Gabryel da Silva, de apenas três meses de idade, é uma das mais de 50 crianças pernambucanas que foram contaminadas com o novo coronavírus. Ele é o caçula de uma família que, além de lidar com as dificuldades do tratamento da doença Covid-19, precisou enfrentar situações de hostilidade e falta de empatia e solidariedade por parte de vizinhos.
Os pais dele, Ednaldo Heleno da Silva, de 28 anos, e Ana Paula Barboza de Souza, de 27 anos, vivem com os cinco filhos em uma casa de dois cômodos no município de Moreno, no Grande Recife. Juntos há oito anos, eles também são pais de Marcos, de 6 anos; José Vinicius, de 4 anos; João Vinicus, de 3 anos; e Yasmin Vitória, de 1 ano.
Além do filho mais novo, Ana Paula também foi internada com Covid-19. Os dois receberam alta após cinco dias, mas todos da família já apresentaram sintomas. A prefeitura de Moreno alugou uma casa para que eles se instalassem em condições adequadas de higiene, mas a família foi alvo da hostilidade de moradores da vizinhança na chegada à nova morada.
Em um dos vídeos que circularam na internet e foram enviados para o WhatsApp da TV Globo, aparece uma mulher dizendo: “Tinha que levar para a sua rua, colocar lá na sua casa. Aqui tem criança pequena, aqui tem gente de idade, a gente não aceita”.
Em outra gravação, os moradores ameaçaram fechar a rua em protesto e se juntaram para se queixar, dizendo que não aceitam a família morando no local e falando sobre as crianças e idosos que residem naquela rua.
Em seguida, alguém rebateu no vídeo. “É devido as condições precárias que a família está. São humanos. É se colocar no lugar do outro. Pode acontecer com todos nós”. A voz que defendeu a família de Ednaldo e Ana Paula é da superintendente de Saúde de Moreno, Ana Araújo.
Por conta da reação dos moradores, a família não quis ficar no imóvel. Voltaram para a casa onde moravam antes, com uma cama de casal e uma de solteiro para as sete pessoas.
“Eles vivem numa situação de vulnerabilidade extrema. A gente teve a preocupação de alugar uma casa pra tirar daquelas condições, para dar acesso a higiene. Mas quando a gente foi levar para lá, a população não quis deixar”, contou Ana Araújo.
Ana Paula contou que chorou muito com o bebê no colo e disse ter se sentido humilhada. A superintendente não aguentou e chorou junto.
“Eu ainda fui lá, conversei com a população, chorei também por não acreditar em tanta falta de humanidade. A guerra é uma só, é contra o vírus”, afirmou a superintendente de Saúde de Moreno.
Ednaldo disse que entrou em desespero quando recebeu a confirmação de Covid-19 para o filho caçula. “O pessoal da Saúde veio aqui e viu que o ambiente não era adequado para as crianças. Mas quando eles conseguiram uma casa, a gente quase foi apedrejado pela população. A gente não quis ficar”, declarou.
A família voltou para a pequena casa que ele construiu em um terreno que ganhou da mãe. “Já estava em um problema e ia entrar em outro no ambiente onde a gente ia. Desde moleque, eu luto para construir essa casa. Até passei fome. As coisas aqui são difíceis, e eu sei que tem gente pior, mas foi muito difícil o que a gente passou. As humilhações”, afirmou.
Covid-19 em Pernambuco
Foram contabilizados, nesta quarta-feira (29), mais 470 novos casos da Covid-19 em Pernambuco e 30 óbitos de pacientes com a doença. Com isso, o estado tem 6.194 casos confirmados e 538 mortes pela doença provocada pelo novo coronavírus.