“Não é que estamos saindo mais nas ruas, é que somente agora vocês estão nos notando”, disse-me um colega idoso. Diante da pandemia do COVID-19, a Ciência tem demonstrado e provado a cada dia que o isolamento social é de extrema importância para todos e não somente para um ou outro grupo de risco. Por que, então, estamos com a impressão de que os idosos estão andando mais nas ruas?
Apesar da sociedade considerar a velhice como a “melhor idade”, eufemizando-a, existe um sofrimento silencioso entre os idosos não somente do Brasil, mas do mundo inteiro. O sistema em que vivemos se acelerou de tal forma que quem não o acompanhou foi silenciado, apagado, abandonado e esquecido. Portanto, infelizmente, o velho até então não existia para a sociedade, era um fardo, uma escória. É muito dificultoso para alguém que possui idade avançada encontrar um emprego, socializar, enfrentar filas de farmácias, mercados, etc.. Como acompanhar o ritmo da cidade, se nem os mais jovens o aguentam? Todos os dias vemos jovens e adultos caindo de sono e de cansaço nos transportes públicos das cidades grandes.
Uma das soluções encontradas por quem tem mais de 70 anos é o suicídio. Segundo o Ministério da Saúde, há uma taxa de 8,9 suicídios de idosos por 100 mil habitantes. A fim de comparação, a taxa nacional, ou seja, que abrange todas as idades, é de 5,5 por 100 mil habitantes. Esse alto índice acontece não somente por causa do abandono familiar, mas também devido ao abandono social, diante do já mencionado ritmo e das exigências da sociedade e do trabalho; e ainda, do abandono político, pois não existem medidas fortes e consistentes de acolhimento e cuidado da população mais idosa, dando-lhes um lar, afeto, medicamentos, etc.. Isso tudo gera para o idoso um sentimento de abandono generalizado e, somando isso à consciência de que lhes restam poucos anos de vida, o suicídio, infelizmente, torna-se uma opção que vem às suas mentes.
A pandemia do COVID-19 fez com que a sociedade e a mídia percebessem os mais velhos. Eles estão saindo mais de casa? Se sim, essa coragem entre os idosos que faz com que eles queiram ir contra o isolamento também é um pedido de atenção, de cuidado, de afeto, assim como o suicídio. Quem sabe, se não cuidássemos melhor deles, eles não sofreriam tanto com esse vírus. O grande problema ainda está na política. Enquanto alguns países já se atentaram para o isolamento social, parte do Brasil, principalmente os que apoiam as opiniões da presidência e refutam a Ciência, querem ainda estar cegos para os mais velhos, a fim de amortecer a futura crise econômica, dando-nos a prova irrefutável de que para eles dinheiro é mais importante que vidas.
* Professor e Palestrante, Doutorando em Comunicação e Pós-graduando em Psicologia Junguiana