Quando eu comecei a trabalhar na Secretaria de Saúde do Estado, o então secretário chegava cedo e constantemente nos encontrávamos na porta, eu quase não respirava para responder o “bom dia”, era eu uma jovem recém formada, diante de uma autoridade cheia de conhecimentos.
Ao longo da minha vida profissional tive contato com muita gente brilhante e fui ouvindo com admiração e respeito cada um dos que apresentavam suas ideias baseadas em evidências, com conhecimento do que estavam falando.
Isso me motivou a ler, estudar, aprender, até o ponto de julgar que eu também podia apresentar algumas sugestões, ainda que timidamente.
Mas no meu imaginário, os ocupantes de cargos estratégicos, podiam até não saber de tudo, mas tinham inteligência suficiente para interpretar dados, sabedoria para ouvir e traduzir números em propostas de políticas públicas.
E eis que vivi o suficiente para assistir uma nova “ordem institucional”, a ascensão da mediocridade, aquela que não sabe, que não ouve, que não considera dados e que não consegue interpretar informações.
Não tenho pretenção nenhuma que concordem comigo, no fundo o que faço é um grande desabafo público.
As propostas dos últimos meses parecem ter uma única motivação, “ser diferente do que existia”. Isso me parece aquele ditado popular que alerta para o risco “de sacudir fora a criança junto com a água usada do banho”.
Durante muito tempo eu li os artigos do Sensacionalista, aquele “jornal” que afirma na apresentação como sendo “isentos de verdade”, como sendo o máximo da criatividade no critério surreal, pois não é que a realidade tem superado a ficção.
A velocidade e a intensidade de matérias produzidas pelos atuais ministros não permitem sequer que eu me recupere de um susto para esbarrar em outro.
O decreto da flexibilização de compra e pose de arma, o afrouxamento do cuidado ao meio ambiente, uma política externa que contraria às regras da diplomacia, a proposta de diminuir os custos do cigarro, e a mais nova pérola, o enterro do código de trânsito, são apenas alguns dos exemplos, que não tem considerado o conhecimento.
Moramos num país que tem “leis que pegam” e “leis que não pegam” e ainda que o congresso ajude a sociedade e comece a podar os exageros, já temos um prejuízo contabilizado na hora que confundimos a população.
Não somos ainda tão razoáveis a ponto de sozinhos, sem que haja um incentivo ao auto cuidado e a preservação, agir proativamente sem o protagonismo do estado.
Duvidamos do IMPE, da Fiocruz, do IBGE, dos relatórios produzidos por diferentes organizações e acreditamos em terra plana. Confundimos liberalismo econômico com liberdade a estupidez. Estamos optando pelo obscurantismo…
Informação serve para ajustar o que pensamento. Sabe como?
Certa vez, no pequeno município que trabalhávamos, concluímos que a gravidez na adolescência estava crescendo e que precisávamos fazer algo. Preparamos tudo para iniciar um trabalho nas escolas, até que uma colega, mais cuidadosa na leitura dos dados alertou, “as meninas grávidas estavam fora da escola na época que engravidaram”.
É por isso que apenas o “eu achar”, não garante sucesso, ē por isso que precisamos de gestores capazes de interpretar textos, é por isso que me assusta a ideias romântica que obteremos resultados na base do “eu achismo”.
Quanto maior o problema, maior a necessidade de garantir que haja quem pesquise, estude, simule, apresente a realidade e sugira, deixando de lado as convicções pessoais. Essas cada um carrega consigo e faz delas “a dor é a delicia de ser o que é”.
Quanto maior o problema mais precisamos de gestoras grandes, capazes de propor soluções, “se fosse fácil, já estaria feito”, precisamos de fatos, não de fumaça, inclusive as do cigarro.
Quanto mais longe da verdade nos colocamos, mais distante ficamos do acerto. Tomara que haja tempo de preservar “o menino”, melhor ainda se estiver limpinho, afinal, o País pertence a ele.