Depoimentos reforçam suspeita de que marido matou advogada

A promotora Dúnia Serpa Rampazzo, do Ministério Público do Paraná (MP-PR), informou, nesta quinta-feira (26), que informações coletadas pelas investigações apontam que a advogada encontrada morta após queda do 4º andar de um prédio estava em “uma relação abusiva”.

Tatiane Spitzner, de 29 anos, foi encontrada morta na madrugada de domingo (22), em um apartamento no Centro de Guarapuava, na região central do Paraná. O marido dela, Luis Felipe Manvailer, de 32 anos, foi preso em São Miguel do Iguaçu, a mais de 300 km de Guarapuava, após sofrer um acidente na BR-277. Ele é investigado por suspeita de feminicídio.

“Até o momento, existem elementos que demonstram que havia um relacionamento abusivo, de violência de gênero dele, em face da vítima. E a vítima era oprimida nessa relação”, declarou Rampazzo.

A promotora disse que acompanha as investigações desde quarta-feira (25). Ela explicou que, além das provas testemunhais que já estão em estágio mais avançado, os resultados das perícias estão sendo aguardados para consolidar o entendimento a respeito do caso.

Segundo Rampazzo, familiares e testemunhas ouvidas até esta quinta dão embasamento para mostrar como era a relação do casal.

“Pelos depoimentos prestados, havia a intenção dela de querer se separar nos últimos tempos”, afirmou.

A promotora informou que assistiu às imagens de câmeras de segurança anexadas ao inquérito e disse que elas mostram uma relação muito abusiva.

“Era uma relação de muita opressão masculina em relação à esposa, em relação à mulher nessa situação. Uma violência de gênero muito gritante”, afirmou.

Para Rampazzo, o relacionamento do casal era exibido nas redes sociais de uma maneira muito diferente da realidade.

“Havia muito a questão de harmonia em redes sociais. O casal perfeito. Mas, no âmbito interno, no âmbito familiar, não era dessa forma, como era exibido nas redes sociais”, detalhou.

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Depoimentos
Nesta quinta-feira, o pai de Tatiane Spitzner prestou depoimento por cerca de uma hora e meia. Outras quatro pessoas também foram ouvidas.

O advogado Gustavo Scandelari, que representa a família de Tatiane, acompanhou o depoimento do pai e disse que as informações repassadas por ele contradizem muitas coisas ditas pelo marido.

“Há muito indícios que comprovam que a doutora Tatiane estava querendo o divórcio, ela vinha falando sobre isso com amigas, com os pais e com o próprio suspeito, o qual negava qualquer possibilidade de divórcio. Ele se recusava a aceitar isso. Relatos de que ele ficava violento de que a relação nos últimos 30 dias, ou mais, dois meses atrás, ela se tornou abusiva em alguns momentos”, declarou.

Para o advogado, mesmo com as investigações ainda em andamento, há indícios de que houve crime.

“Existem, lamentavelmente, indícios de que houve um crime, um crime bárbaro e nós estamos aguardando a conclusão dessas provas, oficialmente, para que possamos conduzir doravante com o nosso acompanhamento desse caso”, informou.

Entre os sinais apontados por Scandelari está o comportamento agressivo do suspeito relatado por testemunhas e a forma como ele agiu logo após a morte da esposa.

“É muito difícil de compreender e de aceitar que alguém, um marido que supostamente ama sua esposa, não tenha pedido por socorro, não tenha batido na porta de vizinhos, não tenha ligado para autoridades e tenha feito o que fez”, pontuou.
De acordo com a promotora, pessoas que residem na Alemanha, e que conviveram com o casal, também devem prestar depoimento.

A defesa de Luis Felipe Manvailer informou que não vai se manifestar até ter conhecimento de todos os fatos com clareza.

O que diz o marido
Em depoimento prestado na Delegacia de São Miguel do Iguaçu, ainda no domingo, Luis Felipe Manvailer disse que a mulher se jogou da sacada do apartamento e que ele recolheu o corpo dela da calçada e levou para dentro do apartamento em um ato de desespero.

De acordo com as investigações, a queda foi pouco antes das 3h de domingo. Imagens de uma câmera de segurança que fica na mesma rua do prédio mostram o carro do Instituto Médico-Legal (IML) indo em direção ao edifício quase uma hora depois. Também é possível ver a movimentação de carros da polícia.

Segundo o depoimento de Manvailer, o casal começou a brigar em um bar de Guarapuava porque ele não deixou que a mulher visse mensagens em um aplicativo de celular. Os dois resolveram ir embora e, no depoimento, ele conta que a briga se agravou em casa.

Ao ser ouvido pela Justiça, em uma audiência de custódia realizada na segunda-feira (23), Manvailer disse que perdeu o controle do carro na BR-277, a 300 km de Guarapuava, e se envolveu em um acidente porque a imagem da esposa “pulando a sacada” não saía da cabeça dele. De acordo com a polícia, tudo leva a crer que o marido estava fugindo em direção ao Paraguai.

Manvailer está preso em uma ala especial da Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG) deste terça-feira (24).

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