Não há dúvida no Internacional, seja nos gabinetes ou nas arquibancadas, que Odair Hellmann é o técnico para 2019. Sem iniciar negociação para renovar o vínculo do Papito (apelido do técnico, por entender que o momento é de foco total na reta final do Brasileiro, a direção do clube vê no comandante de campo um elo importante que foi reconstruído com os torcedores. E de quebra o rompimento com uma incômoda característica de alternância no reservado.
Desde 2014 que o Internacional não tinha o mesmo treinador durante toda temporada. Foi Abel Braga que, naquele ano, ergueu a taça de campeão gaúcho e levou o time vermelho ao terceiro lugar no Brasileiro. Ao fim do contrato, com a troca na gestão do clube, saiu magoado por não ter sido o primeiro a ser procurado pensando em 2015.
Nos anos que seguiram, a rotina colorada foi marcada por uma frenética dança das cadeiras no comando técnico. Diego Aguirre até agosto de 2015, Argel em seguida até julho de 2016, Paulo Roberto Falcão por apenas cinco jogos na sequência, Celso Roth até novembro e Lisca por apenas três jogos, culminando com o rebaixamento para Série B de 2017.
Foi quando houve nova eleição e troca de gestão no clube. Ao assumir, o atual comando colorado disse que não gostava de mudar de treinador e que suas atitudes seriam pautadas pela tentativa de manutenção. Mas no primeiro ano não foi possível. Novamente alternância com Antonio Carlos Zago até maio, Guto Ferreira até novembro e Odair Hellmann nos últimos jogos da temporada de retorno para elite.
Entretanto, 2018 foi diferente. Odair até oscilou, foi ameaçado, mas a direção mostrou convicção no trabalho. Hoje vê no técnico uma relação direta com a torcida. Tanto que antes dos jogos, Odair tem o nome gritado pelos torcedores, tal qual acontece com os atletas. É procurado para fotos, autógrafos, eleito um dos responsáveis diretos pela boa campanha até o momento no Brasileiro.
“Essa construção começou no ano passado. Tivemos que montar um grupo inteiro, sabíamos que seria difícil. Tivemos que fazer isso, pagamos um preço. Mas hoje temos um grupo também por causa disso. Sofremos muita pressão neste ano, começamos com dificuldade depois da eliminação do Gauchão, da queda na Copa do Brasil em um jogo que realmente não fomos bem. Poderíamos ter mudado o rumo das coisas, mas tivemos convicção. Muitos queriam a minha saída, a do Odair, há muito tempo. Mas conheço ele desde a base, foi sempre um profissional que ajudou demais o clube, sabíamos da qualidade dele, do quanto ele era capaz de fazer este trabalho. Mantivemos, ele aproveitou e está mostrando tudo que a gente sempre soube da sua qualidade. Tudo reflexo da convicção”, disse o vice de futebol Roberto Melo.
“Graças a Deus, através do nosso trabalho, falávamos disso desde o início do ano. De recuperar a relação com o torcedor, do torcedor sentir orgulho de sua equipe. Às vezes não jogando tão bem, mas às vezes ganhando, outras não, é muito importante essa química com o torcedor, empurrando, incentivando, isso faz diferença. Eu respeito o torcedor até quando estivesse vaiando. Eu aproveito esses momentos para falar de futebol com vocês [jornalistas] e para me comunicar explicando as coisas para o torcedor. Que é a razão de tudo. Temos conseguido. Às vezes dizem para eu falar menos, porque dou muita informação (risos)”, brincou o técnico Odair Hellmann.
Enquanto isso, o Internacional adia o processo de renovação de contrato com técnico. Independente de manter a convicção no trabalho dele, ou de ter eleição presidencial em dezembro, o departamento de futebol entende que nem Odair nem os atletas com vínculo no fim devem passar por negociações agora para não dividir o foco do campo na reta final do Brasileiro. O time colorado briga pelo título e está apenas três pontos atrás do líder Palmeiras.
“Não é o momento mais adequado para se falar nisso. Não só com Odair, mas com atletas com contrato vencendo também. Isso sempre gera algum tipo de desconforto, tira o foco e a concentração. E neste momento estamos totalmente concentrados, tanto nós quanto ele, no que temos que fazer para conquistarmos nossos objetivos. Não tem como pensar no ano que vem, estamos concentrados no próximo jogo”, comentou Roberto Melo.