O Conselho Médico de Portugal anunciou esta semana a suspensão de um obstetra por um período de seis meses depois que um bebê nasceu sem olhos, nariz e parte do crânio. O médico Artur Carvalho é acusado de negligência, já que os pais afirmam não terem sido informados de que a criança teria essas anormalidades até o momento do nascimento. Depois que o caso do menino Rodrigo foi denunciado, outras queixas surgiram contra o médico.
“Há fortes evidências [de negligência] que podem levar a uma sanção disciplinar”, comentou Alexandre Valentim Lourenço, chefe do conselho médico local, à emissora RTP. Segundo a imprensa portuguesa, Carvalho era apelidado de “Dr. Cinco Minutos”, pois os exames pré-natais realizados por ele não duravam mais do que isso.
O caso Rodrigo
O pequeno Rodrigo nasceu no dia 7 de outubro, no hospital São Bernardo, em Setúbal, cidade a 37 km da capital Lisboa. De acordo com a família do bebê, ao longo do pré-natal, três exames de ultrassom foram feitos – todos conduzidos por Carvalho –, mas o médico nunca apontou a existência de qualquer problema de saúde no feto.
No sexto mês de gestação, a mãe passou por um quarto exame – mais detalhado – em outra clínica. O procedimento indicou a possibilidade de anormalidades na formação do feto, mas ao verificar os resultados do exame, Carvalho negou, dizendo que “às vezes algumas partes do rosto não são visíveis (em ultrassons) quando o rosto do bebê está grudado à barriga da mãe”, contou Joana Simão, tia de Rodrigo, à TVI 24.
Depois que o menino nasceu e as anormalidades ficaram evidentes, o obstetra informou à família que Rodrigo viveria por apenas algumas horas. Duas semanas depois, a criança ainda está viva e em tratamento médico no hospital. Os pais do bebê decidiram registrar uma queixa contra Carvalho por não terem sido informados do problema de saúde do filho.
Outros casos
O Ministério Público de Portugal informou que há pelo menos seis queixas abertas contra Artur Carvalho, envolvendo casos ocorridos desde 2013. Uma denúncia anterior, feita em 2007, foi arquivada pela Promotoria. A criança morreu meses após o nascimento.
Em outro caso, de 2011, o bebê nasceu com o rosto desfigurado, com malformação das pernas e lesões cerebrais graves. Nenhum dos cinco exames feitos pelo médico mostrou o problema. De acordo com o jornal Público, a mãe do bebê, Laura Afonso, disse ter registrado queixa criminal contra o profissional – que, de novo, foi arquivada pela Promotoria.
A decisão foi baseada no laudo do Instituto de Medicina Legal, que descartou a possibilidade de essas malformações serem detectadas em exames pré-natais de rotina. Enquanto isso, a criança, que hoje tem 8 anos, já enfrentou diversas cirurgias, mas ainda não consegue falar ou andar.
Segundo Luís Graça, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia, um exame de imagem deveria ser capaz de identificar uma criança com deformidades. Ele ainda comentou que “muitos” médicos do país realizaram ultrassons obstétricos “sem competência para isso”.
As ultrassonografias na gestação
De acordo com a BBC, a Organização da Saúde (OMS) recomenda que durante a gestação sejam feitos, no mínimo, três ou quatro exames de imagem: dois no primeiro trimestre e um em cada trimestre seguinte.
Já o Ministério da Saúde recomenda que a primeira ultrassonografia seja realizada no começo da gestação (entre cinco e oito semanas). Esse exame inicial tem o objetivo de dar informações básicas, como localização da gravidez, tempo de gestação e quantidade de embriões. A segunda serve para verificar riscos de doenças genéticas e a terceira, para investigar malformação e o gênero da criança.