O presidente Jair Bolsonaro voltou a participar, no fim da manhã deste domingo (3), de uma manifestação antidemocrática e inconstitucional em Brasília, contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso.
Em discurso aos manifestantes, o presidente – num tom de desafio aos demais poderes – pediu a Deus para não ter problemas nessa semana porque, segundo afirmou, “chegou ao limite”. Bolsonaro não esclareceu o que isso significa.
O protesto contra o STF e o Congresso ataca dois pilares do sistema democrático, o que torna fora da lei os pedidos de fechamento. Os atos também criticaram o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro.
Faixas pediam o fechamento do STF e “intervenção militar com Bolsonaro”, o que é considerado apologia contra a democracia e, portanto, ilegal e inconstitucional.
A manifestação começou com uma carreata na Esplanada dos Ministérios e terminou com aglomeração na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto. Bolsonaro foi ao local acompanhado da filha, não usou máscara e transmitiu ao vivo a participação dele, em rede social.
Sem citar diretamente a decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes, que suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro disse que “não vai mais admitir interferências”.
“Nós queremos o melhor para o nosso país. Queremos a independência verdadeira dos três poderes e não apenas uma letra da Constituição, não queremos isso. Chega interferência. Não vamos admitir mais interferência. Acabou a paciência. Vamos levar esse Brasil para frente.”
A decisão do ministro Alexandre de Moraes se baseou em análise prévia de provas que indicaria que a nomeação de Ramagem representava um desvio de finalidade, com o objetivo de interferir em investigações da Polícia Federal.
No discurso, Bolsonaro disse que as Forças Armadas estão com ele e que “chegou ao limite”, que “não tem mais conversa’ – sem explicitar o que isso significa, e o que pretende fazer caso haja novas decisões judiciais sobre atos da presidência da República considerados ilegais.
“Vocês sabem que o povo está conosco, as Forças Armadas – ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade – também estão ao nosso lado, e Deus acima de tudo.”
“Vamos tocar o barco. Peço a Deus que não tenhamos problemas nessa semana. Porque chegamos no limite, não tem mais conversa. Tá ok? Daqui para frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição. Ela será cumprida a qualquer preço. E ela tem dupla-mão. Não é de uma mão de um lado só não. Amanhã nomeamos novo diretor da PF.”
Ao longo da manifestação, Bolsonaro interagiu com os manifestantes. Em vários momentos ele desceu, deu as mãos e cumprimentou as pessoas.
Mais tarde, também permitiu que uma criança, que estava com a máscara no queixo, fosse até a rampa, onde Bolsonaro a pegou no colo.
Ao lado do presidente, estavam deputados federais. Entre eles, o filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O presidente voltou a criticar o isolamento e medidas restritivas adotadas por governos locais, uma orientação que é dada pelos órgãos internacionais de saúde.
O Brasil chegou a 97,1 mil casos confirmados da infecção e 6.761 mortes, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde neste sábado. O número de mortes já ultrapassou os dados de China e Irã.
Agressão a jornalistas
Durante o ato, jornalistas de diversos veículos foram agredidos e hostilizados por participantes do protesto. Um motorista do “Estadão”, que dava apoio à equipe de reportagem, foi atingido por uma rasteira.
Ao todo, um fotógrafo, dois jornalistas e o motorista do jornal foram hostilizados e agredidos, verbal ou fisicamente. Segundo o veículo, eles deixaram o local para uma área segura, buscaram a ajuda da Polícia Militar e passam bem.
Além do “Estadão”, houve agressão e ofensa a equipes da “Folha de S.Paulo”, do jornal O Globo e do site “Poder360”.
Em nota, a Federação Nacional dos Jornalistas condenou o episódio. “Repudiamos todas elas e pedimos o apoio da sociedade ao jornalismo e aos jornalistas”, diz o texto.
“Esses atos violentos são mais graves porque não há, de parte do presidente ou de autoridades do governo, qualquer condenação a eles. Pelo contrário, é o próprio presidente e seus ministros que incitam as agressões contra a imprensa e seus profissionais”, afirmou a Associação Brasileira de Imprensa em comunicado.