O cineasta alagoano Cacá Diegues concedeu entrevista coletiva nesta terça-feira (6) para falar sobre a avant-première do filme “O Grande Circo Místico”, realizada pelo Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e Diretoria de Teatros do Estado de Alagoas (Diteal). O diretor recebeu a imprensa no Café Linda Mascarenhas, no Teatro Deodoro, acompanhado das atrizes gêmeas Amanda e Louise Brito, que fazem parte do elenco.
A pré-estreia acontece às 21h no Cinema Cinesystem do Parque Shopping Maceió. O longa-metragem chega aos cinemas brasileiros no dia 15 de novembro e traz no casting nomes como Mariana Ximenes, Bruna Linzmeyer, Jesuíta Barbosa, Juliano Cazarré e Antonio Fagundes.
Adaptada do poema do também alagoano Jorge de Lima, a produção conta a história de cinco gerações de uma família dona de um circo criado em 1910, e foi rodada em Lisboa três anos atrás. A trama explora a essência circense construída com um linguajar poético, acrobacias e histórias românticas.
“O objeto principal do filme é essa família, que faz esse circo durante 100 anos, mas não é necessariamente sobre o circo. Lógico que tomamos o maior cuidado de fazer uma coisa realmente circense”, relatou o diretor. “Eu reproduzo a realidade com elementos de fantasia, de sonho, que só seriam possíveis com esse momento do cinema mundial. O filme todo foi feito usando as mais novas tecnologias digitais, os efeitos ficam mais fáceis de fazer”, completou, destacando a coprodução entre Brasil, Portugal e França na realização do filme.
“A maior parte foi filmada em Lisboa porque no Brasil é proibido ter animal no circo, mas eu não podia fazer um filme de 1910, 1915 sem animais, não tinha sentido. Então fomos à Portugal filmar em um dos maiores circos da Europa, que é o circo de Victor Hugo Cardinali. Fizemos um acordo e durante dois meses fizemos do circo nosso set. Já os efeitos visuais fizemos na França”, explicou Cacá Diegues.
O diretor conta que se inspirou na arte barroca brasileira. “Nesse filme, particularmente, há um desejo de nos lembrar da beleza do barroco brasileira, que sempre foi a base da nossa cultura, que tem sido esquecida por causa dessa necessidade de se reproduzir a realidade. É um filme que recorre ao barroco brasileiro, e a poesia de Jorge de Lima me ajuda muito nisso. Ao mesmo tempo eu recorro ao que há de mais moderno na tecnologia de cinema no mundo inteiro”.
Ao falar sobre Jorge de Lima, o cineasta disse que realizou um sonho: “Jorge de Lima é um poeta extraordinário. Primeiro, a história dele é belíssima, ele é a poesia brasileira. Sempre li Jorge de Lima e sempre pensei em fazer alguma coisa com ele, mas tinha medo, embora muitos filmes meus tenham citações escondidas do poeta”.
Sobre a escolha do elenco, Diegues afirmou que procura selecionar o ator que mais se enquadra no personagem. “Eu faço o personagem virar aquele ator. Eu faço o personagem pensando nele. Que é o caso das gêmeas, da Mariana, do Jesuíta. A atriz Mariana Ximenes faz o papel de trapezista ao final do filme, mãe das gêmeas, passou seis meses treinando trapézio e não precisou de dublê. Enfim, cada um fez seu personagem da maneira mais sincera possível”, relatou.
As atrizes cariocas Amanda e Louise Brito, 25 anos, irmãs gêmeas, comemoram a estreia nas telonas em grande estilo. “Foi o nosso primeiro trabalho. A gente sempre fez teatro, mas cinema é bem diferente. Aprendemos muito com o Cacá, ele nos deixou bem à vontade. O filme está lindo”, disse Louise. Amanda relembrou a expectativa do resultado dos testes. “O resultado demorou a sair, a ansiedade tomou conta e ficamos muito felizes quando fomos escolhidas. Ao descobrir que seria com o Cacá ficamos honradas”, contou Amanda. As gêmeas precisaram emagrecer mais de 10kg para viver as personagens do filme, além de aprenderem arte circense.
Oscar 2019
O filme será o representante brasileiro na disputa de Melhor Filme em Língua Estrangeira no Oscar 2019. Sobre a indicação, Cacá Diegues disse estar orgulhoso: “O Oscar é uma coisa boa. É um prêmio que dá muita promoção, que não vai só para o filme, nem para o diretor do filme, mas para o próprio cinema brasileiro, que estará sendo falado e comentado durante todo o ano”.
“É claro que eu fico muito orgulhoso, esperando que tudo dê certo. Mas não podemos tratar o Oscar como se fosse o juiz supremo do cinema brasileiro, não é porque ele vai ou não ao Oscar que é um filme ruim. O Oscar é um prêmio internacional, mas ao mesmo tempo ele é dado por uma comissão de profissionais de Hollywood, então ele revela um determinado gosto que não é necessariamente o gosto do público. Eu acho que quem julga o que é bom e o que é ruim é o público”, analisou.
Para Cacá Diegues, o cinema brasileiro vive um grande momento. Segundo o cineasta, por ano estão sendo produzidos de 180 a 210 filmes. “Os impostos que são pagos pelas atividades audiovisuais se revertem para o cinema. Muitas vezes o produto do cinema brasileiro devolve ao Estado muito mais do que recebeu”, afirma.
Ao final, o diretor deixou uma mensagem e um convite aos alagoanos. “Sou muito sentimental. Ao final das apresentações do filme em Cannes [França], fiquei muito emocionado e só pensava em Jorge de Lima. Eu tenho muito orgulho de ser alagoano, venho muito aqui, para mim é um prazer e renova a minha alagoanidade. Queria muito que os alagoanos fossem ver o filme, pois também é uma homenagem a todos os alagoanos”, concluiu.