Foi dada a largada para as eleições desse ano, temos 13 ou 14 candidatos a presidente, tem gente para todos os gostos e isso devia ser bom, só que não… Tantas opções não tem sido suficiente para acolher diferentes opiniões, continuamos com o comportamento de torcida de futebol, ou somos “contra ou a favor”, só não sei exatamente o que isso significa.
Diante de tantas possibilidades eu tenho pensado cada vez mais, em dedicar cada vez menos tempo às interações em redes sociais até o fim da campanha, esse início já me assustou e estou com receio de ficar definitivamente só na vida digital ou na real, por ter opiniões.
Eu gosto de telejornais e saio assistido um ou outro, repetindo notícias, mas apesar de reprisar muito, não consigo deixar de me chocar e emocionar com o que vou vendo e essa semana teve uma overdose de violência, uma verdadeira lista de horrores.
O Brasil é o quinto país do mundo com mais crimes contra mulheres, tivemos 50 mil casos de estupro num ano, somos o país com o maior número de linchamentos do mundo (aquela justiça feita pelas próprias mãos de pessoas “normais”), somos campeões em número de policiais mortos, nossa guerra cotidiana mata mais que o conflito na Síria, resumindo, se o assunto for violência, somos “potência”.
Se você é da turma que se choca e não consegue concluir um vídeo que recebeu pelo watsaap com alguém sendo executado, se acredita que o estado de direito, com julgamentos e punições, é um ganho civilizatório, se não passa pela sua cabeça matar ninguém, vai compreender perfeitamente minha aflição.
A escolha de um presidente tem muitos aspectos a ser considerado, abordar a violência é um começo, afinal ela só se agrava e passa por muitas outras políticas públicas que precisam ser enfrentadas, se queremos mudar essa cruel realidade, foi aí que constatei que sendo um povo de índole violenta, só sabemos debater ideias com violência e com sugestões violentas.
É um desejo unânime (acho que até do bandido), assegurar um País mais seguro para seus filhos, a conversa só azeda quando começamos a discutir propostas. Assim como somos todos técnicos de futebol, médicos e loucos, somos todos especialistas em segurança e achamos que temos as soluções, ainda que não conheçamos um único número estatístico.
Algumas das propostas que tenho ouvido me causam surpresa, por exemplo: armar a população civil, pena de morte ou tolerância zero com mais cadeias (bem punitivas), tem sido uma constante, o que tem me levado ao silêncio por medo. Nunca me ocorreu estar tão próxima de tanta violência.
Eu costumo exercer a prática de me colocar dentro do assunto e quando ouço essas sugestões, penso o seguinte: como uma arma poderia ajudar na minha segurança? Caso eu compre uma, não sei usar, se aprender, não teria coragem de usá-la contra ninguém, eu sou pacífica. Daí me vem à seguinte dúvida, se uma pessoa pacífica não consegue usar uma arma, um civil que pretenda fazer uso dela é violento? Nessa equação a violência só aumenta.
Violência só gera violência…
Ouvi um estudioso no assunto afirmar que “a polícia que mais mata é a polícia que mais morre”, nossos policiais estão entre os mais violentos do mundo e exatamente por isso entre os que mais correm riscos.
Como pensar em pena de morte em uma realidade onde não esclarecemos uma boa parte dos crimes? Uma sociedade em que gente como a gente acredita que é matando e esfolando que vamos solucionar os problemas existentes de violência, adoeceu.
Os EUA que tanto admiramos, cheio de armas, tem aproximadamente 5% da população do mundo e 25% dos presos mundiais, e nem por isso estão seguros dentro das escolas e universidades. Ainda que infinitamente mais seguro que no Brasil, estão em desvantagem que a maioria dos países europeus desarmados.
Eu sou mãe de um filho único, que foi assaltado a mão armada por causa de um celular, a simples ideia de tê-lo sob a ameaça de um revolver me apavora, eu também quero uma sociedade pacífica, sou da classe média trabalhadora, preservo valores de família, sou contra corrupção, pago um monte de impostos, em nada a minha vida difere da grande maioria, talvez por isso não consiga entender o que é ser “contra ou favor”, mas me nego a desejar um mundo em que eu tenha que fazer justiça com as próprias mãos.
Nunca vi nada mais chato que aqueles vídeos do projeto “O Brasil que eu quero para o futuro”, mas eu vou aproveitar o “mote” e dizer, eu quero que haja pelo menos um, entre tantos candidatos a presidente, que se apresente não como “salvador da pátria”, mas com serenidade para melhorar a vida do conjunto do nosso povo, de forma inclusiva, objetivando a diminuição das diferenças abissais, que governe para maioria, que fale em nome da paz.
As redes sociais tem muita coisa boa, mas deu visibilidade para um monte de equívoco. Chego a pensar que com um celular na mão, seríamos capazes de deflagar a terceira guerra mundial. Quero um Brasil que TENHA FUTURO, e isso já é muito.