Um vídeo de duas clientes da lanchonete Bob’s destratando um funcionário que fazia a limpeza do local viralizou nas redes sociais. Nas imagens, gravadas por uma das jovens, identificada como Júllia Rodrigues, ela e uma amiga filmam um rapaz trabalhando enquanto gritam para ele expressões como “isso mesmo, limpa pra eu ver”, “lambe o chão”.
Jullia ainda publicou outro vídeo após o episódio na lanchonete, dizendo que “não era porque o menino era preto não, porque ainda tem pretos bonitinhos, mas ele é um preto feio e horroroso”. Ela ainda fez menção ao órgão sexual do rapaz e disse que ela e a amiga fizeram um “auê no trabalho do garoto”.
No Twitter, a repercussão do vídeo foi o terceiro assunto mais comentado no site na manhã desta terça-feira. Internautas definem o caso como racismo, e pedem a punição da dupla. A jovem que aparece ao lado de Jullia no vídeo gravado na lanchonete se chama Thaís Araújo. Ao contrário da amiga, que excluiu a conta que mantinha no Instagram, Thais usou a rede social para se posicionar sobre o que aconteceu.
Ela diz que namorou o funcionário da lanchonete por seis anos, e que o conhece há oito. Diz ainda que admite que agiu de forma errada, mas que não considera que a atitude que teve foi racista.
“Eu namorei com esse rapaz durante seis anos da minha vida. São seis anos com ele, não foram quatro dias, não foi uma semana. Eu conheço ele há oito anos. Não é qualquer coisinha não. Ele sabe que não sou racista. Ele está ciente disso. O mesmo sabe que eu sempre lutei contra isso. Qualquer coisinha eu já fazia um “auê”. Eu realmente tomei decisões naquele dia que não foram legais, atitudes horríveis. Por isso estou pedindo desculpas a ele, estou pedindo desculpas para quem se ofendeu, para quem está tomando as dores”, disse.
A jovem comentou ainda que no dia em que o caso ocorreu “estava fora de si” e ressaltou que o rapaz não foi demitido por conta do caso, como foi compartilhado nas redes sociais. Segundo ela, toda a situação “foi resolvida no mesmo dia”. Thais publicou ainda fotos ao lado do jovem nos anos de 2014, 2017 e 2019, uma delas beijando o rapaz, como forma de mostrar aos internautas que ela tinha uma realação íntima com ele.
“E não adianta falar agora que não adianta mais. Adianta sim. Quando você se arrepende do que fez, você é perdoado. Eu estou arrependida e quero que isso acabe. Não me mandem mais mensagens. Eu não vou acabar com as minhas redes sociais, eu não fui racista”, comentou.
Injúria racial
Apesar das acusações de racismo feitas nas redes sociais, a professora de Direito Penal e Processo Penal da UFRRJ, Fernanda Freixinho, esclarece que o vídeo na verdade configura crime de injúria racial.
— As expressões utilizadas pela autora ofendem a uma pessoa determinada, na sua dignidade e decoro, utilizando elementos referentes à raça e cor. O crime é de ação penal pública condicionada, o que significa queaquele que for ofendido deve manifestar seu desejo de ver o autor do crime processado criminalmente — explicou.
Segundo Freixinho, a atitude das jovens não constitui crime de racismo, pois este deve ser praticado contra um grupo de pessoas indeterminadas em razão da sua raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Em nota, o Bob’s informou que “repudia qualquer tipo de discriminação ou assédio e lamenta que cenas como essa, até hoje, ainda sejam vistas nas relações entre pessoas. O funcionário segue trabalhando normalmente na empresa, sendo inverídicas as declarações de desligamento dele. Para preservar sua privacidade, o Bob’s não divulga o local do ocorrido, mas está à disposição para qualquer esclarecimento na apuração dos fatos”. Procurada, a Polícia Civil do Rio não informou se o caso foi registrado em alguma delegacia.