A taxa oficial de desmatamento na Amazônia Legal divulgada nesta segunda-feira (18) é 42,8% maior do que já apontava o sistema de alertas de desmate. Foram 9.762 km² entre agosto de 2018 e julho de 2019, segundo o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes). Já o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) emitiu alertas para 6.833,9 km².
A diferença entre Prodes e Deter já era esperada por pesquisadores e até mesmo pelo governo. Historicamente, por causa da diferença de propósito e características, o Prodes traz números maiores. Entretanto, neste ano a credibilidade do Deter chegou a ser questionada após o sistema apontar alta expressiva nos alertas, sobretudo em julho e agosto.
Os dois sistemas são mantidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que é um órgão do governo federal. O primeiro sistema, o Deter, emite alertas de desmatamento para orientar a ação de fiscais do Ibama em áreas atingidas. O próprio Deter faz balanços mensais e trimestrais que servem para mostrar a tendência. Já o segundo sistema, o Prodes, consolida as taxas anuais e tem os números divulgados uma vez no ano.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já afirmou que pretende contratar um novo sistema para substituir o Deter. Em julho, Salles disse que o país “precisa ter um sistema melhor de fiscalização”. No entanto, nesta segunda-feira, o ministro esteve presente na apresentação dos dados do Prodes.
Veja abaixo como os alertas preliminares de áreas com sinais de devastação na floresta vêm sendo confirmados ano a ano pelas taxas oficiais:
Comparativo dos balanços Deter x Prodes — Foto: Arte/G1
Alvo de críticas do governo
Em julho deste ano, após a divulgação dos dados sobre alertas de desmatamento do Deter, o presidente Bolsonaro criticou a informação do Inpe e disse que os números sobre o desmatamento prejudicavam a imagem do país.
Ele declarou que o diretor Ricardo Galvão parecia estar “a serviço de alguma ONG” e que o “sentimento” do governo era de que os dados do Inpe “não coincidem com a verdade”. Galvão defendeu a consistência e a metodologia dos dados e, depois, foi exonerado.
Já em agosto, Ricardo Salles afirmou que o governo federal admitia haver desmatamento na Amazônia, mas não do tamanho dos números divulgados pelo Inpe. O ministro afirmou não ter “o menor interesse em esconder os dados”, mas disse que os números “não podem ser manipulados”.
O Ministério do Meio Ambiente chegou a abrir um edital de chamamento público para contratar um novo sistema de monitoramento de florestas para o Ibama, em substituição ao Deter – iniciativa que foi questionada por algumas empresas, porque parecia direcionar a escolha para o sistema da empresa Planet.
Também em agosto, Bolsonaro, Salles e os ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, apresentaram um estudo feito pelo Ministério do Meio Ambiente que apontou problemas nos dados do Deter referentes a junho de 2019.