Covid-19: Deputado denuncia nepotismo, erros em exames e irregularidades no Lacen

Assessoria

Davi Maia

O deputado estadual Davi Maia apresentou – durante a sessão ordinária da Assembleia Legislativa de Alagoas desta quarta-feira, 22 – uma série de denúncias contra a gestão do Laboratório Central de Alagoas (Lacen).

De posse de documentos, o parlamentar acusou os gestores de ingerência administrativa e apresentou dados que comprovariam nepotismo, testes com resultados errados, demora na divulgação dos laudos e até mesmo listas de prioridades para exames com base na ‘amizade’.

“Há alguns dias venho recebendo, em minha redes sociais, denúncias no que diz respeito ao combate ao coronavírus, em Alagoas. Este é um assunto muito sério que merecer ser tratado com cautela. A denúncia é sobre a ingerência administrativa instalada no Lacen, que é um laboratório especializado e deveria dar base aos exames que estão atestando positividade ou negatividade da Covid-19. Todos os dados e informações anunciados foram disponibilizados pelas nossas fontes. Elas me procuraram com documentos e fotos para embasar a denúncia. Não posso me calar diante as provas que tenho em mãos”, disse Maia.

Lista de prioridade

Segundo a denúncia, no mês de março, havia uma demanda de amostras reprimida de 477 testes, que foram remetidos ao Lacen de Sergipe. No entanto, os exames dos pacientes não foram feitos em Maceió por não estarem na ‘lista de prioridade’.

“Por falha técnica e de estrutura, os funcionários do Lacen tiveram fazer os exames no Lacen do estado de Sergipe. Foram feitos lá 235 exames. Olhem bem o absurdo: estes pacientes nunca entraram nas listas para serem feitos aqui em Maceió pelo simples fato de não fazerem parte da lista de prioridade da governança. Existe uma lista dizendo quem tem prioridade e quem não tem. Tenho duas listas direto dos computadores do Lacen que embasam a politicagem ou a política dentro do laboratório”, informou o parlamentar.

Sem fazer parte da ‘lista de prioridade’, os resultados de alguns pacientes demoraram entre 15 e 30 dias para ficarem prontos. “O pior é que pessoas comuns estão contaminando outras sem saber que estão com o vírus. Isto por não terem nomes importantes ou conhecimento com a governança. Tenho pelo menos três exames – positivos – que demoraram de 15 a 30 dias para saber o resultado. A pessoa fez o exame dia 23 de março e o resultado só saiu no dia 14 do mês posterior. Os resultados confirmados agora, trata-se de exames atrasados. Isto é no mínimo desrespeito com a população de Alagoas”.

Morte pelo novo coronavírus

Sobre a morte do idoso de 63 anos, anunciada pelo governador Renan Filho em 31 de março, como sendo a primeira morte por Covid-19 em Alagoas, o deputado disse ter recebido documentos que fortalecem a tese da família de que houve a liberação do exame com laudo errado. “Resultado errado, sem a contra prova, só pela ânsia do governador para constatar o óbito de covid-19. Tenho e-mail da assessoria técnica do Lacen tratando do óbito e revelando que não teria kits para testar a amostra do paciente que no momento era tratado por todos como positivo. A denúncia diz ainda que a mulher do idoso, que saiu na matéria do governador que tinha saído positivo, ainda nem tinha sido testada quando a morte foi anunciada”, informou.

Equipamentos quebrados

A denúncia relata ainda a falta de kits no Lacen para a realização dos testes para Covid-19 e a existência de equipamentos essenciais para resultados precisos quebrados. “Inclusive, a equipe técnica do Lacen está dizendo que não tem kits para os testes. Chegou ao nosso conhecimento  que não haveria nem 10% dos kits para Covid-19 anunciado pelo Governo. Recebi denúncia de que o termociclador do Lacen, equipamento que serve para manter a temperatura dos exames, está quebrado e quando não estava quebrado funcionava de forma defeituosa. Isto colocou em dúvida todos os exames que ficaram lá armazenados, com a possibilidade de dar inconcluso por não serem  manuseado de forma correta. Os exames estão indo para São Paulo, uma empresa chamada Biomega, mas lá só estariam sendo realizados testes rápidos,  ou seja, há uma probabilidade altíssima de que todos  tenham resultado negativo. Tenho o e-mail do Biomega provando o que a fonte ressaltou”.

Nepotismo

Para o deputado, a denúncia mais grave é a de nepotismo dentro do Lacen. As informações dão conta que pessoas estão sendo nomeadas com ligação política ou familiar no laboratório. “A existência de nepotismo  foi denunciada com nomes e os cargos. Segundo a fonte, foram nomeados por ligação politica em um local que só era para ter técnico. É extremamente danoso”, disse Maia.

O parlamentar divulgou o que classificou como ‘árvore parental’. Em um dos casos, a chefe setorial  do Soroteca tem um filho que trabalha no setor de análise, o esposo é o chefe do setor de Tecnologia da Informação (TI), a filha que é  advogada do Lacen e a nora que é chefe da Imunologia.

Em outra denúncia, o filho da chefe do RH é funcionário do setor de Bromatologia, sua prima chefia o setor de Saúde do Trabalhador, a nora trabalha no Administrativo e o sobrinho é funcionário do Almoxarifado. Até a pessoa que fornece quentinha no Lacen é mãe de uma funcionária.

“Se não tivesse uma pandemia desta ninguém saberia. Só estourou porque o laboratório não funcionou e não está funcionando. Quando a denúncia chegou, me falaram de um funcionário que foi preso na operação Florence da PF e que ele estaria de volta ao trabalho no Lacen. Fui procurar nos arquivos do portal da transparência e não constava o nome dele. Então, o denunciante me mandou uma foto do rapaz trabalhando dentro do laboratório. Reforço que nenhuma destas denúncias foi inventada, estão sendo  apresentadas com vários documentos”, disse.

Diante da situação, o deputado irá entrar oficialmente com pedido de informações e solicitação de oitivas de servidores e ex-servidores do estado para buscar esclarecimentos dos envolvidos. Os documentos também serão remetidos ao Ministério Público Estadual para a abertura de inquérito de apuração.

“As denúncias são graves. Espero que o MP faça sua parte, espero também que a Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa continue ouvindo as pessoas e espero que tenhamos uma gestão efetiva, proba, que pense no funcionando de uma máquina dentro do Lacen”, finalizou.

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