Mulher morre após complicações em parto e duas médicas são afastadas de hospital

Vanuza Carla, de 22 anos, morreu no Recife após complicações em parto realizado em Sirinhaém — Foto: Acervo pessoal

Uma mulher de 22 anos morreu, no Recife, após ter complicações durante o parto, realizado no Hospital e Maternidade Municipal Olímpio Machado Gouveia, em Sirinhaém, na Zona da Mata. A prefeitura afastou a equipe médica que participou da cirurgia no domingo (18), composta de duas médicas, uma técnica de enfermagem e um enfermeiro. A bebê passa bem e teve alta hospitalar.

De acordo com parentes da vítima, identificada como Vanuza Carla, ela começou a sentir dores por volta das 7h30 domingo (18) e foi socorrida para o hospital, onde o parto aconteceu por volta das 9h30. Ainda segundo a família da paciente, a placenta não foi totalmente retirada durante o parto. Vanuza também deixou uma filha de 5 anos de idade.

“Forçavam de um lado, forçaram de outro e não tinha sucesso. Isso acontecendo, no meu entendimento, já era para eles encaminharem para outro hospital. […] Nós queremos entender de fato o que aconteceu para tomar as medidas cabíveis”, disse Júnior Mário da Silva, tio da paciente, com base no que foi relatado pela mãe de Vanuza, que a acompanhou até o hospital.

Segundo o coordenador médico do hospital, Cristopher Cavalcanti, a paciente chegou ao hospital em trabalho de parto avançado e a placenta demorou a sair, mas foi retirada.

“A médica fez o procedimento de retirada da placenta. É para esperar ela sair espontaneamente. Mas, depois de 30 minutos, se ela não saiu, a gente precisa retirá-la. Após o procedimento de retirada da placenta, ela teve uma melhora, chegou a andar, a tomar banho, a comer e dar a mama ao recém-nascido”, declarou.

Porém, a paciente começou a sentir um mal-estar e a equipe médica, após constatar um sangramento intenso, decidiu transferi-la para a Maternidade Mãe Lídia, em Ipojuca, no Grande Recife.

“Ela foi levada para a cidade vizinha porque piorou o quadro e a médica achou por bem levá-la para outro hospital, onde tinha um obstetra, para pedir apoio”, afirmou.

De acordo com Maria Eduarda Santos Leão, tia de Vanuza, a família pediu que ela fosse transferida para o Recife. “Ela começou um sangramento muito forte. A gente pediu encaminhamento, mas não obteve. A minha sobrinha começou a perder a consciência. Só nos deram o encaminhamento às 19h, quando não tinha mais jeito”, contou.

Segundo a parente, a equipe médica de plantão se recusou a transferir Vanuza em um primeiro momento. “Disseram que não precisava naquele momento. Que ela tinha a possibilidade de levantar da cadeira de rodas”, disse a tia da paciente.

Os parentes de Vanuza disseram, ainda, que ela foi transferida numa ambulância que não tinha os equipamentos necessários para atender casos como o que dela.

De acordo com a Maternidade Mãe Lídia, Vanuza chegou ao local com um quadro hemorrágico muito forte e foi submetida a uma curagem, que é procedimento manual, sem instrumentação, de retirada de pedaços de placenta.

Como a paciente teve uma parada cardiorrespiratória e não foi possível estancar o sangramento, ela foi transferida às 18h05, em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) móvel, para o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife.

Vanuza chegou ao Imip “apresentando um caso muito grave, após sofrer uma parada cardíaca, entubada e com quadro hemorrágico” e foi conduzida, de imediato, ao bloco cirúrgico, sendo submetida a uma histerectomia de urgência, que consiste na remoção do útero, conforme informado pelo instituto em nota.

Ela não resistiu a uma nova parada cardíaca e morreu no local à 1h35 da segunda-feira (19). “A recém-nascida também foi transferida para o Imip, mas passa bem e já recebeu alta”, disse o instituto no texto.

Também por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Sirinhaém declarou que “foi instaurada uma sindicância para apurar todos os fatos e punir os possíveis responsáveis”. Ainda no texto, a prefeitura lamentou “profundamente o ocorrido”.

Segundo o coordenador médico do hospital municipal de Sirinhaém, a sindicância que apura o caso foi instaurada na segunda-feira (19) e tem o prazo de oito dias para ser concluída.

“A gente faz a escuta de todos os envolvidos, daí a gente pede um relato escrito e, quando tiver todos esses relatos, a gente tem como avaliar e julgar tudinho. Para esse julgamento, a gente vai pedir o apoio do Cremepe, que tem técnicos para avaliar isso e assessoria jurídica. Dependendo do que foi visto na sindicância, a conduta é de absolvição até demissão”, declarou.

Por meio de nota, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) afirmou que não recebeu denúncia sobre o caso ocorrido em Sirinhaém.

Como “a autarquia abre expedientes para investigar todas as denúncias que chegam ao Conselho […] será aberta uma sindicância ex-offício para investigar o ocorrido. Sobre os profissionais envolvidos e tramitação da denúncia, caso chegue, as informações correm em sigilo processual”, disse no texto.

Protesto

Na manhã desta terça-feira (20), familiares e amigos de Vanuza circularam pelo distrito de Barra de Sirinhaém, onde a mulher morava, com cartazes com fotos da jovem e pedidos de justiça. Eles pediram que o caso seja apurado para que outras pessoas não passem por casos parecidos.

“É muito triste, agora estão as duas filhas dela sem mãe. Estamos recebendo doações, porque a prefeitura, até agora, não ajudou com nada e a recém-nascida está tomando fórmula, já que não tem leite materno”, diz Maria Eduarda Santos Leão, tia de Vanuza.

Fonte: G1

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