Da série “eles cresceram” (e como cresceram!), a ex-atriz mirim Ana Karolina Lannes, a intérprete de Ágatha de “Avenida Brasil”, completou 18 anos em maio e hoje leva uma vida cheia de responsabilidades e também de liberdade.
Há um ano, ela deixou a casa dos pais em São Paulo e se mudou para a região Centro-Oeste do país para estudar Artes Cênicas na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS). Karol Lannes, seu atual nome artístico, mudou o visual, hoje trabalha como DJ em uma boate gay em Campo Grande (MS) e revelou há um ano para os pais ser homossexual. Apesar de nunca ter falado publicamente, o assunto é tratado com naturalidade pela atriz.
“Nunca escondi, mas também nunca falei com todas as letras. Até por conta dos meus pais, porque eu sei da exposição que isso causaria para eles. Mas eu acho que agora cada um está tendo a sua vida. Eu sou lésbica, e não é porque eu fui criada por pais gays. Esse julgamento é o meu maior medo”, diz ela.
Karol foi criada por Fábio Lopes e o companheiro dele, o dermatologista João Paulo Afonso. Apesar da liberdade que tinha em casa, ela conta que demorou para abrir o jogo com eles:
“Contei um pouco antes de sair de casa. Eles tiveram uma reação um pouco controversa. O medo deles seria de eu passar por coisas ruins, como as que eles devem ter passado. Eles me apoiam, perguntam se eu estou namorando e respeitam as minhas escolhas. Já vi muitos comentários no Instagram dizendo que eu ia ser lésbica porque os pais são gays, mas se dependesse dos meus pais, eu ia ser o hétero mais hétero do mundo, eu ia gostar de homem, porque a vida inteira eu vi eles falando de homens bonitos e isso e aquilo. E outra: os meus pais queriam que eu fosse a princesinha. Então, não tinha sentindo nenhum eu ser ‘sapatão'”.
A intérprete da filha rejeitada pela vilã Carminha (Adriana Esteves), no grande sucesso do autor João Emanuel Carneiro, hoje aproveita a fama e a visibilidade para atuar em defesa da comunidade LGBTQ+.
“Hoje em dia, eu sou muito mais ativista. Aqui em Campo Grande, vou na Parada Gay, tenho um trabalho com a casa que abriga homossexuais despejados de casa. É uma causa muito linda. Eles fazem sarau, eu toco e canto. A casa em que eu toco (como DJ) é uma casa LGBT. E sempre que eu posso, eu divulgo as drags”.
Karol, que está solteira, conta que beijou uma menina pela primeira vez aos 15 anos e que já teve um relacionamento sério com uma moça que mora em São Paulo. Nas redes sociais, a atriz esbanja atitude e personalidade. Ela explica que pintar os cabelos de vermelho era um desejo antigo, mas que só foi possível depois de deixar a casa dos pais, já que eles não eram muito a favor da ideia. Hoje, Karol comemora o fato de poder ser ela mesma, não ter nada a esconder e poder ajudar, de alguma forma, a acabar de uma vez por todas com o preconceito.
“São poucas as atrizes que são assumidas, porque elas têm muito medo de rejeição. ‘Ah, dizem que uma sapatão não pode fazer um papel hétero. Quantos anos já faz que essas atrizes têm essa sexualidade? Desde sempre. E por que agora? Porque agora a gente está tendo uma voz que vai contra uma voz que está nos difamando e nos ameaçando. Na época da escola, uns moleques pegavam no meu pé quando eu não queria ficar com eles, mas só. Não sofro preconceito, mas ele existe. Eu só ando com pessoas que eu sei que vão me aceitar do jeito que eu sou”.