Vinicius Junior: ‘Em dois meses no Real Madrid, evoluí o que levaria um ano no Brasil’

Leo Martins

Às vésperas de retornar a Madri para sua segunda temporada no Real, Vinicius Junior reflete sobre aprendizados e amadurecimento, e diz que, apesar de jovem, entende ter se mudado para a Espanha na hora certa. Segundo o ex-jogador do Flamengo, até os treinos em seu clube são melhores do que os jogos no Brasil.

Quando você foi contratado, o Zidane era o treinador. Agora ele voltou ao clube. Vocês conversaram? Ele disse o que fez com que ele se interessasse por seu futebol?

Ele me fala para trabalhar muito, porque sou jovem. E não escutar pessoas de fora, escutar minha família e o pessoal do clube, que com ele ali e com os jogadores eu vou evoluir.

Você parou para pensar no tamanho do impacto que estava fazendo num clube tão grande e com 18 anos apenas?

Eu acho que consigo jogar com mais tranquilidade porque não penso nisso. Só em jogar.

O caso Neymar foi um exemplo pra você sobre comportamento, os riscos da fama?

A gente sabe que precisa tomar cuidado com tudo. Mas também não sei o que aconteceu de verdade. Ele é um cara que admiro bastante.

Como muitos jogadores você teve uma infância de dificuldades. Qual o tamanho da mudança na sua vida?

Mudou completamente, mudou tudo.

O Brasil é um país desigual e que trata as pessoas de forma desigual, racista. A partir do momento em que você conquistou algumas coisas, o tratamento das pessoas em relação a você mudou?

Muda e não tinha que mudar. Mas a gente sabe que muda e sabe do que é certo e errado.

Qual a maior mudança que você sentiu?

De todo mundo querer estar do meu lado, comigo e ao lado da minha família.

A maneira como você é recebido onde chega ficou diferente?

É.

Desde adolescente você abre mão de saídas à noite e outros tipos de lazer por causa do futebol. Agora que tem dinheiro e fama, dá vontade de recuperar este tempo perdido?

Um pouco, mas tendo a família em casa… Eu gosto muito de ficar com minha família. Ter meus amigos em casa facilita também. Às vezes dá vontade de sair, sim, mas a gente segura. Ou sai na folga, que é mais tranquilo.

Já viveu casos de racismo na Europa? Ou presenciou?

Não. Nunca sofri nada.

Imagina como reagiria?

Não sei o que faria, é mais do calor do momento.

Você saiu jovem do Brasil. Acha que foi o momento certo ou talvez fosse melhor ficar um pouco mais no país?

No meu caso acho que foi o momento certo. Estava num ótimo momento no Flamengo, o que é triste. Mas também tinha pouca margem para evoluir. Chegando lá eu evoluí em dois meses o que levaria um ano aqui para evoluir. Foi melhor para começar logo a jogar no melhor futebol do mundo.

O que proporciona essa evolução mais rápida? Método de treino, os jogos?

O treino é diferente. A maioria dos treinos lá é melhor do que o jogo aqui. Mesmo no treino ninguém quer perder, quer evoluir a cada dia. Tem jogadores como Sergio Ramos e Benzema que, acima dos 30 anos trabalham mais do que os demais. A inspiração de estar ao lado dos melhores também ajuda, faz crescer.

Este “treino melhor do que os jogos daqui” é em qualidade técnica, método ou intensidade?

Tudo. É que jogo no Real Madrid, com os melhores jogadores. A diferença é muito grande.

A Liga dos Campeões também te mostrou outro nível de jogo?

Sim, o jogo é totalmente diferente. Você precisa colocar na cabeça que se perder a bola o adversário vai fazer o gol.

Mesmo contra os times menores da Espanha te parecia que os rivais poderiam punir cada perda de bola?

Sim, ainda mais nesta temporada em que o time não estava tão bem. Não importa o adversário. Lá, se errar você toma o gol.

Sergio Ramos passa a imagem do grande líder. É assim mesmo?

É o cara que nasceu pra isso, sabe o momento de falar, de te ajudar. Ele, Marcelo, Varane, Modric, apoiam muito os demais.

Como foi chegar na temporada pós-Cristiano Ronaldo e de repente ter este destaque todo, trazendo soluções para o time?

Cristiano é o Cristiano, uma legenda do clube. Fez o que ninguém fez. Mas em nenhum momento pensei que estava substituindo ele. Queria jogar e ajudar o Madrid.

É preciso algo mais do que bola para se firmar no Real Madrid?

Personalidade.

Uma das primeiras imagens suas após chegar ao Brasil foi na Gávea, vendo um jogo do sub-20. Este vínculo ainda é muito forte?

Não só com o Flamengo, mas com os jogadores da base com quem passei minha infância toda. Eles pediram para eu ir lá assistir, não tem como recusar. É maneiro, sei que indo lá estou dando motivação a mais para eles, são jogadores que me admiram e passaram os melhores momentos comigo.

É um sinal de apego às origens?

Eu sempre estou com as pessoas que estiveram comigo desde o início.

Por vezes você pensa que gostaria de ter ficado mais no Flamengo? Ou pensa que ainda jogará no clube outra vez?

Sempre penso, né. Mas agora estou focado no Madrid, quero desfrutrar do momento, ganhar tudo o que sonho. Quando conquistar tudo e achar que é o momento de voltar, vou conversar com a minha família e decidir.

Consegue ver os jogos do Flamengo?

De madrugada é um pouco difícil. Mas o resultado eu vou ver logo que acordo.

Como a notícia do incêndio no Ninho do Urubu chegou a você?

Foi antes do treino. Uma notícia muito triste, já passei por lá, já dormi no CT. E acontece uma fatalidade assim… Muito triste.

Você chegou a dormir naquela estrutura?

Sim.

Você conhecia alguma das vítimas?

Não, eram mais jovens. Mas a gente fica pensando na família, nos sonhos que foram interrompidos.

Fonte: Extra

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