Com uma espécie de reunião geral marcada para o próximo dia 16, a campanha “Lula Livre”, pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), promete tomar fôlego, se tornar mais robusta e abraçar novas frentes.
O relançamento da campanha vem na esteira da frustração com a não participação de Lula nas eleições e com a derrota do PT nas urnas, o que, considerando a visão da esquerda de que o petista é um preso político, poderia ter sido suficiente para sua soltura.
Ao contrário, as eleições consolidaram no poder a direita antipetista representada por Jair Bolsonaro (PSL), que tem como ministro o algoz de Lula, o ex-juiz Sergio Moro.
Atualmente o Comitê Nacional Lula Livre reúne líderes de partidos e de movimentos de esquerda numa grande assembleia, mas sem capacidade organizativa e com ações pontuais. A partir da reunião, a ideia é criar comitês pelo país para espalhar a narrativa de que democracia e direitos estão em risco e, assim, criar um novo ambiente político que pressione pela revisão da prisão pelo Judiciário.
“Demonstrou-se que politicamente não é viável ainda a soltura do ex-presidente por razões que não estão no campo jurídico. Necessariamente, é uma questão política”, diz Caroline Proner, membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia.
Mais do que isso, a campanha renasce com a aspiração de organizar a oposição ao governo Bolsonaro e unificar a esquerda, segundo membros ouvidos pela reportagem.
Dirigentes estaduais de partidos e movimentos de esquerda foram convidados para a reunião do dia 16, chamada de Encontro Nacional Lula Livre e que pretende reunir até 400 pessoas no Sindicato dos Eletricitários na capital paulista.
Ao final, é esperada a presença de Fernando Haddad (PT), Manuela D’Ávila (PC do B) e Guilherme Boulos (PSOL). “A mobilização pela liberdade do Lula é parte importante da luta democrática no Brasil. Ele tem sido vítima de sucessivos abusos. Como candidato sempre deixei isso claro”, afirmou Boulos.
A primeira iniciativa após a reunião será a Jornada Lula Livre, de 7 a 10 de abril. Para marcar um ano da prisão do petista e também o julgamento de ações no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre prisão em segunda instância, a campanha prevê atos, seminários e shows pelo país.
Lula está preso em Curitiba desde 7 de abril de 2018 após condenação em segunda instância a 12 anos e um mês de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, no caso do tríplex de Guarujá (SP), da Operação Lava Jato.
Em fevereiro, Lula foi condenado novamente a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro em outra ação, a do sítio em Atibaia (SP). Caso a soma das duas penas de Lula seja mantida em 25 anos, ele, que tem 73 anos, poderia ir para o semiaberto após, no mínimo, quatro anos de prisão.
O petista recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e pode ser solto caso seja inocentado. Também tem dois habeas corpus pendentes no STF, mas não há prazo para esses três julgamentos. Em 10 de abril, serão julgadas as ações que discutem a prisão em segunda instância e podem beneficiá-lo.
Após as eleições, foram criados uma comissão executiva de 29 membros e um secretariado de sete pessoas para colocar de pé as iniciativas. No grupo, que se reúne ao menos mensalmente, estão integrantes do MST, MTST, CUT, UNE, Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, além de dirigentes do PT, PSOL, PC do B e PCO.
A abrangência faz com que membros da campanha vislumbrem uma mobilização nos moldes das Diretas Já.
Agora, há planos para arrecadação de recursos online e produção de conteúdo para redes sociais. “A campanha não é do PT, o PT faz parte. É plural, com muitas representações”, diz o jornalista Breno Altman, responsável pela comunicação.
“A campanha pela libertação do Lula é fundamental para organização da resistência ao bolsonarismo. Porque a prisão do Lula é a principal violação das garantias democráticas nesse período atual.”
O jornalista diz querer atrair o PSB e o PDT, para de fato consolidar uma união da esquerda e incorporar a oposição a pautas do governo, como reforma da Previdência.
“Os comitês Lula Livre devem ser espaços não só de discutir a inocência do presidente Lula e a sua prisão injusta, mas também de compromisso na luta pela democracia no nosso país”, diz Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula.
Dirigentes do PSOL e do PC do B, porém, veem a oposição a Bolsonaro como algo que ultrapassa a campanha Lula Livre, que dizem encampar para combater o que consideram uma injustiça.
Para o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, a esquerda deve atuar de forma unitária contra Bolsonaro independentemente da adesão ao Lula Livre. “O PSOL tem participado não por conta do seu endosso ao que foi o governo do ex-presidente Lula, mas por uma leitura da importância dessa agenda em defesa da democracia e da Justiça. Mas isso não deve ser condição para que a esquerda dialogue ou construa pontes para enfrentar o governo Bolsonaro.”
Luciana Santos, presidente do PC do B, lembra que Bolsonaro também tem desagradado a setores “que não são embandeirados do Lula Livre”.
João Pedro Stedile, coordenador do MST e que também está à frente da campanha Lula Livre, diz que não se trata de fazer ou não oposição à figura de Bolsonaro. “Queremos que o povão se dê conta de que seus direitos trabalhistas, previdenciários, de moradia, de direito à terra estão sendo pisoteados e negados pelo atual governo porque Lula está preso”, diz.
“Se ele estivesse livre, estaria percorrendo o país, conscientizando nosso povo e nos ajudando a organizá-lo para enfrentar esse governo.”