Nono colocado na disputa presidencial do ano passado, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) tem planos para aumentar a exposição do seu partido e chegar com mais chances nas eleições de 2022. Para isso, lançou uma ofensiva no Senado para se tornar a maior legenda da Casa. “É um projeto nacional que não se limita ao Senado”, afirmou ao Estadão/Broadcast, plataforma de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Uma filiação do ministro da Justiça, Sérgio Moro, tratada como “sonho de consumo” pela direção da legenda, porém, é vista como improvável por enquanto. “Minha percepção é que o objetivo dele é retornar à Justiça na Corte maior. É o que ficou explicitado”, comentou Dias.
Desde o início do ano, o partido já filiou seis senadores. Nesta semana, foi a vez da senadora Juíza Selma (ex-PSL), a 11ª integrante da bancada – agora, só menor do que a do MDB, que tem 13. O partido ainda abriu negociações com Flávio Arns (Rede-PR) e Major Olímpio (PSL-SP). Dias, porém, diz que o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, não é o seu foco. “O PSL só tem dois senadores, já que um deles é filho, não é senador”, diz, em referência a Flávio Bolsonaro (RJ).
O Podemos conquistou a segunda maior bancada no Senado. Qual é o objetivo do partido?
Nossa prioridade é fazer a leitura correta das prioridades da população e trazer para dentro do Senado. Por isso, estamos querendo crescer com qualidade, sem perder a nossa identidade. É um partido que tem agenda própria de combate à corrupção e pró-reformas. Por isso, ele não se coloca na base aliada do governo nem frontalmente na oposição. Estamos tentando fugir desta dicotomia.
O Podemos vai disputar o comando do Senado?
Eu creio que a construção de um Podemos forte no País passe pelo fortalecimento da bancada aqui no Senado. Isso vai ter um reflexo externo. É um projeto nacional que não se limita ao Senado.
O que convenceu senadores a mudarem de partido e migrarem para o Podemos?
Não temos nada a oferecer a não ser a postura e a nossa agenda de prioridades, e, especialmente, eu creio, esse espaço de independência que cada senador tem no nosso partido. Creio que isso abre um espaço que atrai aqueles senadores que chegaram agora e possuem uma vontade enorme de dar uma resposta aos que o elegeram.
E com quem mais o sr. está negociando no Senado?
Com vários. Mas a nossa estratégia é não revelar antes que eles revelem.
Mas tem mais gente já encaminhado para o partido?
Tem, tem mais senadores que podem vir, sim.
O foco de vocês é o PSL?
O PSL só tem dois senadores já que um deles é filho, não é senador. Mas não é esse assédio. Nesse campo ainda não estamos mexendo. Só com a Juíza Selma (que se filiou ao partido na quarta-feira), que desde o início havia uma aproximação, mas em relação aos outros estamos respeitando a posição deles, não estamos assediando.
O sr. é próximo ao ministro Sérgio Moro. Há negociações para ele também se filiar?
Não existe isso. Se fôssemos articular politicamente com ele, nós dificultaríamos a vida dele dentro do governo. Os objetivos dele são outros, que eu imagino. Minha percepção é que o objetivo dele é retornar à Justiça na Corte maior. É o que ficou explicitado.
Se ele não for indicado, há um caminho eleitoral para Moro?
Tem de conversar com ele, porque nós não conversamos em respeito à condição dele de ministro da Justiça de um governo.
Com o fortalecimento do partido, o sr. se candidatará novamente à Presidência em 2022?
Não tenho colocado isso como meta. Acho que o cumprimento do dever em primeiro lugar. O que vem depois é consequência. Mas o que eu posso dizer é que o partido deseja ser uma alternativa, mas ele precisa construir um caminho para isso. Até a eleição geral de 2022 imagino que o Podemos estará bem consolidado nacionalmente.
Ciro Gomes (PDT) já se posicionou como candidato. Pode haver algum tipo de conversa entre vocês? Ele pode ser uma terceira via?
No nosso calendário, a eleição de presidente ainda está distante. As prioridades são outras, estamos pensando mais nos problemas atuais que exigem nossa atuação. Mas ele sempre teve uma posição política conhecida, em que sempre militou à esquerda.
O deputado Marco Feliciano, que é do Podemos, tem se aproximado de Bolsonaro, inclusive sendo cotado para vice em uma eventual chapa de reeleição. Como o sr. vê esse movimento?
Ele está convidado a deixar o Podemos, está liberado para sair. Não discutimos isso, mas não há a cogitação de qualquer coligação futura. Se alguém desejar se posicionar como candidato à vice-presidente com Bolsonaro, deve deixar o Podemos.
A aproximação dele com o presidente incomoda?
Não nos sentimos incomodados. Em função das circunstâncias, não estamos colocando cabresto em ninguém. Evidentemente que, quando eu afirmo que, do meu ponto de vista, quem postular uma candidatura a vice em outro partido, está convidado a deixar o nosso porque o nosso tem o dever de apresentar um projeto alternativo para o País. Ele está sendo construído com esse objetivo.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e integrantes do MDB já sinalizaram incômodo com o crescimento do Podemos na Casa e articulam uma reação. Como será a contrarreação de vocês?
Confiamos na firmeza dos que se filiaram ao Podemos. Estão realmente avançando sobre os senadores, estão tentando convencê-los a deixar o Podemos. Nos últimos dias isso ficou visível. Não conseguem esconder isso, mas confiamos neles. O crescimento incomoda.