias. Com oito anos, foi descoberto pelo Lyon e começou a jogar pelo clube. Foi titular e capitão em todas as categorias de base, sempre com um porte físico que o fazia parecer mais velho.
Aos 18, estreou como profissional no Lyon. Por lá, dividiu espaço com brasileiros. Um deles foi até seu companheiro de zaga. Revelado pelo Corinthians, Cris construiu boa parte de sua carreira no clube francês, onde foi ídolo. E estava lá justamente quando Umtiti chegou à equipe de cima.
“Ele subia para fazer coletivo e jogava de zagueiro e lateral esquerdo. Na época o pessoal queria colocar ele como lateral porque não tinha tamanho ideal para zagueiro. Eles gostam do zagueiro grande. Mas nos treinos ele antecipava bem, tinha um jogo de cabeça muito bom e um tempo de bola ótima”, disse Cris, ao ESPN.com.br.
O zagueiro brasileiro recorda que à época recomendou ao técnico do Lyon para acertar a posição do jovem.
“Eu disse: ‘Por que você coloca ele de lateral se ele tem todas as qualidades de zagueiro? É bom de cabeça, tem a antecipação, é rápido. Tem que colocar de zagueiro, ainda mais canhoto, que temos poucos'”, falou Cris.
“Ele começou a jogar no time B e a treinar com a gente na zaga. Sempre conversava com ele, dava explicação e conselhos sobre ser zagueiro”, explicou o ex-defensor brasileiro.
A proximidade entre o francês e o brasileiro era tão grande que rendeu um curioso apelido.
“Quando cheguei na França, fui apelidado de ‘Caçapa Branco’ (em referência ao também brasileiro Cláudio Caçapa, outro ídolo da equipe). Agora o Umtiti vai ser o ‘Cris Negro’”, brincou o brasileiro em uma entrevista à época.
Outro que dividiu espaço com o zagueiro foi Ederson, que lembra dele com admiração.
“O Umtiti era bem moleque, mas como todo zagueiro tinha a cara mais fechada, era mais sério, apesar de ser jovem. É muito trabalhador, dedicado, concentrado, sempre demonstrando grande competência. Sempre teve uma boa saída de bola. É difícil ver um zagueiro canhoto, no Lyon muitas vezes jogou também na lateral-esquerda. Também tem presença de área”, diz.
Aos 22, Umtiti já era comprado por 25 milhões de euros (R$ 114 milhões) por ninguém menos que o Barcelona, onde já virou uma espécie de ídolo da torcida.
“Hoje você vê a qualidade enorme, está na seleção francesa e no Barcelona. É um jogador de muito caráter, um líder de vestiário. Uma pessoa que não fala muito dentro de campo, mas dentro do vestiário ele conversa bastante e que tenta orientar. Quando tiver que dar porrada ele vai dar porrada”, analisou Cris.
“É uma pessoa que vi crescer e fico feliz com o sucesso dele porque a gente estava ali e jogou com a gente e cresceu muito”, elogiou o ex-zagueiro brasileiro.
Apesar do sucesso que obteve no Barcelona, Umtiti já admitiu que também jogava com o arquirrival Real Madrid no videogame quando era mais jovem.
A França espera o vencedor de Inglaterra e Croácia, que será decidido nesta quarta-feira, às 15h (de Brasília), pela semifinal da Copa do Mundo , em São Petersburgo.