O intervalo de seis anos foi o período em que Clélia Terezinha Rodrigues de Oliveira perdeu dois filhos em acidentes de trânsito, sendo um de carro e outro de moto, no bairro Nova Lima, região norte de Campo Grande. As tragédias que aconteceram a cerca de 1.000 metros uma da outra, revolta a mãe, que classifica a ausência dos jovens como “inexplicável”.
Felipe Rodrigues de Freitas morreu em 2013, na época com 23 anos, bateu o carro que dirigia em um poste de energia elétrica: “Quando me falaram que ele tinha partido meu coração simplesmente desmoronou”, chora.
Seis anos depois, Lucas Eduardo Rodrigues de Freitas, de 24 anos, voltava para almoçar em casa quando se envolveu em um acidente no dia 22 de setembro: “Ele lutou demais pela vida. Teve várias fraturas expostas e a face ficou muito machucada, além de traumatismo craniano. Nós realmente não soubemos o que aconteceu naquele dia”, lamenta.
Clélia conta que Lucas ficou internado por 14 dias na Santa Casa de Campo Grande: “A gente sempre tem esperança que ele iria sair dessa. Mas como ele era minha única companhia todos os dias parece que ele vai chegar a qualquer momento. É muito difícil de aceitar, porque tenho que entender que ele nunca mais vai aparecer aqui em casa”, explica.
A mãe dos jovens ainda alerta que apesar da dor que ainda sente de perder os filhos em acidentes de trânsito, reforça que é preciso que todos tenham mais atenção na hora de sair pelas ruas: “Felipe e Lucas morreram de forma trágica e tão próximos um do outro. Eles eram tão queridos e ver seus filhos mortos por conta de um acidente, realmente me leva ao desespero”. Ela ainda acrescenta:
“Eu queria que as pessoas tivessem mais amor ao próximo, e também amor a si mesmas, principalmente quando assumirem o controle de uma moto ou de um carro. Pois nada o que fizerem, hoje, vão trazer meus filhos de volta”, explica ao G1.
Segundo Clélia , que morava com filho Lucas, agora busca forças para continuar a vida. Ela que é mãe de mais dois homens fica preocupada com o trabalho deles que necessitam usar motocicletas e carros na atividade na qual exercem: “Eu desejo que nenhuma mãe passe por que estou passando. Quanto aos meus dois outros filhos eu sempre os alerto: Cuidado na hora de sair pelas ruas. Por favor, se cuidem!”.
O acidente
De acordo com o boletim de ocorrência, o motorista do carro que se envolveu no acidente com Lucas Freitas, é um jovem de 18 anos e que não possuía Carteira Nacional de Habilitação (CNH). O carro trafegava pela avenida Consul Assaf Trad sentido sul/norte da cidade, quando no cruzamento com a rua Santo Inácio de Loiola fez uma conversão a esquerda e bateu na motocicleta de Lucas. Até a publicação desta reportagem, o G1 não conseguiu contato com a defesa do suspeito.
Conforme a polícia, testemunhas informaram que o motorista fugiu sem prestar socorro e que outra testemunha teria anotado a placa do veículo. Um motociclista teria seguido o suspeito e a Polícia Militar o encontrou já em casa. O jovem alegou aos militares que fugiu por medo de perder o veículo, porque não possuía CNH.
Ainda segundo a ocorrência policial, o motorista foi levado para a Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) Centro. Ele fez teste de alcoolemia, que deu resultado negativo.
De acordo com o delegado que investiga o caso, Sérgio Luiz Duarte, da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande, um inquérito foi aberto no dia 7 de outubro. Conforme ele, o jovem motorista vai responder por homicídio culposo no trânsito, agravado pela falta de habilitação, e ainda por omissão de socorro.
Conforme o delegado, o suspeito responde em liberdade porque não houve flagrante, mas se condenado pode pegar uma pena de dois anos a quatro anos com aumento de um terço que pode chegar até seis anos de detenção. A mãe dele também irá responder pelo crime de homicídio culposo por entrega de direção de veiculo a pessoa não habilitada.
Acidentes de trânsito em Campo Grande
De acordo com o Batalhão de Polícia Militar de Trânsito (Bptran), de 1º de janeiro até 15 de outubro, 59 pessoas perderam a vida no trânsito de Campo Grande que registou cerca de 3.818 acidentes. Conforme o órgão, das vítimas fatais, 37 foram motociclistas, 9 pedestres, 4 motoristas e 9 ciclistas.
Segundo a Bptran, em 2018, foram registrados em torno de 4.306 acidente em Campo Grande, sendo que 49 motociclistas perderam suas vidas. Ao total, 87 vítimas fatais foram registradas no ano anterior contra 70 mortes em todo o ano de 2017. Desde 2016 até 2019, os motociclistas lideram a lista de maior vítimas fatais no trânsito da capital de Mato Grosso do Sul.