Marceneiro é inocentado após ser acusado de roubar R$ 50 e ficar preso seis meses

Arquivo pessoal

Marceneiro passeia de bicicleta com a família após ser solto

O marceneiro Nelson Neves Souza Junior, de 29 anos, foi inocentado da participação em um assalto após ficar quase seis meses preso em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Ele era suspeito de roubar R$ 50 de um correntista em uma agência bancária, mas acabou absolvido pela Justiça ao provar que estava trabalhando.

O crime ocorreu em junho de 2014, mas não houve flagrante. Um inquérito na polícia foi aberto para identificar dois homens suspeitos de roubarem R$ 1.400 de uma pessoa que foi abordada e intimidada na área de caixas eletrônicos em um banco no bairro Guilhermina. Além do dinheiro, a dupla teria levado o cartão da pessoa.

Segundo o advogado Erico Lafranchi, que defendeu o marceneiro no caso, a vítima identificou um dos suspeitos em um álbum fotográfico na delegacia. “Mas os dados atribuídos ao homem na foto eram, na verdade, do Nelson. Os dois têm fisionomias distintas: traços do rosto, cor da pele e até mesmo cabelos diferentes”, diz.

O inquérito foi finalizado sem a indicação do comparsa e apresentado ao Ministério Público, indicando Nelson como um dos autores do crime. Ele foi denunciado e a Justiça decidiu pela prisão preventiva (por tempo indeterminado) dele. O mandado foi cumprido por policiais civis, que o encontraram em casa, às vésperas do natal em 2017.

“Eu acreditava que tudo não passava de um mal entendido. Não era possível. Eu falei para minha mulher que voltava logo, pois acreditava que iria esclarecer tudo na delegacia, mas eu demorei quase seis meses para voltar. Quando eu fui algemado, eu não acreditei. Perdi o nascimento do meu filho mais novo em janeiro”, lembra o marceneiro.

Nelson foi encaminhado à Cadeia Pública e depois levado ao Centro de Detenção Provisória (CDP), localizado na mesma cidade onde mora. “Acabou com o meu chão. Nunca tinha pisado numa cadeia e minha família sempre esteve no lado certo. Moramos em comunidade, mas não somos do crime. Não tenho um histórico de nada errado”, diz.

O marceiro era o 28º detento locado em uma pequena cela no CDP. “Eu dormi ao lado de pessoas que eu nunca tinha visto na minha vida e que tinham os piores pensamentos possíveis. Fiquei pensando em Deus o tempo todo e foi ele quem me deu forças para me manter em paz, na esperança que eu poderia sair daquele lugar”, explica.

Lafranchi, que o defendeu, provou à justiça que um erro havia sido cometido. “O depoimento da vítima mudou da polícia para o juiz. Primeiro, ela afirmou que tinha sido roubada em mais de R$ 1 mil, mas depois afirmou que R$ 50 tinham sido levados. E depois afirmou que o cartão de crédito não foi levado”, afirma.

A contradição nos depoimentos das vítimas e a falta de provas, já que câmeras de monitoramento do estabelecimento não registraram a abordagem, sustentaram a absolvição do marceneiro. O álibi foi corroborado após a comprovação de que ele cumpria expediente em um terminal portuário em Santos no momento do crime.

“Não há prova segura de autoria de roubo por parte do réu”, escreveu o juiz Eduardo Ruivo Nicolau, da 2ª Vara Criminal do Foro de Praia Grande, na decisão que o absolveu da acusação do suposto roubo. O Ministério Público de São Paulo concordou e também indicou, sem ressalvas, pela inocência do então acusado.

“Meu filho mais velho, de 6 anos, chegou a acreditar que o pai dele era um criminoso. Hoje sinto revolta, decepção e tristeza. Meu medo é ser abordado pela polícia e voltar para aquele lugar sem qualquer motivo justo, mais uma vez. Eu não fui o primeiro e também não serei o último. Quero a minha ficha limpa”, desabafa.

O processo que o acusava consta como extinto pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. O mesmo advogado que o defendeu vai entrar com uma ação por danos morais contra o Estado. “Além de perder o nascimento do filho, ele perdeu o emprego e a vida que tinha. Isso precisa ser reparado”, finaliza Lafranchi.

Fonte: G1

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